9. Para Que Serve Casar A Cultura Com O Turismo?
No tempo em que não havia internet e muito menos redes sociais, ou seja, até 1989, era fácil alguém auto denominar-se como autor de uma ideia genial ou de um projeto inovador “importado” de fora das nossas fronteiras. O escrutínio pertencia a uma elite, que, ainda assim, tinha acesso a poucas fontes de informação. Surgia assim um caminho doce para quem pretendia afirmar-se socialmente como o dono “daquela” grande ideia. Nos dias de hoje encontramo-nos no extremo oposto: toda e qualquer ideia ou projeto é desde logo acusada de “Plágio!”, “Isso já foi feito”. E, pior ainda, surgem cronistas como este que estão agora a ler com a mania de querer abordar temáticas culturais de situações que não se encontram bem.
Escrevi estas oito linhas prévias a propósito de uma novidade na edição da BTL (Bolsa de Turismo de Lisboa) deste ano, que esteve de portas abertas até 17 de março. Pela primeira vez em trinta e um anos (31!) de vida do maior certame turístico português, a Cultura ganhou um lugar autónomo com trezentos metros quadrados de área e a presença de dezasseis instituições culturais portuguesas, com a parceria da Fundação Gulbenkian. Ou seja, foi necessário passarem todos estes anos para que, finalmente, a indústria do Turismo e o mundo cultural português surgissem finalmente aliadas, ainda que timidamente. O turista já não quer apenas fritar a pele ao sol, comer bem ou jogar golfe, mas procura conhecer mais sobre a identidade do país onde se encontra.
Na década de 1980 nascia na capital espanhola a chamada milha de ouro: o triângulo Museu do Prado/Museu Reina Sofia/Museu Thyssen. Trata-se de uma marca turístico-cultural que ajudou a alavancar e diversificar os fluxos turísticos em Espanha. Não adianta lançar o óbvio “Veio tarde mas aconteceu” ou vestir a pele de juíz da Inquisição e procurar queimar os eventuais culpados por este atraso sejam eles os museus, os operadores turísticos, os hoteleiros ou as mentalidades…
Gastaram-se muitos anos demasiado centrados no sol e a praia e a passar ao lado do turismo cultural. Agora importa não perder tempo com cronistas inquisidores e aprender com os países que tomaram a dianteira.
Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.
N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor