Vinte artistas brasileiros olharam para o universo artístico de Rafael Bordallo Pinheiro e reinterpretaram-no. O resultado pode ser visto a partir de hoje na Fundação Calouste Gulbenkian, e até 17 de novembro, na exposição Arte Contemporânea no Universo Bordallo – 20 Bordallianos do Brasil, uma mostra que está a decorrer simultaneamente em São Paulo e já passou por Belo Horizonte e Rio de Janeiro.
Laerte Ramos criou uma escultura suspensa. “É um viveiro de pássaros, como se pode ver. No Brasil, já anteriormente desenvolvi outros viveiros para um pássaro que lá conhecemos como joão-de-barros. É uma ave que constrói o seu ninho usando palha, esterco seco e barro.” Para esta peça, Laerte recolheu adornos de um painel de Rafael Bordallo Pinheiro e recorreu ao humor do mestre para compor a peça. “O desenho do pássaro está de lado, aqui atrás está um gato e por baixo da casa está um alvo, que funciona também como o friso, que todas as peças de cerâmica esmaltada devem ter, para poder ir ao forno” refere o artista sobre “Furnarius Rufus”, o nome da peça que é também o nome científico do pássaro joão-de-barros.
O “Vai e Vem” de Estela Sokol diferencia-se de todas as outras peças expostas por ser mais concetual. “É um trabalho mais geométrico, tem também a ver com o meu trabalho. Fiz uma peça que é ao mesmo tempo uma brincadeira: ela informa mas não informa, está na parede, mas não está” referiu Estela Sokol, durante a apresentação da exposição. Este trabalho foi desenvolvido a partir dos letterings elaborados por Bordallo Pinheiro para sinalizar as ruas das Caldas da Rainha. ”Uso cores nervosas no meu trabalho, que se relacionam com a superfície branca. O laranja ajuda a descolar a peça da parede” justificou a artista.
Este projeto artístico começou a ser desenhado em 2011, por ocasião do 125º aniversário da Fábrica Bordallo Pinheiro. Para esta celebração, sete artistas contemporâneos portugueses foram convidados a criar uma peça original inspirada na obra do artista: Bela Silva, Catarina Pestana, Elsa Rebelo, Fernando Brízio, Henrique Cayatte, Joana Vasconcelos e Susanne Themlitz. Deste trabalho, nasceram sete peças comemorativas, também em exposição na Gulbenkian. O projeto estendeu-se agora até ao outro lado do Atlântico e, seguindo o mesmo mote, foram convidados artistas brasileiros de diversas áreas para criar peças inspiradas no universo Bordalliano.
Durante o processo criativo, cada um dos artistas trabalhou durante 10 dias na fábrica, nas Caldas da Rainha, onde ficaram a conhecer melhor a obra do mestre e se familiarizaram com todas as técnicas de fabrico das peças. O resultado da inspiração destes artistas pode agora ser apreciado nesta exposição, com a devida explicação sobre as mesmas. Participam nesta mostra Vik Muniz, Tunga, Regina Silveira, Maria Lynch, Isabela Capeto, Adriana Barreto, Barrão, Caetano de Almeida, Efrain de Almeida, Estela Sokol, Erika Versutti, Fábio Carvalho, Frida Baranek, Laerte Ramos, Marcos Cheves, Martha Medeiros, Saint Clair Cemin, Sérgio Romagnolo, Tiago Carneiro da Cunha e Tonico Auad.
“Através de Rafael Bordallo Pinheiro e da sua genialidade, homenageamos a cultura portuguesa e brasileira, e nasce uma nova visão artística do legado do artista através do olhar de cada um destes artistas” explica Nuno Barra, Diretor de Marketing da Bordallo Pinheiro. Bordallo Pinheiro, além de artista foi jornalista, escritor e cartoonista. Tinha uma ligação especial com o Brasil, onde viveu de 1875 e 1879. Uma das mais importantes peças produzida nas Caldas da Rainha, a famosa “Jarra Beethoven” foi oferecida, ao então Presidente do Brasil e encontra-se hoje exposta no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. “Sentimos, ao lançar o convite para estes artistas brasileiros, que este seria um projeto com o qual Rafael se identificaria, uma vez que a admiração pelo Brasil era muito forte” acrescentou Nuno Barra.
As peças, de edição numerada e limitada a 250 exemplares, podem ser adquiridas nas lojas Vista Alegre Atlantis, na Loja da Fábrica Bordallo Pinheiro e na Fundação Calouste Gulbenkian. “Xina” de Frisa Baranek é a peça de valor mais baixo, que pode ser adquirida por 200 euros. Os valores vão subindo até aos 2100 euros, preço de “Dueto” de Joana Vasconcelos.
A exposição pode ser vista no edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian até ao dia 17 de novembro de 2013, de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. A entrada é gratuita.