A peça Os Filhos, escrita pela jovem dramaturga inglesa Lucy Kirkwood, estreia esta quarta-feira no Teatro Aberto. “Uma grande reflexão sobre o tempo em que vivemos e ao mesmo tempo, com uma dimensão humana” explicou-nos o encenador, Álvaro Correia.
A narrativa centra-se em dois engenheiros físicos nucleares reformados, Hazel (Maria José Pascoal) e Robin (João Lagarto), que vivem em uma cabana isolada. Desfrutam de uma vida tranquila, ocupada de atividades como o ioga e agricultura, após um acidente significativo, na central nuclear onde trabalhavam, que contaminou a área circundante com radioatividade . Embora façam racionamento de água e eletricidade, procuram manter as rotinas e levar uma vida tão normal quanto possível. Um dia recebem a visita de Rose (Custódia Gallego), uma colega física nuclear, que vem interromper a existência ordenada e propor um regresso ao trabalho, para repararem os danos causados pelo acidente. Através da conversa afiada entre Hazel e Rose compreendemos a situação preocupante, que estão a viver, mas também as tensões que borbulham de um passado em comum.
Os Filhos permite-nos refletir sobre questões densas e que estão na ordem do dia, como as alterações climáticas, a questão do nuclear, a responsabilidade de cada indivíduo pelas escolhas que faz na sua vida pessoal, familiar e profissional. O que cada um poderá fazer para melhorar a vida dos outros e proteger o planeta dos perigos que o ameaçam destruir. Mas ao mesmo tem uma generosa dose de humor, personagens com uma grande dimensão humana e ainda um triângulo amoroso!
“Primeiro fiquei muito espantado de uma mulher de trinta e poucos anos escrever para três personagens com praticamente o dobro da idade dela, que é uma coisa muito rara no teatro contemporâneo. Senti que é uma escrita no feminino, no sentido em que as personagens aqui são extremamente fortes, mais do que o homem” explica-nos Álvaro Correia. Para o encenador “é também uma reflexão sobre a velhice e da nossa responsabilidade ética e moral sobre aquilo que nós deixamos para as gerações mais novas, mas também para as que estão para vir. Permite-nos perceber a nossa ação, quando há uma grande catástrofe.” Reforça a dimensão humana da peça, que assume ter também um lado risível “porque a vida é risível. Até no horror é risível. As personagens não são nada unidimensionais, nem tipificadas, têm uma forte dimensão humana”. Este é um dos aspetos que o encenador identifica como “muito interessante numa dramaturga tão nova. É muito surpreendente. E depois há este desafio, que para os atores é muito difícil.
Até mesmo ao contrario de outras peças dela mais recentes, como Mosquitoes ou Chimerica que eram tudo cenas curtinhas e de repente esta é uma cena, quase como se fosse um plano sequência de cinema que tem um princípio e fim. Não há cortes temporais, não há cenas intermédias. Os atores têm momentos, cada um deles à vez, de descanso, mas há uma linha, em tempo real, sem cortes, do principio ao fim”.
Um dilema sobre o egoísmo e o sacrifício geracional que pode ser visto na Sala Vermelha do Teatro Aberto, às quartas e quintas-feiras às 19h00, sextas e sábados às 21h30 e domingo às 16h00. Os bilhetes custam 17 euros. Há descontos para jovens até aos 25 anos (8,50 euros) e sénior – mais de 65 anos (13,60 euros).