Na primeira de duas noites há muito esgotadas, o Grande Auditório da Culturgest vivenciou, em suspenso, a apresentação do último trabalho de Camané: Infinito Presente.
As vozes da plateia calaram-se assim que, ainda no reboliço da procura dos lugares, se começou a escutar a voz de Camané, sentado numa discreta mesa no palco. Enquanto as luzes da plateia iam diminuindo de intensidade, foram entrando, também discretamente e atrás de uma tela, Carlos Manuel Proença, Paulo Paz e José Manuel Neto.
As luzes apagaram-se, as cordas começaram a gemer, e, a primeira parte do concerto fez desfilar uma raposódia de temas que Camané foi imortalizando antes deste novo disco. Sobe a tela, os músicos deslocam-se para o lado esquerdo do palco e as primeiras palavras de Camané: “Boa noite a todos. Muito obrigado. A ideia, no início do concerto, foi relembrar um pouco os fados que fui cantando … e agora é Infinito Presente. Obrigado por estarem aqui esta noite.”.
Ficou revelado que o tempo é o fio condutor do Infinito Presente. Tem fados tradicionais, poemas antigos e até fados que o bisavô gravou em 1925; tem fados mais contêmporaneos de Manuela de Freitas, Vitorino ou José Mário Branco. Referências ao passado e ao presente. Sonoridades a perpetuar no futuro.
Foi assim na noite de 24 de setembro. Será assim no dia seguinte.
Reportagem de Madalena Travisco, fotografias de Tânia Fernandes