Alfama encheu-se para 1ª edição de Festival do Fado

Reportagem de António Silva, Elsa Furtado, Tânia Fernandes e Francisco Padrão Mota

Comentava-se pelas ruas, apinhadas de gente, que até parecia que estávamos em plena época de Santos Populares. A verdade é que a enchente de pessoas que deu vida a Alfama, este fim de semana, veio para participar no Caixa Alfama, o primeiro Festival de Fado em Lisboa. Um cartaz com mais de 40 músicos, de diferentes gerações, provou que o Fado está mais vivo que nunca.

Ao final do dia de sexta-feira, a marcha de Alfama a desfilar, frente ao Museu do Fado, anunciava grande festa. A azáfama era grande, com filas para adquirir bilhetes, questionar horários, colocar pulseiras de acesso aos recintos. Os menos habituados a estes procedimentos habituais nos festivais, olhavam com surpresa para o pulso e sorriam.

Com palcos espalhados por todo o bairro, as ruas tornaram-se apertadas para as deslocações. “Festivaleiros” à mistura com turistas percorriam becos e vielas. De mapa na mão e recorrendo à ajuda dos voluntários espalhados pelo grande labirinto popular, a afluência distribuiu-se pelos dez espaços do Festival. Igrejas, sociedades recreativas e espaços improvisados viveram um corrupio de entradas e saídas.

Kiko, na Igreja de São Miguel, foi o primeiro a pegar no microfone. Este espaço de culto tornou-se pequeno para acolher todos os interessados. À porta espreitavam residentes curiosos, espantados por verem a sua igreja de portas abertas à noite. Querem entrar, mas não percebem porque razão o acesso lhes é vedado. A intervenção dos voluntários, mas uma vez, a explicar com toda a paciência que ali está a decorrer um concerto que faz parte de um Festival. A dúvida na cara de quem os ouve a explicação mas não entende. Resilientes, deixam-se ficar a ouvir, afinal de contas o som faz-se ouvir nas ruas, quase tanto como dentro dos recintos.

Um pouco abaixo, Luis Caeiro, no Grupo Desportivo Adicense agradecia a oportunidade de estar presente nesta iniciativa. Na sala predominava o silêncio de respeito por uma arte considerada maior nesta casa.

Entrar na esplanada do restaurante do Museu do Fado para assistir ao concerto de Rodrigo Costa Félix e Marta Pereira da Costa anunciava-se tarefa quase impossível, mas a rotatividade de pessoas no evento permite que cada um veja um pouco de cada um dos concertos. E claro que vale sempre a pena ouvir a “Rosinha dos Limões” com toda a ternura dos olhares cruzados entre os protagonistas.

No Palco Caixa, alinharam-se os nomes fortes do cartaz. Gisela João, a mais recente revelação do Fado abriu a noite e provou que a simplicidade cativa, mas um talento maior explica a razão de um sucesso a crescer exponencialmente. É um fado renovado, alegre, mas sentido.

Ao lado, no Pavilhão Arena, o consagrado Rodrigo reuniu os que se mantém devotos à causa original. E convidou todos a acompanharem-no trauteando os seus grandes êxitos.

No Palco Santa Casa, era Alexandra, (quase uma figura do Bairro) emocionava quem a ouvia, e prendia os moradores à janela, fazendo coro nos temas mais conhecidos.

Ana Moura, uma das fadistas da nova geração com maior notoriedade, cumpriu as expectativas e entregou-se ao público com temas que já todos sabem na ponta da língua.

Coube a Camané fechar este palco, num recinto repleto de gente. Curiosidades à parte, depois da ronda por todos os palcos, é ao rio que todos os caminhos vão dar.

Depois de uma grande afluência no primeiro dia, (a organização estima que passaram pelo Festival cerca de 5 000 pessoas por dia), a noite de sábado prometia.

Na Igreja de S. Miguel atuaram José Gonçalez e depois Filipa Cardoso. E foi de jovens talentos que se fez a noite. Ana Lains, Raquel Tavares, Ana Sofia Varela e Joana Amendoeira foram outras das vozes femininas que abrilhantaram a noite.

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No Palco Caixa, reservado aos nomes mais conhecidos, a noite foi de Cuca Roseta e do alentejano António Zambujo, que com o seu estilo descontraído e divertido deu um dos concertos mais apreciados pelo público neste segundo dia.

Destaque ainda para António Pinto Bastos, que atuou numa lotada Igreja de Santo Estevão, ou para Jorge Fernando.

Pelas ruas o ambiente era animado, misturando-se os fãs do fado com os participantes da Lisbon Night Run. Moradores à janela aplaudiam os seus artistas favoritos. E entre gritos de “Ah Fadista”, e “Alfama é Linda”, também se ouvia de boca em boca: “A ver se para o ano há mais!!!”, ” E nesta primeira edição …” expressando assim o desejo de ver repetir esta iniciativa, que encheu as ruas e becos de Alfama, com gente de todas as idades.

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