Evil Live Festival: Reencontro Em Noite De Metal Com Soulfly, Alter Bridge E Ressurreição Dos Pantera

Reportagem de Tiago Silva (texto) e António Silva (fotografia)

Pantera no Evil Live Festival
Pantera no Evil Live Festival

Apesar de estar a decorrer no Altice Arena, um espaço com fragilidades acústicas, a população metaleira acorreu em força para ver os cabeças de cartaz do festival Evil Live: Pantera.

A julgar pelas t-shirts que se passeavam era Soulfly ou Pantera que queriam ver.

Pelo meio algumas, poucas de Alter Bridge.

Para arranque das atividades havia Mammoth WVH, banda do filho de Eddie Van Halen, Vended do filho de Corey Taylor e os Elegant Weapons banda de Richie Faulkner dos Judas Priest.

Mas o foco era nos três nomes grandes.

Soulfy deram um concerto cheio de energia, as músicas prestam-se ao movimento.

Desde o arranque com “Back to the primitive” que a multidão não parou de saltar, crowd surfing, sing alongs.

Max Cavalera, já tinha, juntamente com os Sepultura, lançado a planta do que seria o Nu Metal, com o lendário Roots. Após a sua saída continuou esse processo com os Soulfly.

Juntando ritmos tribais com riffs pesados criam uma atmosfera cheia de Groove a que só os mortos resistem.

Música para “Detonar essa porra” e o público cumpriu. Max traz também o seu filho, Zion, na bateria, que parece seguir as pisadas do tio e é um monstro no kit.

“Downstroy”, “Seek and strike” e a inevitável “Bleed” criaram rodas quase de parede a parede.

No final, tudo no chão para só saltarem quando ele disse “jumpdafuckup”, para quem estava nas bancadas foi como ver o mar a elevar-se, mas com pessoas.

Um concerto brutal de um senhor da música extrema.

Alter Bridge
De seguida vieram os desgraçados de serviço.

Entalados entre dois monstros de palco, Soulfly e Pantera, reconhecido pelos próprios, tinham uma tarefa muito ingrata, mas iam fazer o melhor que sabiam.

E uma das soluções foi ter um som tão alto que até quem tinha tampões sofreu para os ouvir.

Nítido, mas nas notas mais altas pura e simplesmente desparecia o som da voz.

“Adicted to Pain”, “Blackbird”, “Pawns and Kings”, “Rise today” foram pontos altos de uma boa banda e que conseguiu puxar pelo seu público que estava lá para os ver.

Apesar do mau som, deixaram uma boa impressão, força do trio de canções final: “Rise today”, “Metalingus” e “Open your eyes” terminaram um bom concerto que merecia melhor colocação no alinhamento, para não parecer fraco por comparação.

Pantera
Podemos dizer que os Pantera perderam a alma e o coração, mas não perderam o cérebro.

Um cérebro que sabe que há poder na nostalgia, e também há dinheiro.

Phill Anselmo reuniu-se com Charlie Benante, dos Anthrax e Zakk Wilde para fazer renascer os Pantera já que, uma reunião com Dimebag e Vinnie vivos, nunca foi possível.

A história está contada, sabemos que uma das razões deles terem parado foi ele, mas também sabemos que uma das razões de eles serem o que são é ele.

Foi com Phill que eles passaram de uma banda de hair metal sem personalidade para a máquina de metal, cheia de personalidade, que dominou o mundo nos anos 90. E que era impossível escapar, passava na MTV, nas festas das escolas, nas discotecas.

Numa altura em que já existia o grunge, em 1994, em vez de se tornarem mais comerciais, foram ainda mais pesados com o “Far Beyond Driven” e isso tem a marca de Phill Anselmo.

E marcaram a época. Dimebag marcou o mundo da guitarra, com riffs que nunca mais ninguém conseguiu recriar, apesar de todos lhe prestarem homenagem como sendo a inspiração.

E foi assim, com este misto de raiva e saudade, que o atlântico encheu.

Queremos ficar zangados com ele, sentimos que ele é como o nosso irmão mais velho que nos deixou enquanto adolescentes e voltou ao fim destes anos todos como se não fosse nada. E temos raiva.

Mas ele sabe manipular o público.

Vídeos do Vinnie e do Dimebag aparecem e o público bate palmas, há lágrimas, gritos, palmas e quando entram com “New Level”, a raiva já se foi e o amor voltou.

Queremos continuar irritados com ele, mas ele sabe falar ao coração com “mouth of war” e lá vamos, os Pantera estão aqui.

Já não tem a mesma genica dos anos 90, mas as canções mantém-se poderosas.

Zakk faz um trabalho irrepreensível de respeito pelo legado de Dimebag. Apesar da desconfiança, era preciso voltar a ouvir estas músicas ao vivo.

Phill pergunta quem nos viu nos anos 90 e só meia dúzia de mãos se levantam, estamos também a exorcizar traumas de infância, “a minha mãe não deixou” ouvia-se.

Sempre a dizer para cantarmos, mas quase nem era preciso, havia mosh, crowd surfing e muitas gargantas que lançavam as letras para o ar.

“5 minutes alone”, “I’m broken” (com chamas e explodir), “Fucking hostile”, tudo a mexer, quem não foi ao ginásio também já não precisa.

“Cemetery gates” já não é possível de cantar, a voz já não é o que era, algumas falhas, mais gordo, mais velho.

“Walk” partiu tudo, os Soulfly vieram ajudar à festa e acabaram com “Cowboys from hell”.

No final as pazes estavam feitas, já havia amor outra vez. Há muitos anos que se devia ter tido esta conversa de reconciliação. Agora queremos mais.

O Evil Live Festival tem mais uma sessão esta quinta-feira. Atuam The Voynich Code, Blind Channel, Fever 333, Meshuggah, papa Roach e Slipknot.

Ainda há bilhetes à venda nos locais habituais e custam 70 euros.

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