Um ringue de boxe, no centro do recinto, lança o tema da abertura. A noite é de combate e depois de se esquivarem das críticas a Everything Now os Arcade Fire provam que conseguem desferir o golpe vital: ao vivo, continuam imbatíveis.
O Campo Pequeno fez jus ao nome e tornou-se, esta segunda-feira, limitado para receber a banda de Montreal. É certo que muitos dos que tem acompanhado o seu percurso, já tiveram oportunidade de os ver ao vivo antes, mas sempre integrados em cartazes de festivais. Esta foi a primeira atuação em nome próprio, no nosso país, e a resposta foi imediata. Casa esgotada a meses da data do concerto. Quem reservou o lugar com antecedência acabou por ganhar com esta limitação do espaço: era grande a proximidade com a banda. De qualquer ponto do recinto, foi possível acompanhar toda a atuação e vibrar com a música.
A extrema preocupação com a imagem faz com que seja ainda possível acompanhar os detalhes através dos gigantes ecrãs. Há operadores de camara a seguir todos os passos dos músicos, mesmo quando eles decidem atravessar a plateia, provocando calafrios na equipa de segurança. E foram muitos os banhos de multidão.
Foi dessa proximidade que se fez o concerto. Arrancaram com uma sequência que levou logo o público ao tapete: “Everything Now”, “Rebellion (Lies)” e “Here Comes The Night”. A loucura era recíproca, pois William Butler elevou o som do tambor, ao trepar a uma das colunas da estrutura do palco e tocar de forma frenética, com o incentivo do público.
Ouviram-se temas do mais recente trabalho, como o contagiante “Put Your Money On Me” ou “Electric Blue” mas não deixaram fora deste alinhamento momentos imperdíveis da carreira como “No Cars Go” de Neon Bible (2007).
A encenação continua a ser uma aposta forte dos espetáculos dos Arcade Fire e, neste espetáculo, aproveitaram todos os cantos do recinto. Em “It’s Never Over (Oh Orpheus)” Régine Chassagne surge numa das laterais e o dueto com Win Butler, o vocalista, faz-se à distância. No final, a travessia é feita pelo meio do público.
Uma imagem no ecrã superior dá indicação para o público ligar as luzes do telemóvel. Os holofotes do palco estão desligados e a banda entra em “Neighborhood #4 (7 Kettles)” num ambiente cintilante. “Neighborhood #1 (Tunnels)”, “The Suburbs” com um fim mais lento, a provocar o coro de vozes e um elétrico “Ready to Start” é outra das sequencias de cortar a respiração. Na verdade, e apesar de metade da cobertura do telhado se encontrar aberta, a temperatura é quase insuportável e o recinto mais parece um grande caldeirão a fervilhar. As músicas sucedem-se quase sem pausas. De vez em quando surge um agradecimento emocionado, mas a banda continua, em modo contínuo, alternando entre os diferentes instrumentos. Dá a sensação que todos tocam um bocadinho de tudo. Régine Chassagne conduz “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)” e a gigante bola de espelhos suspensa no teto, distribui pontos luminosos pelo Campo Pequeno. Em “Reflektor” volta para junto do público e em “Afterlife” é Win Butler quem desce.
Depois, em “Creature Comfort” somos envolvidos numa cortina de fumo que pouco nos deixa ver. Distinguimos silhuetas em contra luz e deixamos que os sentidos se concentrem apenas na melodia.
O Campo Pequeno volta a mergulhar em grande ambiente de festa no encore. Em “Everything Now (Continued)” a banda recebe a companhia da Preservation Hall Jazz Band, o grupo que está a assegurar a primeira parte desta digressão. Terminam em grande, com “Wake Up” um coro gigante e intenso que gostaríamos que não terminasse… A banda sai em modo de fanfarra, a serpentear pelo meio do público. Passam as portas e continuam já do lado de fora. “With my lightning bolts a glowing/ I can see where I am go-going”.
Soube a pouco? Os Arcade Fire regressam a Portugal em agosto, ao festival Paredes de Coura.