O ato de picar o ponto, o movimento das máquinas de escrever e o ritmo de trabalho fabril são as marcas de uma dança que, combinada com o swing e a valsa, recuperam as lembranças da atividade na Fundição de Oeiras. As Memórias de Luz de Oeiras estendem-se, este ano, dos Jardins do Marquês de Pombal à Igreja Matriz de Oeiras e recordam a intensa atividade no período da era Industrial.
O percurso imersivo multimédia volta a dar vida a Oeiras esta sexta-feira, sábado e domingo, entre as 22h00 e a 01h00. O evento dá continuidade ao espetáculo As Noites Encantadas do Palácio que, em 2015, assinalou a abertura do Palácio do Marquês de Pombal ao público. Nesta edição, o público terá oportunidade de rever as quatro instalações de vídeo mapping projetadas nos jardins e continua pelo Centro Histórico de Oeiras. O trajeto percorre as ruas 7 de Junho de 1759 e Febus Moniz, onde os visitantes têm contacto com os personagens que depois figuram na apresentação patente na Igreja Matriz.
Nuno Maya, do atelier OCubo, responsável pela conceção artística deste projeto, admite que este é um local especial para ele, pois foi nesta tela natural que teve oportunidade de projetar o seu primeiro trabalho de vídeo mapping em 2004. Se à época trabalhou o Génesis, agora o tema caminhou no tempo até à era da revolução industrial. Estamos em plena atividade da Fundição de Oeiras, e este projeto pretende recriar o ambiente que se viveu, numa interpretação muito própria, marcada pelo ritmo do swing, da valsa e dos próprios sons industriais.
Nuno revela-nos os detalhes de um trabalho que se prolongou por cerca de três meses. “Estiveram cerca de 16 atores em estúdio, e até os técnicos que lá trabalham participaram neste trabalho. Eu próprio sou uma das personagens deste vídeo! As cenas foram gravadas em modo mais lento, para depois, ao sincronizar as imagens com o som, o resultado fosse um pouco “acelerado” a fazer lembrar os filmes do Charlie Chaplin”. O trabalho de edição foi o mais moroso pela colagem dos movimentos à música de Sylvain Moreau, criada para este projeto. “Foi um grande desafio!” admite Nuno Maya e o resultado, na antevisão, provou que irá ser um sucesso.
O percurso destas Memórias de Luz tem início no novo portão, junto à adega. Começamos por admirar a bela escultura das 4 estações, iluminada, que Nuno Maya nos diz ter sido a inspiração de todo o trabalho de vídeo mapping desenvolvido nos jardins do Marquês de Pombal e estreado em 2015.
Na adega assistimos ao ciclo anual do trabalho do povo, sempre sob o olhar de supervisão do Marquês. Percebemos que é a terra e os seus rituais que marcam o desenrolar do ano, com a produção de vinho e cereais a envolver a produção. O rio, à época, encontrava-se muito mais próximo da vila e daqui partiam as barcas carregadas de pipas. Atravessamos os jardins e podemos “pintar” a cascata de acordo com as imagens criadas para os quatro poetas que lá residem, na instalação interativa. Detemo-nos depois na fachada do palácio para apreciar a recriação da vida dos nobres, mais uma vez, ao longo das quatro estações. Os seus jogos, os costumes e indumentárias permitem-nos regressar a um momento histórico. Já à saída do palácio, uma outra projeção multimédia realça a beleza dos azulejos.
Nuno recorda-nos que “para a execução deste trabalho, fotografámos os azulejos do palácio, fizemos depois um longo trabalho de restauro nos desenhos, de forma a que não se notassem as marcas do tempo e das quebras do esmalte, para depois lhes dar vida, numa animação à qual não falta o próprio Marquês estilizado”.
Na fachada da Câmara Municipal passa, mais uma vez, a História da vila de Oeiras e do Marquês de Pombal, com os episódios marcantes da sua vida, como foi o terramoto, em 1755. O percurso segue depois na direção da Igreja Matriz.
A ideia de Paulo Vistas, Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, é dar continuidade a este projeto de recuperação de Memórias de Luz em anos subsequentes. Trata-se de um momento cultural importante para a cidade, em que as pessoas são convidadas a passear em espaços que habitualmente se encontram fechados a esta hora do dia e também de dar a conhecer momentos importantes da história. “Oeiras tem muitas memórias para recuperar!” diz-nos.
Memórias de Luz pode ser visto nos dias 5, 6 e 7 de agosto, entre as 22h00 e a 01h00. A entrada é gratuita.