O jantar no Gusto by Heinz Beck, este sábado, abriu o desfile de estrelas Michelin no hotel Conrad Algarve. Oportunidade para provar as mais surpreendentes criações de premiados Chefes do mundo inteiro e observar, através da cozinha aberta, como tudo se processa até chegar ao prato. O Gourmet Culinary Extravaganza vai continuar até ao dia 31 de outubro.
Sete pratos de assinatura, combinados com uma seleção de vinhos portugueses compuseram a primeira refeição do Gourmet Culinary Extravaganza. Neste jantar que teve lugar no restaurante Gusto, participaram Heinz Beck (3 estrelas Michelin), Sydney Schutte (2 estrelas Michelin, Waldorf Astoria Amesterdam), Roel Lintermans (1 estrela Michelin, Waldorf Astoria Berlin) e Matt Tebutt (Hilton Bournemouth). Este é, para Joachim Hartl, diretor do hotel, uma oportunidade para as pessoas “terem uma experiência diferente no hotel. Todos sabemos que a gastronomia produz emoções”. Além do sol e das excelentes condições que o resort já oferece, os clientes podem também sair com memórias marcantes no que toca a uma experiência gastronómica única.
A noite começou no Gusto Bar. Nelson Matos, brindou-nos com “Homenagem”, um cocktail com o qual alcançou a distinção Bartender of the Year e que criou de tributo ao Algarve, região de onde é natural. Tem base de gin e depois uma concentração de sabores do Algarve como a tangerina e as amêndoas. A acidez da bebida abriu-nos as papilas gustativas para o que se seguiu.
Com as mesas postas, antes de entrarem os convidados, a azáfama já era grande na cozinha aberta para a sala de jantar. Esta é uma das particularidades interessantes deste restaurante. A possibilidade de ver, no momento, tudo o que está a acontecer na fase de preparação do prato. A curiosidade sobe de tom quando sabemos que do ouro lado do balcão estão em plena atividade, premiados Chefes e as suas equipas. Ao longo dos três dias de evento, o Conrad Algarve recebe 36 convidados, entre chefes e assistentes. Nesta primeira noite, passaram pela cozinha cerca de duas dezenas de cozinheiros, e em determinados momentos, temos dificuldade em acompanhar a “coreografia”. Certo é que o resultado que nos chega à mesa é sempre surpreendente.
Foram cerca de 70 convidados neste primeiro jantar. A saudação de Heinz Beck chegou em modo de taco, com um liofilizado de cogumelos, com maionese de wasabi e ovo de codorniz. Seguiu-se um amuse bouche com cogumelos, puré de abóbora, cebolas e cremoso de castanha.
Como se consegue estruturar uma ementa, que faça sentido, com tantas vedetas envolvidas? Heinz Beck explicou-os que pediu sugestões de pratos a cada um dos chefes e em função dessa combinação, acrescentou as suas próprias criações.
É de Sidney Schutte o primeiro prato assinado da noite. Uma interessante combinação de bivalves com frutos vermelhos, chouriço de sangue, pistachio. Uma espécie de véu semi transparente cobria os ingredientes dispostos no prato, emitindo um alerta extra aos sentidos. Miguel Martins juntou-lhe o Principal Rosé 2010 da Bairrada. “Este vinho tem casta dominante de Pinot Noir e é servido com uma temperatura ligeiramente mais alta”. Uma excelente escolha, atendendo à complexidade do prato.
Heinz Beck, o anfitrião do Gourmet Culinary Extravaganza, deu continuidade à refeição. O sorriso sempre posto e a simpatia com que se dirige a todos os que o abordam, fazem com que admiremos ainda mais o seu talento.
Trouxe, para este jantar, três propostas, duas das quais em estreia absoluta. Quando tentamos saber mais sobre a inspiração e a escolha de ingredientes, atendendo à sua falta de disponibilidade, uma vez que dirige outros restaurantes espalhados por todo o mundo (entre eles o La Pergola do Waldorf Astoria de Roma ou o Sensi do Waldorf Astoria doDubai The Palm), dirige os holofotes para Daniele Pirilo, o chefe que tem a orientar o Gusto do Conrad Algarve. É este jovem de 30 anos, natural de Milão, que já trabalhou com o chefe em Itália que, neste momento, o mantém a par do que acontece neste espaço.
O primeiro prato, que foi para nós, o melhor da noite, trouxe Carpaccio de vieiras servida da trufa branca. O mais interessante neste prato é a confusão que promove nos sentidos. Os alimentos sofrem transformação dentro de portas e, ao serem colocados no prato, trazem todo o sabor, mas uma consistência, textura ou forma inusitada. Os pequenos cilindros cor de laranja são cenouras? Perguntamos a um dos empregados. Ele confirma, mas quando as vamos trincar, parecem gomas. Esponjas que se desfazem na boca e a banda sonora que acompanha a refeição é de “huuuummmm….hummmmm” sempre a rimar com “que delicia”!. António Lopes juntou a este prato o Muros de Melgaço 2011. Um vinho verde, com um toque de maresia , com frescura para amparar o prato cremoso e quente.
Tonno Tonnato, o prato que se segue, é uma brincadeira ao prato tradicional italiano de novilho de vitela com molho de atum. De facto, ao olhar para o prato, temos duas fatias de “carne” vermelha e uma espécie de pó beige. Acontece que a aparente “carne” é, na verdade, atum. Já a neve que o acompanha, ainda que tenha uma forma diferente, a memória não nos atraiçoa. Sabe ao atum de lata que todos tão bem conhecemos. Sérgio Antunes escolheu o Somnium 2013 Douro que o acompanhou. Um vinho feito a partir de vinhas velhas, muito mineral, fresco e elegante, que não se sobrepôs ao prato.
Os raviolis são a grande especialidade deste chefe. Para esta ementa trouxe uma receita de recheio de pato, com cogumelos iofilizados à qual acrescentou, de forma personalizada, indo de mesa a mesa despejar no prato de cada um, uma infusão de agulhas de pinheiros. O vinho Pai Abel 2014 da Bairrada foi a escolha de André Figuinha para este prato.
Na cozinha entrou depois Roel Lintermans, que preparou um tamboril de tandoori, com limão e azeitonas verdes e puré de maça. Um prato exótico, que nos embarcou numa viagem a outras latitudes, promovida pela fresca combinação de tandoori com o limão. O Sommelier João Chambel harmonizou com Duvalley Grande Reserva Branco Douro 2011.
A proposta mais arrojada da noite veio de Matt Tebutt. O Chefe criou um prato de rabo de boi estufado com salmonete grelhado. Um choque que se fez pela combinação de dois principais ingredientes bem intensos. Explicou-nos Matt Tebutt que gosta tanto de carne como de peixe e na indecisão, escolheu os dois! Este é também um prato de contrastes na sua essência, um equilíbrio entre uma matéria mais nobre, que é o salmonete com uma mais democrática: o rabo de boi. Ricardo Morais escolheu o único tinto da noite. O Pomar do Espírito Santo Reserva 2013 de Lisboa.
Antes do prato de sobremesa que constava do menu, foi servido um de manga, em várias formas, que foi uma espiral de surpresas (petezetas incluídas!). Com um delicioso crumble de nozes e um toque de magia na esponja de chocolate branco.
A sobremesa foi criada por Heinz Beck, que na sua linha de preocupação de criação de uma alimentação saudável, fez um doce não tão doce assim, cheio de sabor e textura. Um semifrio com frutos vermelhos com canela crocante. A fechar, um Porto selecionado por Carlos Monteiro. Seara d’Ordens L.B.V. de 2011, uma escolha elegante e fresca.
O Gourmet Culinary Extravaganza continuou hoje com um Barbecue Brunch no Dado Q orientado pelo chefe Joe Barza. À noite, há jantar de gala, num espaço improvisado na garagem do Conrad Algarve: o Undergroung Culinary Extravaganza que reune 8 chefes com um total de 15 estrelas Michelin, ao qual se juntam uma equipa de sommeliers com propostas de vinhos portugueses.