Inaugura hoje, na Sala de Exposições Temporárias e na Sala Polivalente do CAM da Gulbenkian uma instalação inédita de Miguel Ângelo Rocha, especialmente concebida para este espaço. A visita é uma espécie de experiência sensorial: os olhos percorrem as linhas como quem segue um movimento, acompanham os contornos que preenchem o espaço e são impulsionados pelos sons que se ouve, de fundo.
A escultura, de grandes dimensões, intitulada Antes e depois, não se dá a ver de uma só vez, convidando à descoberta pelo visitante. Somos nós que escolhemos a partir de onde e como começamos a ver a escultura. Seguimos as linhas desenhadas no ar, apoiadas na parede, e no chão, sem fim nem princípio, numa espécie de infinito que ocupa o espaço. Há um emaranhado de linhas, com volume, como se de uma nuvem se tratasse, suspensa no ar. E um movimento implícito, como se algo estivesse a acontecer. “A obra pressupõe que seja sempre construída por quem a observa” refere Miguel Ângelo Rocha, acrescentando que “essa é, digamos, a qualidade que tenho de deixar contida na obra, na sua construção, na sua estrutura; criar algo que implemente continuamente a sua resolução”.
Ocupa dois espaços contíguos, que se encontram separados por paredes físicas. Um outro elemento importante é a atmosfera sonora criada pelos músicos Pedro Moreira, José Luís Ferreira e André Fernandes, também ela com características escultóricas. “Entrando por este espaço/arena em constante reconfiguração, confrontamo-nos com a coexistência da escultura, visível, e com a obra musical, invisível, ambas decorrendo simultaneamente e simultaneamente experienciadas pelo nosso corpo e todos os seus sentidos. E tanto ao entrar como ao sair do espaço, som e escultura continuarão para lá da nossa presença dado que este, quando consciente em nós, convocará, ainda que pela memória, a atualização da obra” refere o artista.
O título, Antes e depois (três palavras atravessadas por uma linha horizontal), contém a negação do seu próprio sentido, acentuando a duração e assumindo o tempo da escultura como nunca completo e acabado, em permanente movimento de aproximação a si mesmo.
A exposição, comissariada pelo professor e crítico de Arte Nuno Crespo, é acompanhada pela publicação de um livro que aborda a produção deste artista desde meados de 1990 até ao presente e conta com uma extensa conversa entre o artista e Maria João Gamito, um ensaio de Nuno Crespo e o desenho gráfico de Pedro Falcão.
Miguel Ângelo Rocha (n.1964) realizou a sua primeira exposição individual na Galeria Módulo em 1991 e desde então expôs em várias cidades do país e no estrangeiro como Roterdão e Nova Iorque. Nos últimos anos destacam-se as exposições na Galeria Quadrum e Pavilhão Branco, Museu da Cidade, Lisboa (2013) e na Galeria Presença, Porto (2014). Está representado na coleção do CAM, Fundação de Serralves, Fundação EDP, Museu do Chiado, MUDAM, Luxemburgo e Ross School of Business, University of Michigan, entre outros.
Antes e depois pode ser vista na Sala de Exposições Temporárias e na Sala Polivalente do Centro de Arte Moderna José Azeredo Perdigão da Fundação Gulbenkian, de 13 fevereiro a 31 de maio de 2015, de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. A entrada gratuita.
Reportagem de Tânia Fernandes