Foi o primeiro de nove espetáculos agendados para a Altice Arena, que trazem os clássicos para um ambiente de festa. André Rieu retira a carga solene e sisuda da música erudita e devolvê-la ao público, com alegria, fazendo com que todos a desfrutem. De pé e a dançar, foi como terminou a primeira noite de baile em Lisboa.
Quem o conhece, da transmissão televisiva de concertos de Ano Novo, não se desiludiu com esta apresentação ao vivo. André Rieu consegue mesmo criar empatia com o público. Deixar as pessoas comovidas com as suas interpretação de temas clássicos, mas também com os arranjos para orquestra de canções mais contemporâneas. A noite foi longa, mas nada cansativa. O maestro vai intercalando os temas com algumas palavras em que partilha, sempre com muito humor, momentos marcantes da sua carreira. Acrescenta, por vezes, uma explicação acerca da escolha do tema ou revela mais sobre a sua ligação a alguns dos músicos que integram esta sua “família”. A Johann Strauss Orchestra, que o acompanha, é composta por de 60 pessoas, com muito talento.
Começou por recordar que há vinte anos que não tocavam em Lisboa, mas, sempre com um gesto de simpatia, disse que sabia que o público que melhor canta no mundo vive aqui. Entre gargalhadas, as plateia juntou-se-lhe no coro de “Volare”. Os membros da orquestra apresentam-se de forma sumptuosa e no ecrã de fundo, vão alternando imagens de bonitas paisagens italianas. Mas a forma informal com que André Rieu vai guiando o espetáculo, faz com que o ambiente se torne quase familiar. Apresentou os três tenores que os acompanham e o público mergulhou na intensidade de “Nessun Dorma”, da ópera Turandot, escrita por Giacomo Puccini. O ambiente aliviou depois, com um belíssimo arranjo de “Concerto De Aranjuez Adagio” para orquestra, carrilhão e coro. Momentos de emoção e comoção, que se voltaram a sentir, mais tarde, durante a interpretação de “Hallelujah”, com a participação de três efusivas sopranos, “The Lonely Shepherd” em flauta (interpretado pelo seu colega e amigo de longa data) ou mesmo “Ode à Alegria” de Beethoven com letra de Schiller.
Numa abordagem próxima da fronteira com a espiritualidade, André Rieu falou sobre a importância da música na vida das pessoas. À partilha de mensagens de pessoas, que lhe escrevem a agradecer a música que lhes dá, acrescenta a sua crença nos fins terapêuticos da música “Nada toca tão fundo na nossa alma como a música”. E a música aqui não se resume a um estilo. Ouviu-se o tango mexicano “Olé Guapa”, mas também “You Raise me Up”, a melodia foi composta por Rolf Løvland, que já teve direito a inúmeras versões. O público aplaudiu de pé e foi difícil depois voltar a ocupar o assento.
Particularmente envolvente foi a sequência de temas para os quais convidou um grupo de músicos que conheceu, há anos, nas ruas da sua cidade, Maastricht. Uma intensa trovoada musical envolveu a Altice Arena, ao som de música tradicional da Rússia.
Um dos momentos altos da noite foi o convite para dançar a valsa, ao som de “Danúbio Azul” de Johann Strauss. Os casais aceitaram o desafio, as luzes da plateia acenderam-se e rodopiou-se nos corredores laterais.
Quando anunciou a última atuação da noite, ouviu-se um ruidoso “Ohhhhhh”. Mas com o encore generoso que se seguiu, ninguém saiu do recinto desiludido. Ouve balões coloridos a cair do teto, brindes com espumante, uma atrevida pianista a surpreender com uma atuação muito fora da caixa (em cima do piano), e um romântico “Can’t Help Falling In Love”.
Entre as várias mensagens, ouvidas ao longo da noite, saímos com uma de esperança a fazer eco na alma: “Há um sítio onde nunca haverá fronteiras. É na música. A música irá sempre unir as pessoas”.
As próximas datas de concertos de André Rieu em Lisboa já se encontram esgotadas (hoje, dia 14 de março, dias 15, 16, 29, 30 e 31 de março). Ainda há bilhetes à venda para os concertos de 20 e 21 de novembro, com preços entre os 40 e os 120 euros.