No quadro das Celebrações do Bicentenário de D.Maria II – a Educadora, a Biblioteca Nacional de Portugal (BNP) apresenta, a partir do dia 14 de fevereiro até 30 de abril de 2019, na Sala de Referência, a exposição D. Maria II e a Música no Seu Tempo, dedicada ao tema da música no tempo do seu reinado, evidenciando uma peça da sua autoria, obras que lhe foram dedicadas, e referências ao panorama musical da época, provenientes das coleções existentes na BNP.
O reinado de D. Maria II (1826-1828 e 1835-1853), tempo difícil marcado por convulsões que abalaram profundamente a sociedade portuguesa, assistiu ao nascimento de um novo quadro político e foi marcado pelo influxo do romantismo e por uma mutação cultural e das sensibilidades.
Medida de relevante importância logo a seguir ao triunfo do liberalismo foi a da criação, em 1833, de uma Aula de Música na Casa Pia, que recebera o património instrumental do antigo Seminário da Patriarcal, o qual constituirá o núcleo inicial do Conservatório de Música, criado em 1835, tendo como primeiro diretor João Domingos Bomtempo, professor de piano da Rainha.
Nos primeiros anos do seu reinado, um dos temas inspiradores das composições musicais então produzidas foi a Carta Constitucional. Essas peças eram depois estreadas no principal palco musical, o Real Teatro de São Carlos. Encerrado durante o período da guerra civil (1828-34), reabriria após a vitória liberal, preservando o seu estatuto de «teatro italiano», com um repertório que assentava em três nomes cimeiros da ópera italiana: Rossini, Donizetti e Bellini.
Personalidade central na vida musical portuguesa deste período foi Joaquim Pedro Quintela (1801-1869), o Conde de Farrobo, a quem se ficou a dever uma intensa atividade mecenática, centrada no seu Palácio e Teatro das Laranjeiras. Em 1838, ao assumir a direção do Teatro de São Carlos, empenhou parte da sua fortuna pessoal na contratação de mestres italianos, contribuindo para a apresentação de obras como Don Giovanni, de Mozart, Lucia de Lammermoor, de Donizetti, e Robert le Diable, de Meyerbeer. Em 1843, estreia o Nabucco, de Verdi, dando início a um predomínio de produções “verdianas” que se prolongará por 40 anos. Concomitantemente, dirigiu também o Teatro da Rua dos Condes, aí divulgando o repertório francês de ópera cómica e vaudeville.
Era a época em que no Teatro do Salitre e no Teatro do Bairro Alto se representavam, além de dramas, peças ligeiras com larga tradição em Portugal – farsas, entremezes ou comédias – todas elas com acompanhamento musical, adaptações portuguesas de óperas cómicas de autores italianos, ou ainda serenatas alusivas aos aniversários reais.
Porém, a música não era apenas fruição e espetáculo, mas também mundanismo, que se revela, a partir de meados da década de 1830, no crescente gosto pelos bailes, os quais vão ser um poderoso agente de difusão dos novos géneros musicais relativos a «tradições» musicais oriundas do Centro e Leste da Europa – polcas, mazurcas, valsas, quadrilhas e contradanças.
Acompanhando a adesão de Portugal ao gosto europeu, terá então sido marcante a vinda, na temporada de 1844-1845, de Franz Liszt a Lisboa, numa digressão que lhe permitiu dar mostras do seu virtuosismo na execução de peças da sua lavra, mas que igualmente revelou a novidade do moderno piano de cauda.
A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 19h30 e aos sábados, das 9h30 às 17h30. A entrada é gratuita.