A decisão, a lição e a visão de Benjamin Clementine vão ficar na memória dos que assistiram ao seu concerto, neste último dia de festival Super Bock Super Rock. Os regresso dos The The foi outro sonho cumprido. Julian Casablancas & The Voidz, o último grande nome do cartaz, foi um erro de casting.
O último dia de festival Super Bock Super Rock foi o menos concorrido da edição. Mais agradável por isso, para quem quis usufruir das experiências disponíveis, sem grandes tempos de espera. A facilidade de circulação no recinto e a boa programação permitiram a que se assistisse a muito dos concertos que iam decorrendo nos diferentes palcos. Na Altice Arena, duas atuações dos La Fura Dels Baus, concentraram as pessoas que, mesmo num festival de música, não quiserem perder estes grandes mestres da arte cénica.
Foi por isso, com algum desapontamento que as pessoas foram abandonando o recinto à medida que decorria o concerto de Julian Casablancas & The Voidz. O som estava insuportável. Ensurdecedor, distorcido. A cada início de nova música, e sem alterações no registo, a grande maioria das pessoas acabou mesmo por sair. Mais do que uma questão de estilo musical, e o Super Bock Super Rock trouxe um leque variado, ficou a sensação de que a banda não teve qualquer interesse em cativar as pessoas. O público português, habitualmente tolerante, virou costas, guardou as memórias dos Strokes e perdeu a esperança nesta reinvenção do rock de Julian Casablancas.
A fasquia também estava alta, com o concerto anterior de Benjamin Clementine. Poderoso, o músico que há tão pouco tempo havia tocado sob a pala do antigo pavilhão de Portugal, ao final do dia. E que antes havia mostrado o seu talento como músico de rua.
Benjamin Clementine tem regressado a Portugal de forma relativamente regular e é evidente a sua evolução. Em palco, percebe-se que já se sente seguro, perante uma grande plateia. A sua voz é inigualável. Oscila dos graves aos agudos, prolongando-os de forma quase sobre-humana. Este sábado abriu com “Ave Dreamer”, do mais recente trabalho I Tell a Fly. Ao longo de todo o concerto, passaram vídeos chocantes de realidades da Europa no início do século XIX. Uma chamada de atenção que veio também com este último trabalho para a crise social, política e humanitária que se vive atualmente. Continuou para “One Awkward Fish”. Acompanhou-o, neste concerto, um quinteto de cordas, que tornou o som ainda mais especial. O músico, fez um ar malandro quando apresentou “Nemesis”, “provavelmente a razão de estarem aqui”. É, de facto, uma das suas canções mais conhecidas, mas foi servida com um arranjo muito diferente do original.
Chegou depois a surpresa da noite, que já havia sido sussurrada nos media: um dueto com a fadista portuguesa Ana Moura em “I Won’t Complain”. Um bonito enlace de vozes para palavras certeiras. Depois anuncia Seu Jorge “nos vossos sonhos”! E arranca muitas gargalhadas no ambiente intimista que criou. A sala estará a menos de metade e a sua voz abraça todos. “Condolence”, “London”, “Phantom of Aleppoville” e “Jupiter” vão conquistando alma a alma. No início desta última, pede silencio e canta sem o apoio dos músicos.
Despediu-se com “Adiós”, ele os músicos repetiram os refrão à exaustão. Benjamin desceu mesmo do palco, descalço, para junto do público, e procurou quem lhe fizesse frente. “The decision was mine/ Let the lesson be mine/ The vision is mine.”
Isaura abriu os espectáculos no palco EDP pelas 17h30, acompanhada de um grupo de público que a seguiu e cantou ao ritmo das suas melodias. Público embalado ao som de “I need Ya” e “Change It”estavam lançados os dados para o último dia dedicado às composições musicais no Festival SBSR. Trouxe um convidado, Diogo Piçarra, com quem gravou um novo tema “Closer”, aqui apresentado. O tema faz parte do álbum de estreia de Isaura: Human. Juntos cantaram ainda “Meu é Teu” um tema dele, em que ela participa.
Seguiram-se no Palco EDP BaxterDury. A voz deste britishman encheu a alma do palco. Ao som de “Trellic” e “Cocaine Man” viajámos no tempo num jogo de vozes que nos brindou com um revivalismo de indie rock produzido e arriscado nos anos 80. Com o seu ar de inadequateman, percebemos que Baxter não está no negócio de família, sabe o que faz e com que sentido, e fá-lo distintamente.
Os ânimos aqueceram para receber no Palco EDP a compositora e intérprete Sevdaliza. Apresentou-se de forma sexy e provocante, assim cantou e foi acompanhada pelo público que entoou as suas músicas e seguiu as mensagens provocadoras. Começou o concerto numa dança calma e “escondida” no microfone de flores e foi um crescente de presença em palco. O público ovacionou a diva do pop experimental pela sua independência, coragem e em simultâneo humildade – afinal é “nada mais do que humana”, como presentou o público ao dizê-lo em português.
A fechar o palco EDP os renascidos The The. Esperados por muitos cuja adolescência foi vivida com a banda sonora destes rapazes ingleses. Com o vocalista e membro que permanece Matt Jonhson, prometeu a saída de disco novo. No entanto, o concerto, viajando por décadas de canções em diferentes estilos, refletem acima de tudo a visão que Matt tem do mundo e de si próprio. Com um público fiel e bem conhecedor do trabalhos destes rapazes, houve quem se fosse juntando ao concerto embalado por um som familiar, de sempre, que reflete o que podemos chamar de música alternativa. Apesar da paragem de longos anos pelas lides de palco, os The The mostraram que isto de ser músico profissional é para fazer com gosto, elegância, sem esforço, como quem sabe o que faz.
No palco LG os Sunflowers iniciaram com bastantes problemas técnicos e dificuldades no som.
Keep Razors Sharp obrigaram a um revivalismo, tal como se viria a viver com os The The mais tarde no Placo EDP. A pop dos anos 80, as músicas e batidas que tanto se ouviram na rádio, com claras influências do psicadelismo dos anos 80 e rock, estes rapazes que se juntaram nos tempos livres, trazem todas as influências e vivências de outros projetos de que fazem parte. O som que compõe é-nos sempre familiar, agradável e assim foi o concerto com um público deveras entusiasta por estar a ouvir “real rock”.
Este palco fechou com os Pop Dell’Arte. Banda de músicos nacionais, criada nos anos 80, com larga experiência, foi sempre uma revelação na diferença musical. A sua presença em palco é sempre caraterizada pela figura enigmática de João Peste. O público foi fiel à viagem que fizeram por contra mundum com os históricos Pop Dell’Arte.
O Festival Super Bock Super Rock regressa a Lisboa, em 2019, nos dias 18, 19 e 20 de julho.