25 De Abril Relembrado Em Musical Que Fala De Amor, Democracia E Liberdade

“Esta é a madrugada que eu esperava…” e “Fascismo Nunca Mais!” são as duas frases de luta que nos ficam a ecoar na cabeça, no final do espetáculo A Madrugada Que Eu Esperava, que estreou esta quarta feira, no Teatro Maria Matos, em Lisboa. 

Em ano que se assinalam 50 Anos de 25 de Abril de 74, Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes surpreendem-nos com um musical, que pretende falar e dar a conhecer às gerações mais novas (mas não só) o que foi e a importância do 25 de Abril de 74, subtilmente, através de um romance.

A Madrugada Que Eu Esperava conta-nos a história de amor, de encontros e desencontros de Olívia e Francisco Tavarela, ao longo de cerca de 50/53 anos, num Portugal em mudança, ao mesmo tempo que relembra alguns momentos e situações marcantes da nossa História mais recente.

O espetáculo está dividido em três partes. Começa a narrativa em 1971, com “A Cantiga é Uma Arma”, num Portugal ainda a viver num regime fascista, com guerra a decorrer no Ultramar, em que muita coisa era proibida, e a liberdade de expressão era um sonho, tal como a igualdade e os direitos para as mulheres e para as crianças. Dois jovens: Olívia – uma idealista e Francisco – um aspirante a autor de comédias, filho de um inspetor da PIDE, conhecem-se e apaixonam-se, mas o momento não é o melhor para viverem esse amor e as contigências do mundo em que vivem separa-os.

Avançamos no tempo para 1974, Abril, a madrugada da revolução: Segunda Parte – “Somos Filhos da Madrugada”. Olívia e Francisco reencontram-se em plena Revolução, falam do passado e do que fizeram enquanto estiveram longe. Ele na guerra, ela fugida em Paris, como tantos outros portugueses.

Um ano passa, e chegamos à terceira parte do espetáculo: “Um verso em branco à espera do futuro”. Estamos em 1975, depois da queda do Estado Novo, e da ascenção de um novo regime, os apaixonados finalmente vão poder viver o seu amor, mas o dia a dia, a realidade, e a construção de um novo regime político intermetem-se no romance. A jovem idealista continua a lutar pela construção do regime democrático, enquanto o jovem artista sonhava em construir uma família e afirmar-se como autor de comédia, as divergências sobrepõem-se ao amor que os une e leva à separação”.

A peça termina com um reencontro, 50 anos depois, e encontramos os nossos personagens, que além de protagonistas de uma história de amor, representam os inúmeros jovens anónimos que lutaram pela revolução e pela instituição da democracia, a quem devemos a liberdade e os direitos que desfrutamos hoje em dia, e que agora nos são naturais.

E como se diz na peça:

O direito à Liberdade implica o dever da Memória!

Um musical forte, comovente, inspirador, e com uma grande componente didática, como nos referem as próprias Carolina Deslandes e Bárbara Tinoco.

Em conversa com o CH, depois da estreia, Bárbara Tinoco (uma estreante nestas andanças da representação) salienta que: “O espectáculo é muito importante por isso, para dar a conhecer e falar sobre o que foi a Revolução e o Pós-25 de Abril, mostrar o que era não ter Liberdade, mostrar os medos que se tinham naquela altura, e sem ser uma palestra”, explica em relação à importância e papel do musical junto dos jovens. “No fundo, pretendemos celebrar o 25 de Abril e a Liberdade, através de um texto explicativo e interventivo”, conclui.

Uma ideia reforçada por Carolina Deslandes, que também fala na ligação e participação das duas neste projeto: ” Nós damos a cara porque nos identificamos com ele e com o que ele apresenta. A Liberdade trouxe-nos coisas maravilhosas, e esta é uma forma de a honrar e usar a memória, para que aquelas situações não se voltem a repetir, por isso, sinto-me muito honrada de fazer parte desta peça”, partilhou a artista.

Motivos que fizeram as duas jovens artistas, bem conhecidas do nosso panorama musical atual, também participar na “construção” da peça, compondo assim as músicas e as canções que se ouvem ao longo do espetáculo.

Embora seja uma peça sobre a Revolução, não são as canções de Zeca ou Paulo de Carvalho que se ouvem, mas de Deslandes e Tinoco. São delas as canções interventivas, de contestação, amor e esperança como “Esta é a madrugada que eu esperava… ” – o grande hino deste musical.

Para além de Bárbara Tinoco e Carolina Deslandes nos papéis das irmãs  Olivia e Clara (papéis que as duas alteram entre elas de sessão para sessão), o espetáculo conta ainda com as participações de Diogo Branco, Brienne Keller, JP Costa, José Lobo, Mariana Lencastre, Maria Pinto, Jorge Mourato, José Lobo, Dinarte Branco, e a veterana Maria Henrique (que também é responsável pela direção de atores) e uma banda ao vivo.

O texto original é de autoria de Hugo Gonçalves e a encenação é de Ricardo da Rocha.

Um musical que quer por as pessoas a pensar, a lembrar e “dar valor à riqueza que temos e como vivemos – A Democracia” -, para maiores de 12 anos, e que pode ser visto no Teatro Maria Matos, até 28 de abril, de quarta a sábado, às 21h00, e domingos às 17h00. Os bilhetes estão à venda nos locais habituais, online e no local, e custam entre 20 e 25 euros.

A Madrugada Que Eu Esperava segue depois para a Invicta, onde vai subir ao palco do Coliseu do Porto, onde vai estar em cena a 30 e 31 de maio, às 21h00.

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.

Sophia De Mello Breyner

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