Como é que se faz grande um espetáculo de música pop? Bruno Mars conhece bem a receita de sucesso. Inclui melodias fortes, rimas a deitar a mão ao coração, equilíbrio de voz e dança, sentido de humor e uma grande produção de luzes completada por uma dose generosa de pirotecnia. Foi, até à data, o único dia com lotação esgotada no Rock in Rio.
À hora de início do concerto de Bruno Mars o recinto era um mar de gente. A massa compacta de pessoas que se estendia pelo Parque da Bela Vista foi-se mostrando, ao longo do dia, disponível para cantar, dançar e vibrar ao som de boa batida. Os concertos anteriores foram muito participados, com o público a reagir de forma calorosa. Bruno Mars não teve assim dificuldades em continuar a festa na hora e meia seguinte.
Mesmo quem conhecia só os temas mais badalados, deixou-se conquistar pela sedução do músico. Os lasers, explosões de fogo de artifício constantes ao longo de todo o espetáculo e a chuva de confettis completaram uma atuação cheia de vigor. Há talento na forma como canta, toca ou dança. O palco é simples e a banda – os Hooligans – segue-o, como a uma sombra. Ao contrario do que é habitual, esta banda não se distribui em posições mais ou menos fixas ao longo da atuação. Tocam e dançam, numa coreografia liderada por Mars. Cada nota corresponde a um movimento e percebe-se que há pouco espaço para o improviso. Ainda assim, há momentos chave bem ensaiados que resultam ao vivo, levando o público à loucura. “Eu quero você meu amor” canta, na língua portuguesa, ao telefone. O público responde-lhe com gritos de loucura, mais ainda quando é o próprio a pedir mais barulho, ao baixar a intensidade das luzes e do volume do som.
Trouxe os êxitos mais esperados, como “That’s What I like”, “Versace”, “When I Was Your Man” e “Just the Way You Are”. O público vibrou a cada rodopio e saltou (ver todo o Parque da Bela Vista a saltar é único). Há momentos em que relembramos a genialidade de Prince ou de Michael Jackson, mas Bruno Mars faz-nos acreditar que está disposto a fazer tudo para garantir que demos por bem entregue o tempo (e dinheiro) aqui despendido. Foi com “Uptown Funk” que fechou a noite, já em encore, com todo o Rock in Rio a dançar.
Antes, no palco mundo, atuou Demi Lovato. A cantora, atriz e compositora norte-americana, conhecida por ter integrado alguns produtos da Disney veio apresentar temas do mais recente trabalho Tell Me You Love Me.
Neste concerto o grande destaque foi para o desempenho vocal da cantora, bem conhecida dos presentes, que a acompanharam em alguns momentos. A sua atuação incluiu algumas covers de outros artistas. Foi o caso de ” No Promises” de Cheat Codes, “Échame la Culpa” de Luis Fonsi e “Solo” de Clean Bandit. Estabeleceu um laço forte com o público, em “Sorry Not Sorry“ e concluiu a sua atuação com a música “Sober”, ao piano. A cantora acabou por se emocionar, com este tema em que aborda problemas pessoais e acabou por abandonar o palco sem de despedir, para surpresa do público.
O fenómeno Anitta trouxe o funk brasileiro para o palco mundo. Acompanhada por um corpo de baile formatado para chocar, a artista brasileira entrou no palco vestida de Carmen Miranda com um vestido vistoso, de lantejoulas douradas. Cedo se desfez das amarras têxteis e de forma livre e apresentou o “Show das Poderosas” aos portugueses. Houve quem não conseguisse descolar os olhos do ecrã, mas a verdade é que a maioria das pessoas sabia as letras das musicas e cantava de voz aberta.
Enquanto isso, do outro lado do recinto, o rapper português Bispo debatia-se com uma fraca audiência. Ainda que os estilos sejam diametralmente opostos, coincidem na faixa etária. A atuar no Music Valley, Bispo foi um dos nomes do hip hop que integrou a programação nesse dia, ao lado de Mishlawi (que também acabou no duelo impossível com Bruno Mars). Dillaz e Supa Squad conseguiram tirar partido de um horário mais antecipado.
A grande enchente deste palco deu-se com HMB, estrelas da soul nacional, que agarraram bem a oportunidade. A celebrar 10 anos de carreira, a banda de Héber Marques, Joel Silva, Daniel Lima, Fred Martinho e Joel Xavier passou em revista os temas mais marcantes. Contaram com a participação especial de Emicida, que havia atuado antes no mesmo palco.
Antes, e a tentar fintar o sol abrasador da tarde, o publico espalhou-se por esta encosta da Bela Vista para assisitir a Língua Franca. O projeto de Emicida, Capicua, Rael e Valete atuou sem este último elemento, mas com uma convidada especial, Sara Tavares que acabou por conduzir o ritmo para fronteiras mais quentes.
O português Agir abriu o Palco Mundo no segundo dia do evento e conseguiu, fechar o concerto com um mar de gente a cantar os seus temas. Pelo meio, deixa piropos “as miúdas do rock in rio são bonitas naturalmente” em jeito de introdução a “Make Up”. Houve um momento de terna amizade, ao convidar Carolina Deslandes a subir ao palco para o acompanhar em “Mountains”. E ainda a emoção a transbordar com um pedido de casamento de dois elementos do público antes de “Como Ela é Bela”. Pelo palco passou também a cantora brasileira Manu Gavassi, um dos fenómenos da atualidade. “Ninguém vai saber” foi o tema que interpretaram.
O Rock in Rio regressa na próxima sexta-feira, com um cartaz que promete uma viagem aos anos 90: James, Xutos e Pontapés, The Killers e The Chemical Brothers vão atual no palco mundo. Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam 69 euros.