O Museu Nacional de Arte Antiga, às Janelas Verdes, apresenta a partir de hoje, na Sala do Tecto Pintado, a mostra Almada Negreiros e os Painéis. Um Retábulo Imaginado Para O Mosteiro Da Batalha.
A exposição, que vai ficar patente ao público até dia 10 de janeiro de 2021, “assinala o início de uma grande campanha de restauro dos Painéis de São Vicente, atribuídos ao pintor Nuno Gonçalves, coincidindo com a efeméride dos 50 anos da morte do pintor José de Almada Negreiros (1893-1970), que sobre esta obra nos deixou importantes contributos
teóricos” e é da responsabilidade de Simão Palmeirim, com a colaboração do
investigador Pedro Freitas.
Almada Negreiros (1893-1970) é uma figura maior do modernismo português. Dedicou-se ao desenho, à pintura, à literatura, ao teatro, e, ao longo dos anos, à procura de um fundamento universal para a criação artística.
Ao longo de décadas, Almada elaborou uma proposta de agregação de múltiplas pinturas deste Museu, imaginando-as num retábulo único, que incluía os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves. Baseando-se em pressupostos geométricos, definiu o posicionamento das obras, sugerindo que o seu destino original seria a Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha. Esta sua investigação resultou numa produção ímpar, esbatendo fronteiras entre investigação e criação de arte.
Recentemente, algumas das suas obras foram objeto de estudo por parte de investigadores das áreas da matemática e das belas-artes, interessados na compreensão dos traçados geométricos em causa, o que permitiu o restauro da obra até hoje inédita Estudo em fio dos painéis de São Vicente (1950), para esta ocasião.Deve-se a Almada Negreiros, fruto da sua análise da perspectiva do pavimento de ladrilhos dos painéis, a atual disposição retabular adotada no MNAA. Almada Negreiros interessara-se pelos Painéis de S. Vicente desde os anos 20 do século passado, voltando a esta pesquisa na década de 50, agora com claro reflexo sobre a sua própria pintura.
Descobertos no final do século XIX, foram expostos no Museu Nacional de Arte Antiga pela primeira vez, depois de restaurados, em 1910, ao tempo apresentados como dois trípticos. A ideia que Almada desenvolveu nos últimos estudos, já da década de 50, era a de que toda a obra atribuída a Nuno Gonçalves provinha de um único retábulo formado por 15 painéis que teria sido projetado para a Capela do Fundador do Mosteiro da Batalha. Publicou então, em algumas entrevistas, uma série de imagens a ilustrar essa hipótese, incluindo desenhos, fotografias e fotomontagens. Alguns dos trabalhos visuais que o artista preparou para apoio das suas teses podem ser vistos, pela primeira vez, em 2020, no Museu Nacional de Arte Antiga e no Mosteiro da
Batalha, monumento onde decorrerá, em simultâneo, uma exposição dedicada também ao trabalho analítico de Almada Negreiros.
Nesta mostra podem-se ver ainda Os quinze painéis na Capela do Fundador (1960), obra nunca antes apresentada na sua forma completa, e dois desenhos, também inéditos, que mostram como a partir de uma pintura do Museu Ecce Homo Almada Negreiros desenvolveu o seu caminho para a abstração.
Comissariada por Simão Palmeirim, com a colaboração do investigador Pedro
Freitas, “a exposição do MNAA propõe uma reflexão sistemática sobre o contexto da
produção destes estudos no próprio percurso intelectual de Almada Negreiros, a sua
metodologia de trabalho bem como as implicações das suas (re)construções num
entendimento global da obra de arte, que cria submetida a um conhecimento
geométrico ao qual chamou Cânone”.
A exposição temporária Almada Negreiros e os Painéis. Um Retábulo Imaginado Para O Mosteiro Da Batalha, pode ser vista no Piso 1/Sala 50/Sala do Tecto Pintado, de terça a domingo, das 10h00 às 18h00, até 10 de janeiro de 2021.
O bilhete para ver a exposição está incluído no bilhete de visita ao museu e custa 6 euros, podendo ser adquirido na bilheteira do museu.