As Canções De Que João Hasselberg E Luís Figueiredo Gostam E Nada Mais Ao Vivo Na Culturgest

Songbird_A©Vera Marmelo

As canções de que João Hasselberg e Luís Figueiredo gostam, e nada mais, foi o ponto de partida para o concerto do duo, na passada quarta feira (dia 6 de abril), no Auditório da Culturgest em Lisboa.

João Hasselberg não define Songbird Vol. I como um álbum de covers, como se o objectivo fosse pegar num conjunto de canções emblemáticas e ajazzá-las. O contrabaixista acrescenta que aquilo que faz com o pianista Luís Figueiredo trata-se, simplesmente, de uma interpretação de um conjunto de canções.

Canções essas sobretudo pop e folk, de todos os géneros e feitios, para todos os gostos. Uma vista de olhos pelos temas do álbum, que saiu no final do ano passado, mostra-nos um alinhamento bastante eclético: do “Elixir da eterna juventude” de Sérgio Godinho ao “I loves you Porgy” de Gershwin, passando pelo Sting, Chico Buarque e pela dupla Lennon/McCartney.

Poucas destas faixas foram, no entanto, reservadas para o Pequeno Auditório repleto da Culturgest, indicando que este primeiro volume de Songbird é apenas uma amostra do repertório do duo. Na sala ouviu-se Fausto, Jimmy Webb e Regina Spektor. Ouviu-se o “Prelude to a kiss”. As “Gatas extraordinárias” de Caetano Veloso e as “Dos Gardénias” dos Buena Vista Social Club. Radiohead e o “Motion Picture Soundtrack”, com Luís Figueiredo a colocar papel sobre as cordas do piano, gerando um som parecido ao de uma caixa de música.

Este é um caminho já trilhado por grandes músicos. À memória vêm os duos de Charlie Haden, tanto com Hank Jones como com Pat Metheny – aliás, Hasselberg confessa-se particularmente apreciador do primeiro. São seguidos pelo Brad Mehldau a tocar Radiohead ou Massive Attack, assim como os the Bad Plus a tocar Nirvana ou Bee Gees.

Onde este duo difere é no carácter minimalista e, talvez por isso, intimista. São versões despretensiosas, de durações curtas, pouco dadas a experimentalismos. Fiéis aos originais e às suas melodias fortes, com pouco lugar para improvisação, re-harmonizações ou arranjos mas, ainda assim, mantendo um cunho bastante pessoal.

Para o encore, um dos momentos altos da noite. Luís Figueiredo, debruçado sobre o piano de cauda aberto, a mão esquerda, como habitualmente, nas teclas e a direita, como não habitualmente, a tocar energicamente as cordas, como se se tratasse de uma guitarra. Os dois músicos dão duas alternativas de designação para este instrumento alternativo, avisando que preferem a segunda: guitano ou pitarra. Ainda assim o som parece ficar entre o instrumento de seis cordas e um banjo, associando-se na perfeição ao cariz folk dos temas.

Por Daniel Carvalho

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