“Meus amigos. 16 anos passaram. Vocês não deram conta, nem eu.. 16 anos maravilhosos. Cheios dos vossos sorrisos, das vossas palmas, do vosso carinho. E de me fazerem uma das mulheres mais felizes de Portugal por poder espalhar a cultura por todo o mundo e, com a vossa bênção, tudo e possível, tudo é possível: Levar o fado é possível, cantar português é possível ” É meu e vosso este fado …” – Esta e outras frases e muitos fados marcaram o concerto de Mariza, ontem à noite no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
O palco redondo ao centro da plateia deixava adivinhar que Mariza passaria por ali no primeiro de dois concertos no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em noite de São Martinho. E aos acordes do Fado “Menor do Porto”, entre aplausos, entra Mariza para ali: “(…) Amigos, Gente da Minha Terra, sejam bem vindos. É um prazer enorme voltar a ver-vos. Eu chamei-vos; Vocês vieram. Obrigada. Muito obrigada. Trago-vos o meu mundo de volta(…)”.
O Fado Magala – “Recusa” dá resposta ao que é ser fadista ou o próprio fado e segue para aquele que, dentro dos fados tradicionais, é o preferido de Mariza: “Primavera”.
Os sons de “Missangas” garantem uma transição tranquila (mas animada) para o palco principal e até o vestido de Mariza, que era preto, mudou para encarnado. É agora a vez de uma morna “Padoce di céu azul” (“Cretcheu, cretcheu – once forever, once for all”), aroma de Cabo Verde, em que cretcheu significa amor.
“Chuva” – tema de Jorge Fernando que Mariza disse estar presente na sala – é momento alto em todos os concertos, tantos são sempre os aplausos. Mais uma vez não foi exceção: “As coisas vulgares que há na vida não deixam saudades(…) Há gente que fica na história da história da gente/e outras de quem nem o nome lembramos ao ouvir”.
Mariza revela que descobriu que o amor é a coisa mais importante do livro da vida e que sem amor, a vida não tem gosto. Sendo importante dizer que amamos, dedica ao marido “Sem ti” de Miguel Gameiro, mas apenas nos dias bons. Nos dias maus, não lhe canta “sem ti sou metade/ sem ti não sou eu (…)”.
De Paulo de Carvalho trouxe o fado do peito no “Meu fado meu” antes do segundo momento muito alto da noite: um tema oferecido pelo Maestro Tiago Machado com letra de Boss AC que já inspirou muita gente e deu até origem a homilias pelo Padre Vitor, também presente na sala: “O melhor de mim”. Este refrão: “É a vida/ que segue e não espera p’la gente/ cada passo que damos em frente/ caminhamos sem medo de errar (…) Sei que o melhor de mim está p’ra chegar”, foi cantado pelo público e arrancou intensos aplausos de pé.
“Sombra” antecedeu a “Alma” castelhana (“no puedo dormir sin el latido de tu voz”) e “Rio de Mágoa” de Mário Pacheco com letra de Rosa Lobato Faria.
Houve tempo para os intemporais “Barco Negro”, “É ou não é”, “Rosa Branca”, sendo que a rosa mais linda é a mãe que está na sala.
“Muito obrigada. Muito obrigada. Muito obrigada. (…) aos músicos de excelência: Pedro Jóia na guitarra acústica, José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Yami no baixo, Vicky Marques na bateria e percussão (…)”
(…) A toda a equipa que não se vê e que faz com que tudo seja possível.(…) Aos poetas, aos autores, aos compositores, a todos, o meu obrigada (…) Fazer música tem que ser com paixão e é assim que vou terminar o concerto esta noite” – introduzindo o tema “Paixão”, o último do alinhamento.
Mas não terminou assim. O público apaixonado pediu mais. Mariza regressou ao pequeno palco colocado ao centro da plateia do Coliseu. Recordou o legado do fado que recebeu na taberninha dos pais. Desde letras escritas em toalhetes das mesas até às vozes que teve o privilégio de ouvir. Quis regressar às raízes com um Fado Frankelin (sextilhas) cantado sem amplificação.
Seguiu para outro reino: o do filho Martim (sentado no “trono mãe”) a quem voltou a dedicar “O tempo não pára”. Choveram aplausos.
”É meu e vosso este fado …” traz o inevitável “Ó gente da minha terra” calcorreado entre e no meio da plateia num enorme crescendo de emoção, olhos arregalados e aplausos.
“Saudade solta” marcou o final do concerto em tom de festa com confetis e balões gigantes.” Nós gostamos de nos despedir com muita energia”.