Numa noite – muito esperada e esgotada – que se adivinhava que não seria como as outras, fomos ao LAV. Os Decapitated voltavam a Portugal para dar um ar da sua graça e vinham muito bem acompanhados.
Um concerto que estava inicialmente planeado para o RCA, mas esgotou tão depressa que teve que se passar para a sala do LAV. Tanta procura era um augúrio de um grande concerto.
No arranque da noite os Kassogtha.
A banda Suiça, que já nos visitou no passado, baseou a sua apresentação no disco mais recente rEvolve.
Muito esforçados, sem baixo mas a compensar com as guitarras de 7 cordas, deram um bom concerto. Mais proggy, com laivos de hardcore, que os seus colegas de cartaz, são uma banda para quem gosta de Agonist, Gojira ou até Jinjer.
“The Infinite”, “Drown”, “Venom”, mostraram que Stéphanie Huguenin é uma excelente vocalista que sabe estar em cima de um palco.
O ponto alto foi o “RISE”, o single novo.
No final uma boa atuação de uma jovem banda que está a crescer a olhos vistos.
Deste ponto em diante já se sabia que não se parava mais.
As Nervosa estão em casa em Portugal.
Muito acarinhadas pelo público, apareceram para cantar as malhas do seu novo disco Jailbreak.
Sem Hel Pyre no baixo, mas muito bem substituída por Emmelie Herwegh das Sisters of Suffocation.
Começaram com “Seed of Death” e “Death!”.
Prika parece cada vez mais confortável na voz, sempre em grande forma tanto a tocar como a puxar pelo público.
Depois de “Venomous” veio o bolo de anos. Gabriela Abud, a baterista, fez 22 anos e recebeu uns “parabéns a você” cantado pelo LAV e pelos companheiros de tour.
Como tinha dito, elas estão em casa e foi um quase momento familiar.
Mas havia muito mosh para fazer e mensagens para partilhar.
Prike falou de um flagelo que é o abuso sexual e de como as vítimas devem falar e expor as situações, para criar consciência para este tema escreveu “Kill the Silence”.
Vendo o que se passava na plateia “Perpetual Chaos” ficou muito bem.
As Nervosa carregam na sua música muita atitude, típica do thrash, Jailbreak é um grito de revolta contra o conformismo e as máscaras de submissão que se tem que utilizar na sociedade. Uma banda só de mulheres será de dizer que sabem do que falam.
“Guided by evil” e “Endless Ambition” concluiu um grande concerto.
Nos anos 90 havia a ilusão de que o grunge tinha morto o metal, havia quem dissesse isso, mas como sabem os Tenacious D nada consegue matar o metal.
Reformou-se, reinventou-se e emergiu das cavernas primordiais com novas formas. Uma das bandas que ajudou a desbravar caminhos foram os Incantation. O seu cavernous metal era algo inovador e pouco ouvido na altura. Além da brutalidade do death metal acrescentaram passagens lentas, quase doom, para criarem o seu som.
Criados em 1989 influenciaram imensas bandas e nunca deixaram de lançar discos.
Em 2023 encontramo-los em excelente forma com “Unholy Deification”.
Ouvimos a cassete de invocação do “Evil Dead” e apareceram em palco, de costas para o público, como se eles também fizessem a sua invocação.
“Carrion prophecy” para abrir, “Shadows of the ancient empire”, com muito mosh e crowd surfing.
Aqui não há sorrisos, sabemos que deus morreu à porta e nunca mais se levanta, “Vanquish in Vengrance” e “Fury’s Manifesto”.
Para relembrar que há discos que marcaram o género e que já têm 30 anos, “Blasphemous Cremation” levou-nos a 1992 ao “Onward to golgotha “. Para que se coloque mais um prego na cruz da blasfémia “Blissful bloodshower” relembrou o grande “Mortal Throne of the Nazarene”.
Mas como de presente também se faz a vida visitaram o mais recente disco para “Invocation”.
Uma banda que, mantém sempre a mesma consistência na qualidade na música, recebeu do público isso mesmo, consistência no mosh e nos aplausos. Os clássiscos “Ibex Moon” e “Impending Diabolical Conquest” fecharam o concerto.
Como é normal nestas bandas (e no metal em geral) esta agressividade é só no disco e palco, no final da noite, foi ver John McEntee junto ao merch em amena cavaqueira com quem quis falar com ele. Uma lenda viva do death metal, mas que sabe que é do público que vive.
E ainda nos faltavam os cabeças de cartaz. Os Decapitated.
Ser músico não é para todos.
Ser músico de metal ainda menos, implica uma preserverança acima do normal, especialmente quando se quer tocar death metal técnico.
Foi esta perseverança que os Decapitated mostraram quando, em 2007, após um grave acidente de viação, perderam Vitek, o baterista de sempre e irmão do guitarrista Vogg.
Vitek e Vogg criaram a banda em 1996, altura em que Vitek apenas tinha 12 anos.
Juntos forjaram uma banda que marcaria o género durante a primeira década do séc. XXI.
Com o falecimento do irmão, com apenas 23 anos, Vogg ficou sozinho na banda, ainda tocou nos Vader (outros clássicos polacos), mas resolveu reativar os Decapitated e de lá para cá saíram 4 discos.
Com mais groove e menos técnicos, os Decapitated provaram que são uma força da natureza e que estavam para durar.
20 anos depois de um desses marcos, Nihillity, serviu de mote para a tour que os trouxe de novo a Portugal.
A antecipação era grande, assim que soou o primeiro riff de “Perfect Dehumanization” foi o caos.
Quase de parede a parede, a roda era enorme.
Seguiram o alinhamento do disco na sua totalidade.
O público cantava, aplaudia e mandava corpos em crowd surfing. Rafa? Rasta Piotrowski, o vocalista, nunca parou de comunicar e pedir circle pits.
“Mother War” e “Nihillity” foram pontos altos de um concerto que esteve sempre no alto.
Depois do alinhamento, Rasta teve tempo para agradecer ao público que encheu o LAV a uma segunda-feira, mas ainda havia mais material de Decapitated por tocar.
“Cancer culture” e “Just a Cigarrete” do seu disco mais recente deram passagem para “Earth Scar”, outro ponto alto.
“Iconoclast” e “Last Supper” fecharam um grande concerto.
Não ficou pedra sobre pedra, um concerto cheio de lembranças dos anos 90 e com boas indicações para o futuro.
Se só pudessem ir a um concerto de death metal este ano, até agora, seria este sem dúvida.