Na primeira de duas noites praticamente esgotadas, em Lisboa, a reação do público à atuação dos Arcade Fire não poderia ter sido mais calorosa. A história do rock’n’roll conta-se de episódios que fazem manchetes de jornais, mas não parecem afetar a relação dos músicos com os seus admiradores. Em Lisboa, a imunidade foi concedida.
Tem sido longa, continuada e crescente, a relação dos Arcade Fire com o público português. Desta vez, a festa começou dentro do recinto e antes da hora marcada com Win Butler, a fazer de real anfitrião, e a anunciar junto de um DJ, a partir de um palco instalado no meio do público, a banda de suporte, os Boukman Eksperyans. Ritmos do mundo animaram a primeira parte, que contou com a presença do vocalista dos Arcade Fire em palco, durante uma das músicas. Juntou-se à dança, com todo o empenho.
Quase sem intervalo, com a animação de um Dj, que agitou maracas e surpreendeu o público ao abandonar o palco e passear no meio das pessoas, a casa foi enchendo e aquecendo. O prologo foi dado por um piano, a tocar em modo autónomo, do centro do recinto.
Seguiram-se cerca de duas horas de concerto, com a apresentação de temas que dão o mote à digressão, do álbum We. Este “Nós” é visível um pouco por todo o recinto. Numa das t-shirts de Win Butler e na caixa sonora, que se encontrava em cima do palco principal, à qual ele sobe de forma constante.
O concerto abriu e fechou em modo lonely toons, com um cenário em semicírculo, cuja faixa superior recebeu a projeção de vídeos, na sua maioria relacionados com o espaço, e que enquadraram a banda, de forma original. Parecia um cenário fixo, a dar a impressão de profundidade, mas quando os Arcade Fire entraram, desfez-se a ilusão e percebemos que é muito mais do que isso. No final, em “Wake Me” é um olho perfeito, com a animação a ocupar a íris.
Há uma bola de espelhos gigante, no centro do recinto, a distribuir luz pelos presentes, que se torna bastante evidente em alguns momentos.
A banda abriu com “Age of Anxiety I” um dos temas deste novo trabalho, que foi bem recebido, mas rapidamente a sala explodiu de emoção com o início de “Ready to Start”. Continuou a euforia em “Suburbs”, um dos temas que permite que o público cante de forma eterna o refrão “Sometimes I can’t believe it/ I’m moving past the feeling again”. E depois disso, começa a dança do “vou ali ao centro, cantar e dançar em cima do piano e já venho” de Regine Chassagne e Win Butler. Uma espécie de brinde para quem assiste da bancada e tem bem em frente dos olhos, um espetáculo de luxo. Para aqui trouxeram temas que saíram do alinhamento habitual desta digressão, e raros de ouvir ao vivo, nos anos mais recentes, que foram “It’s Never Over (Hey Orpheus)” e “My Body Is a Cage”. Retomaram depois o palco principal e a estrada que têm vindo a trilhar com “Afterlife”, “Reflektor” e logo depois “Age of Anxiety II (Rabbit Hole)” em que o Campo Pequeno virou uma mega discoteca com toda a gente a dançar.
Naves espaciais e muitas luzes led acompanharam “The Lightning”, mas o calor humano sobiu em “Rebellion (Lies)”. Depois do estrondo de “No Cars Go” e “Unconditional I (Lookout Kid)” em que surgiram bonecos insuflados entre a banda e o público, a banda que atuou na primeira parte junta-se em palco para “Haiti”.
Para “Sprawl II (Mountains Beyond Mountains)” a bola de espelhos volta a ganhar realce e Regine atravessou novamente o público para uma pequena performance junto e em cima do piano. No final deste concerto e antes do encore, deram o tudo por tudo com o clássico “Everything Now”.
“End of the Empire I-III”, “End of the Empire IV (Sagittarius A*)” fecharam o encore antes do maior coro de todo o sempre de “Wake Up”. Começou em cima do palco, arrastou-se por longos minutos, continuou na arena e seguiu caminho para a zona exterior do Campo Pequeno onde surpreendeu os fãs, que saíam de uma sala, a pensar que tinha acabado concerto, #sóquenão.
Os Arcade Fire voltam a atuar esta noite no Campo Pequeno.
Ainda há bilhetes à venda para as bancadas e camarotes, por valores entre os 61 e os 66 euros.