5. Para Que Serve Um Ciclo de Cinema no CCB?
Quando falamos de gosto pelo passado, exceptuando a série Reviver o Passado em Brideshead, o meu sentimento nostálgico não está muito apurado. O meu lema é não perder tempo com o que já se viveu e olhar para o futuro. Quer dizer, estou-me a esquecer de um pormenor nostálgico. Talvez por ter assistido à decadência, encerramento e destruição das antigas grandes salas de cinema de Lisboa, é impossível ficar indiferente ao prazer da memória dos antigos Monumental, Império ou Mundial cada vez que entro numa sala de 87 lugares de um multiplex. Porque é que julgam que não consegui voltar a ver o Cinema Paraíso e a sua bela história de amor de homenagem a estes palácios do cinema?
O mais desolador é que, se exceptuarmos o caso do resistente cinema São Jorge, as restantes salas lisboetas foram irremediavelmente perdidas para o cinema ou para qualquer outra função artística. Pelo contrário, noutras capitais, como nos cinemas madrilenos da Gran Via, essa função é acumulada com a de sala de espetáculos. Sim, eu sei que para quem tem menos de quarenta anos estas recordações não querem dizer nada. Agora podemos ter grandes ecrãs em casa com um “multi development mega sound XTKLO8”, há a Netflix e ainda resiste o tal cinema palácio de Lisboa para os cinéfilos doentes como eu. Mas nada era comparável a ver o Ben-Hur num ecrã gigante para 2170 pessoas! Enfim, dois parágrafos de nostalgia são suficientes, avancemos.
Sempre gostei do CCB. Foi lá que formei e alimentei o meu gosto pela arte. Desde que lá entrei pela primeira vez em 1993, que depreendi que aquele era o espaço que Lisboa precisava para a cultura com a vantagem de estar localizado na melhor zona da cidade. Vem isto a propósito do ciclo anual Belém Cinema que o CCB-Centro Cultural de Belém promove no seu Grande Auditório, em Lisboa. Todos os meses é programado um clássico do cinema num domingo a tarde. Os Homens Preferem As Loiras (1953), aquele em que Marylin Monroe confessa que os diamantes são os melhores amigos das mulheres foi o último a ser exibido.
Mas, com esta iniciativa o CCB vai mais além. Para além de devolver ao público filmes relevantes para a História do Cinema no seu habitat natural, aposta na recriação regular de um costume perdido: usufruir do visionamento dum filme em conjunto com desconhecidos numa grande sala escura em vez de estar cada um no sofá de casa. Uma experiência insubstituível.
Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.
N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor