Em brasa, foi como os Kings of Leon deixaram o público quando se retiraram do palco depois de “Sex on Fire”, no final do último dia do Festival Optimus Alive. De acordo com a organização, passaram pelo recinto, durante os três dias do evento, cerca de 150 mil pessoas de 45 nacionalidades. A qualidade do cartaz e a organização colocam este festival entre os melhores do mundo.
Um cartaz de luxo, com um palco secundário que por si só merecia um festival próprio, o Passeio Marítimo de Algés foi o ponto de encontro de quem gosta de música, mas também de quem gosta de conviver e se quer divertir. Uma viagem por todos os palcos levou-nos aos quatro cantos do mundo. Mas já não é só de música que se respira aqui. Ainda que a programação não permita tempos de ócio com a sobreposição de concertos, muitos são os festivaleiros que dedicam parte da estadia no recinto em atividades lúdicas. O “apanha a t-shirt que é disparada a grande velocidade pelo ar”, o “salta no trampolim para “dar 5” a uma mão de esponja fixada lá bem alto”, ou “entra na camera de vidro e tinge-te de pós coloridos” juntamente com a possibilidade de conquistar um brinde rivalizam com a animação nos palcos.
A boa disposição e a descontração reinam no Festival Optimus Alive. Há seguranças a relembrar os limites de quem resvala no excesso, pessoas que asseguram a limpeza permanente do recinto, voluntários prontos a orientar quem se desorienta. Um forte cartaz musical é o objetivo deste Festival, no entanto, não deixa de ser interessante ver como a organização tem consolidado a estrutura de forma a garantir um nível de conforto mínimo a quem praticamente se muda para dentro do recinto durante os três dias.
Dia 1
Se há coisa que os portugueses sabem fazer é receber bem. E isso fez-se sentir no primeiro dia, por todas as bandas que passaram pelo palco principal. Numa noite em que o público foi sendo borrifado pela mão de S. Pedro, sem nunca se chegar a molhar verdadeiramente, fez-se sentir a emoção junto ao palco Optimus. Os Stereophonics mostraram-se surpreendidos com a quantidade de pessoas que os acompanharam neste arranque de Festival. Biffy Clyro perceberam que nem precisavam de ostentar as tatuagens porque o público sabia as letras dos seus temas. Os Two Door Cinema Club, que já por cá estiveram, comoveram-se com a receção. “This is the life”, “Come back home” e “Something good can work” foram temas que fizeram o público vibrar. Um início mais lento de “What you know” afinou a voz dos presentes que fazendo o primeiro grande coro coletivo deste Festival.
A paisagem visual do dia ficou colorida de laranja, fruto dos chapéus moldáveis distribuídos pelo grande patrocinador do evento. Dando azo ao estilista que cada um tem dentro de si, atesta-se a capacidade criativa do público festivaleiro pelos modelos tão diferentes que circulavam entre a assistência.
Billie Joe dos Green Day entregou-se de corpo e alma, em atos públicos de devoção. Num alinhamento recheado de temas antigos, muito próximo daquele que se encontra registado no disco de 2005 “Bullet in a Bible”, os Green Day fizeram a vontade àqueles que queriam ouvir temas mais antigos como “Boulevard of Broken Dreams”, “Let Yourself Go”, “Wake Me Up When September Ends”, “When I Come Around”, “Welcome to Paradise”. Num registo entre o punk a abrir e as canções mais melodiosas, satisfizeram um público que nunca tinha tido oportunidade de os ver por cá. Pelo meio, “mima” a plateia com banhos de água de mangueira e parte para o Carnaval com jatos de rolos de papel higiénico. Uma atuação que contou ainda com um inesperado convite a um membro do público, a quem foi entregue a guitarra no tema “Longview”. O dia terá ficado claramente ganho para o rapaz que não só partilhou o palco com a banda como também levou a guitarra que Billie Joe lhe ofereceu no final do improviso.
A romaria também se fez sentir no palco Heineken, principalmente durante a atuação dos Vampire Weekend. Num espaço que foi apertado para tanta presença a banda trouxe temas do recém editado “Modern Vampires of the City”.
Dia 2
A faixa etária subiu neste segundo dia. Os Depeche Mode, apesar de continuarem a editar novos discos, tiveram a sua época de ouro dos anos oitenta. Quem atravessou a adolescência nessa década marcou presença, sábado, no Festival Optimus Alive. E Dave Gahan deu-lhes tudo o que pretendiam: “Personal Jesus”, “Walking in my shoes”, “Just can’t get engouh”, “Enjoy the silence” sem esquecer “Question of Time“. Os anos passaram por eles, não há dúvida. Mas as vozes mantem-se. Tanto no caso de Dave Gahan, como de Martin Gore, que por duas vezes pegou no microfone.
Apresentaram um espetáculo maduro e bem coreografado. Poses ensaiadas em posturas provocatórias. Irrepreensível componente multimédia com belíssimos vídeos a acompanhar as canções. Os Depeche Mode amadureceram, transformaram-se numa grande banda que sabe estar. Mas para quem os viu, nos anos 90, em Alvalade, a sensação é que se perdeu muito pelo meio. Numa espécie de “é bom, mas já foi muito melhor” e com toda a nostalgia pelo meio, deixou de surpreender.
Uma coisa é certa, o recinto passou a ser um mar de gente.
Antes, os Editors seduziram com a voz forte de Tom Smith. “Munich” interrompeu as conversas de circunstância, de quem se ia chegando ao palco principal, tendo posto todos aos saltos. Foram também bem recebidos temas como “The Racing Rats” e “An end has a start”. Do novo álbum “The Weight of Your Love” ouviu-se “A Ton of Love” e “Honesty”.
No final de Depeche Mode, a romaria deslocou-se para o palco Heineken, para ouvir Legendary Tigerman.
Dia 3
Às 19h45 do último dia do Festival Optimus já o palco Heineken rebentava pelas costuras. Culpa dos islandeses Of Monster and Men que proporcionaram momentos de frenética dança folk com o ponto alto em “Little Talks”.
O psicadelismo dos Tame Impala no palco principal fez furor, enquanto que, em simultâneo, as atenções se dividiram com o palco Clubbing Optimus pela atuação de Blaya, a cantora dos Buraka Som Sistema.
O dominicano George Lewis Jr é a alma de Twin Shadow, a banda norte americana que se fez ouvir de seguida no palco Heineken. Criou grande cumplicidade com o público ao ponto de, numa espécie de “só aqui entre nós que ninguém nos ouve” ter confessado “Vocês sabem que são muitos melhores que os espanhóis?”. Os esperados aplausos foram cortados pelas valentes assobiadelas, dado o número de nuestros hermanos presentes. Um concerto agradável em que o coro se fez ouvir com o tema “Five seconds”.
E foi cada vez mais complicado arranjar espaço, frente ao palco Heineken, quando entraram os ALT J. O público não queria mesmo perder estes britânicos que deixam triângulos a assinalar todos os pontos de passagem e cuja popularidade tem vindo a crescer por cá.
Os Kings of Leon subiram ao palco Optimus às 23h00, num espetáculo que encerrava a digressão da banda. Os irmãos Followill apresentaram um alinhamento certinho, num concerto sem surpresas. Eram esperados em território nacional há algum tempo, pois a primeira passagem pelo nosso país era anterior à saída do álbum “Only By The Night” que trouxe temas como “Closer”, “Use Somebody” ou “Sexo n Fire” muito esperadas e ouvidas neste terceiro dia de Festival. Pela reação geral, aos primeiros acordes de qualquer um destes temas, o público terá dado como bem empregue cada tostão investido neste evento. Parcos em palavras, apresentaram um espetáculo carregado de riffs, mas que, na verdade, em que pouco que se distingue do registo em cd.
O espaço no palco Heineken voltou a encher para os Band Of Horses. Braços no ar que “The Funeral” é tema para entoar bem alto enquanto os corpos embalam.
E depois de mais uma “edição em grande”, segundo a organização, foi já anunciada a data da edição de 2014: dias 11, 12 e 13 de julho, de novo no Passeio Marítimo de Algés.