O Amor, mas principalmente a falta dele, é tema recorrente nas canções de Sam Smith. As suas atuações anteriores, em Portugal, foram inseridas em Festivais de Música. Ambiente demasiado animado para se sentir as suas amarguras em profundidade. Desta vez, com atuação em nome próprio, na Altice Arena, os admiradores puderam sentir, com toda a dedicação a intensidade da voz do cantor britânico.
Este foi o último concerto da digressão europeia de promoção do álbum The Thrill Of It All. A data tornou-se ainda mais especial, por coincidir com a véspera de aniversário de Sam Smith.
O palco, em forma de vértice, entrava pelas primeiras filas da plateia, criando proximidade com o público. Um batalhão de seguranças assegurava que a distância não se tornava mais curta do que o necessário. Ao fundo, um circulo serviu de tela para projeções de luz e uma pirâmide escondia uma escadaria, que Sam Smith revelou no final. Os discretos ecrãs laterais foram debitando “frases inspiradoras” escritas à mão. E quando as luzes de apagaram, o conselho foi o de desligar o telemóvel para usufruir do espetáculo.
Sam Smith é recebido com histerismo. Surge sentado, iluminado por holofote , com silhueta recortada, a cantar “Burning”, do novo álbum. Cumprimenta Lisboa e pede para se todos se levantarem para “One Last Song”. Mais iluminado o palco, permite-nos admirar melhor a figura de Sam Smith. O casaco agora custa a apertar, longe dos tempos em que nos trouxe pela primeira vez “I’m Not The Only One” (que canta de seguida).
Comunicativo, Sam Smith explica que andaram na estrada nas últimas semanas e que esta será a última noite da digressão europeia. Agradece todo o apoio que as pessoas que lhe dão a ele, mas também à música. Partilha que está a duas horas do seu 26º aniversário e diz que espera que as pessoas saiam do recinto felizes, apesar de saber que as suas músicas são depressivas. Continua com o seu primeiro tema, que compôs aos 19 anos “Lay Me Down”.
Com “Omen”, dos Disclosure, o ambiente volta a desanuviar. É hora de abanar o esqueleto e expulsar angústias. Percebe-se que ele tenta que a noite não caia na melancolia e vai pedindo para o público bater palmas. Ainda assim, há momentos em que destaca a voz dos instrumentos. A letra sobrepõe -se à melodia e os sentimentos tornam-se mais evidentes. “Writing’s on the Wall”, o tema de Spectre da saga de James Bond, teve uma encenação mais cuidada. Em “Latch” as luzes dos telemóveis inundam o recinto e voltamos a abanar o corpo com uma versão mix de “Money On My Mind”.
Apresenta a banda, com quem refere ter vindo a partilhar momentos incríveis e continua com o festivo “Like I Can”. “Restart” inicia com a banda em modo de coreografia… e alguma desafinação. Mas os corpos presentes embalam-se com a música, e a versão mais disco parece agradar, ignorando-se as falhas. Incita a nova movimentação de bracinhos no ar para “Baby You Make Me Crazy” e deixa a banda assumir protagonismo em palco, ausentando-se.
Reentra com nova roupa e continua com “Say It First”. O público acompanha-o sempre. Por vezes de lágrima no canto do olho. “Midnight Train”, “HIM” e percebe-se a despedida antecipada com “Too Good at Goodbyes”. O intervalo é curto e termina com emoção com um dos seus mais conhecidos temas: “Stay With Me” com direito a confettis e “Pray” o tema forte do último trabalho.
A festa terminou a tempo do cantor ir soprar velas a outras paragens. Cumpriu o desejo de fazer ouvir a voz intensa e cheia de emoção e deu também bons momentos de festa.