Testemunhámos, esta sexta-feira, o regresso ao nosso país dos Aristocrats. A banda que contém, talvez exageremos, mas três génios, fez a sua passagem na adequada tour “Defrost”, pós-pandemia.
Quando assistimos aos jogos olímpicos, ficamos fascinados com aqueles atletas que fazem tudo parecer fácil. Foi o que tivemos ontem, três músicos com um à vontade no palco, a tocar músicas super complexas, mas sempre com sorrisos e brincadeiras, algo que só mesmo os maiores executantes conseguem fazer.
Entraram em palco, e como crianças hiperactivas que estão sempre a tocar, acompanharam a música de introdução.
Brian Beller, que já tocou com Steve Vai e Joe Satriani, apresenta os restantes membros: Marco Minnemann na bateria e Guthrie Govan na guitarra.
Arrancam com “Stupid 7”, que é em 7/8. Segundo se conta, Marco Minnemann, quando escreveu a canção sem querer foi para 7/8, o que já demonstra a capacidade do senhor.
Marco, que já tocou com nomes grandes do metal progressivo Witherfall e do Death Metal Necrophagist, foi preterido por Mike Mangini nas audições para os Dream Theater mas seguiu para tocar com o Steven Wilson. Além de inúmeros projectos próprios, é sem dúvida uns dos grandes bateristas da atualidade.
Contam que vão tocar músicas que não estão em disco nenhum.
A próxima escrita por Marco e apresentada pelo próprio, diz que fala de bebidas, “Hey, where’s my drinking package”, mas que não convém à banda beber porque é difícil de tocar. Se para eles é difícil de tocar, imaginem.
Os ritmos que utiliza não lembram ao diabo, com blast beats que saem de lado nenhum, travessias de cymbals, é um show só de o ver a tocar.
Beller, passeia pelo braço do baixo com uma sintonia com Marco incrível, pode-se dizer que é o menos espalhafatoso do grupo mas só numa primeira aproximação, as suas variações de técnica são impressionantes e o tom que produz é excelente.
A próxima música é do Guthrie Govan, apresentada pelo próprio.
Guthrie Govan, é um monstro, reconhecido como um dos grandes guitarristas da sua geração, até o Rui Veloso veio ver. Toca com o Hans Zimmer, já tocou nos Asia, toca com Steven Wilson, além de inúmeros projetos próprios. Os amantes da guitarra não podiam deixar passar esta oportunidade de ver um dos melhores do mundo e dos mais inventivos.
Contou que, na capa do disco Freeze, há um pinguim polícia o Sg. RockHopper, esta canção reflete sobre o que é a vida deste pinguim a impor a ordem e a lei na Antártida.
Converter estes conceitos em canção é um feito, mas as explicações ajudam a entrar na música e quando a guitarra faz um som parecido com um grasnar, sabemos que o Sgt. RockHopper está a prender alguém, qual Guarda Serôdio do polo sul. “Bad Asteroid”, sobre a queda do asteroide que dizimou os dinossauros, com a participação especial de um porco de borracha.
Todas as canções têm uma história associada, “Balada de Bonnie e clyde”, de Beller, foi escrita por ele quando lhe roubaram os instrumentos todos. “Through the flower”, é uma expressão em alemão, que não tem tradução e “Hoo noo” inspirado no “Metal Gods” dos Judas Priest e percebemos que havia poucos fãs de metal. Daí alguma falta de reação.
Em “Through the flower”, Guthrie tem que usar o polegar na 1ª corda para conseguir todas as notas do acorde que faz.
Os Aristocrats não têm um estilo musical definido, por isso podem tocar como quiserem e o que quiserem. Brian Beller conta que lhes faltava uma música de dança dos anos 90, Aristoclub, com alguns sintetizadores, mas se a música de dança nos anos 90 fosse assim eu ía a raves. Pelo meio, o solo de Marco, com braços a voar de lado a lado na bateria, parece um polvo, o público podia e devia ter participado mais, demorou a começar a interagir apesar das indicações. Como bónus tivemos a participação do porquinho que fez uns roncos em tempo.
“Furtive Jack”, sobre um ladrão, em 5/4, em que conseguimos perceber um ladrão a saltitar furtivamente num beco escuro e “Last Orders”, inspirada no bater do sino dos pubs ingleses levaram-nos ao encore.
“Blues Fuckers”, do Marco, que lhes deu algum orgulho por terem um sticker de parental advisory num disco instrumental, encerrou uma grande noite, com grandes músicos, num LAV cheio.
É raro termos este tipo de talento, muito acima dos comuns mortais em Portugal e não se devem perder estas oportunidades. Esperemos pela próxima.