Nº 25 – Para Que Servem Os Programadores Culturais?
Sempre gostei da ideia dos interfaces. Aquela noção de poder passar do autocarro para o comboio, ou do metro para o barco através de túneis ou viadutos é, além de confortável, bastante divertido. Trata-se de um modelo de organização de transportes públicos com uma aplicação relativamente recente em Portugal que já não conseguimos dispensar.
Na verdade a ideia de interface também se pode aplicar às atividades profissionais ou às relações pessoais, se a virmos do lado da interação com diferentes pessoas e empresas ou instituições. Mal sonhava eu, quando iniciei o meu curso de Comunicação Cultural há 27 anos, que uma vez concluidos os cinco anos viria a converter-me num interface cultural.
E são muitos os intervenientes que fazem desta uma profissão exigente e de risco, são eles:
O Programador, ou seja nós – a tentação de escolhermos apenas o que gostamos é muito forte, e diria eu até um bom sinal de personalidade, de gosto formado. Mas nem sempre é uma vantagem. Por vezes trabalhamos com um público-alvo que gosta do oposto do queremos por em prática, o que fazer? Testar algo novo ou não?
O(s) Chefe(s) – podem ter a cara de diretor de teatro, presidente de fundação, assessor, consultor, presidente da junta de freguesia, da câmara municipal, da República, Ministro, Vereador ou chefe de divisão, e trazem algum extra porque fazem a ponte com os gostos do público e são quem decide.
O Público – o bicho mais temido, porque nunca sabemos como vai reagir. Mesmo que a maioria goste, se aquele influencer está de mau humor tudo pode acabar mal “naquela” conta de Facebook.
Assegurar que esta triangulação seja bem sucedida, em que o nosso ego, os chefes e o público fiquem satisfeito é um trabalho difícil, quase sempre inglório, que transforma esta numa profissão de risco.
Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.
N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor