As palavras de Fernando Pessoa, cantadas à capela atrás das cortinas encarnadas com o nome da Aldina Duarte projetado em luz, abriram o concerto:
“Cai chuva do céu cinzento
Que não tem razão de ser.
Até o meu pensamento
Tem chuva nele a escorrer.
Tenho uma grande tristeza
Acrescentada à que sinto.
Quero dizer-ma mas pesa
O quanto comigo minto.
Porque verdadeiramente
Não sei se estou triste ou não.
E a chuva cai levemente
(Porque Verlaine consente)
Dentro do meu coração.”
Na celebração dos 20 anos de carreira, comprovou-se quem diz que “conhecer Aldina é ouvi-la cantar”. Foi aberto o desfile de fado, excecionalmente tocado por José Manuel Neto na guitarra portuguesa e Carlos Manuel Proença na viola.
Com os convidados Ana Isabel Dias na harpa, Julio Resende ao piano e os dois músicos que fazem parte da alma de Aldina porque estão juntos, todos os dias, na Casa de Fados onde trabalham: Paulo Parreira e Rogério Ferreira, Aldina foi alternando os acompanhamentos magestrais dos fados que cantou. Palavras nostálgicas e melancólicas, pronunciadas com alma e clareza, caracterizam o repertório.
Confessou sentir-se abençoada por estar a celebrar este caminho que lhe deu sentido à vida. Em tom de brincadeira, disse que só volta a celebrar quando fizer 50 anos de carreira. Quanto ao nome do espetáculo -“o que nunca direi”- disse-o a cantar.
Nota: O C&H não foi autorizado a fotografar o espetáculo.