EXTRAORDINÁRIO, assim, em letras garrafais! O Douro Rock é um festival único, não sei se pelo cenário, se pelos músicos, se pelo público, se pelo ambiente – ou pela magistral combinação de todos “regada” com os melhores vinhos do Douro, um toque de magia e o melhor da música portuguesa. Ontem a noite foi de ProfJam, Dino d’Santiago, Clã e David Fonseca… e do Douro Rock!A abrir o palco, Mário Cotrim aka ProfJam, um dos nomes do momento do hip-hop português. No topo das tabelas nacionais de streaming, ProfJam, Gui e Mike chegaram, de branco, para fazer a festa. “ProfJam tem imposto uma nova visão musical no nosso presente, declaradamente moderna e ousada. Este novo som, com a produção de Lhast, é uma clara prova da visão avançada do artista: trata-se de música original, transparente e carregada de luz, positiva e sofisticada na forma e no conteúdo, eficaz para bater no clube e nem por isso desligada de uma forte dimensão espiritual”, a nota de apresentação do álbum #FFFFFF, lançado em fevereiro deste ano, espelha, na perfeição, o concerto de ontem.
“Minha”, “Matar o Game” e “À Palavra” são os temas cantados, de fio a pavio, pelos “putos” ou pela “team”, nas palavras de ProfJam, um público incansável. Só com micro, sem música, Mário regressa ao underground lisboeta com a rima que fica: “Já nem és underground / agora és underwater/ o teu rap é ditadura / o meu é liberdade / isto não é rap, é telepatia”, de uma batalha, seguramente, vencedora.
A estética trap e o auto-tune combinados com a voz única de ProfJam, passam uma poderosa mensagem, em temas como “Xamã”, “Água de Côco” ou “Malibu”, sem esquecer o “Tou Bem”, de um músico que está “no topo do game” e que “não curte dar concertos, mas curte das festas”. E que festa deu!
Dino d’Santiago, do Bairro dos pescadores, na Quarteira, para o Mundo, com o seu álbum Mundu Nôbu. As raízes da música cabo-verdiana, numa mescla de tradição e eletrónica, tornam o seu trabalho transnacional.
Os temas “Nova Lisboa”, “Raboita Sta. Catarina” e “Africa de Nós”, na voz melodiosa de Dino abarcam um misto de emoções: da melancolia à alegria, da sensualidade à saudade e à tristeza, num trabalho de ímpar homenagem: a Portugal e a Cabo Verde, ao funaná e aos batuques, à língua portuguesa e ao crioulo.
A sua dança convida-nos (em silêncio) a entrar no seu mundo (de palavras), ao som de “Nós Crença”, “Bô en Sabi” ou “Como Seria”. Dino junta-se ao público, numa intimidade só possível na Régua (os Gifts já o tinham feito na edição anterior!) e o público rende-se, definitivamente, à sua voz, ao som de “Sodade”, um dos maiores sucessos de Cesária Évora.
O concerto de Dino transporta, encanta e fascina, numa simbiose perfeita de dança e música, prova dos “muitos anos de estrada”, desde a Operação Triunfo aos Expansive Soul, do Dino SoulMotion ao Dino d’Santiago e o seu admirável Mundu Nôbu.
Batia a meia-noite a anunciar um novo dia e os Clã sobem ao palco. Afastados dos palcos “há uns tempos” e com “A Corrente” (2014) como último trabalho, o novo álbum, a editar em breve, figurava como motor deste concerto. O “nervoso miudinho de estrear novas canções”, nas palavras da Manuela, é aplacado pela sua energia, alegria e presença inigualáveis.
Os novos temas, musicados por Helder Gonçalves, com letras de Samuel Úria, Capicua e Sérgio Godinho (…) em parcerias (tão) felizes, cruzam-se com os sucessos de sempre.
“Sangue Frio”, entoado a um só voz; “H2Omem” e “A Paz Não Te Cai bem” entrecalam novos temas, como o genial “Este Armário”, que marca a estreia da colaboração Capicua/Clã.
“Asas Delta” e “Dançar na Corda Bamba” ecoam em uníssono pelo recinto, com o público a saltar e a dançar, ao som da energia contagiante da banda. À nova música, parceria com Sérgio Godinho – uma colaboração que já resultou no disco “Afinidades – Clã e Sérgio Godinho” (2001), segue-se o tema “O Sopro do Coração”, cujos versos o público sabe de cor.
Ao som de “Tenho Asas Nos Pés” entoado pelo público, os Clãs abandonam o palco, mas continuam a “saltar” por lá, porque “a dança nos vai juntando”. Os novos temas – e que temas!, foram ontem apresentados na Régua e fazem já parte do mundo.
David Fonseca, a festejar 20 anos de carreira, sobe ao palco com o seu “Radio Gemini” à 1h45 – o músico, cantor, compositor português esteve imparável!
“Superstars”, “Our Hearts Will Beat as One”, “Get Up” e “Resist” a um só fôlego com o one man show a mudar vertiginosamente de instrumentos, a dançar, a saltar, a eletrizar, a tomar conta do palco….
Ao “Kiss Me, Oh, Kiss Me” e à primeira parceria Régua/Fonseca ao som de “Ela gosta de mim assim”, com o público a fazer coro ao “Ela gosta de mim assim / Ela é perfeita para mim”, segue-se o “Futuro Eu”.
As introduções, os jingles, o twist de vozes a lembrar um programa de rádio, apoiados por cenários de luzes fantásticos e pelo ovacionado David Fonseca, ao som de “Lullaby” e “Lazy” são alguns dos momentos inesquecíveis. A que se junta a homenagem à música portuguesa e a um músico de sempre, com “O Corpo É Que Paga”, de António Variações.
“What Life Is For” e “Stop 4 a Minute” são os temas que se seguem, com David Fonseca a circular pelo público, de guitarra em punho. Tempo ainda para o velhinho “Borrow”, a matar saudades dos anos 90 e dos Silence4.
A festa ainda estava longe do fim, com o tema “I Just Can’t Get Enough”, dos Depeche Mode a tomar conta do festival. Um “cão” a dançar no palco, bolas gigantes a sobrevoar o público e confettis criam um ambiente perfeito, numa noite que já vai longa, mas que ninguém quer ver terminar.
David Fonseca, extraordinário, lança o tema que faltava – dos muitos que fizeram falta!: “Oh, My Heart”, com confettis vermelhos em forma de coração a “planar” pelo recinto. (Quase) duas horas de um concerto que o tempo não pode medir!
O Douro Rock recebe hoje os Keeps Razors Sharp, Dead Combo, Mão Morta e Jorge Palma, com foco na participação especial dos Dead Combo com Jorge Palma, juntos em palco, desafiados pela organização, para um dos momentos da noite.
Os bilhetes para o Douro Rock têm um custo de 15 euros.