Moonspell – MEO Arena Sucumbe Ao Feitiço Da Lua

Reportagem de João Barroso (texto) e Diana Silva (fotografia)

Moonspell

O quarto era minguante, mas, ao ocaso deste sábado de outono, já a MEO Arena se mostrava preparada para sucumbir ao feitiço da Lua Cheia.

Foi há um ano, por ocasião do Halloween, que os Moonspell anunciaram o espetáculo que os juntaria à Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo: uma performance “full power, puramente eléctrica e épica”, que contaria com 45 músicos em palco, para além dos elementos da própria banda, sendo que os arranjos seriam da responsabilidade do pianista e compositor Filipe Melo.

Pouco passava das 22h, quando “cordas e harpas, timbales e tambores” começaram a “tanger e a ranger”, tal como descrito no Livro do Desassossego. Porém, não era uma “orchestra occulta”, mas a Sinfonietta de Lisboa. A peça composta para a abertura do concerto daria o mote para o que se seguiria…

Uma noite para a eternidade.

Entretanto, entram em cena Pedro PaixãoRicardo AmorimHugo RibeiroAires Pereira e Fernando Ribeiro. Os Moonspell. E a primeira viagem é no tempo…

Recuamos até ao primeiro de novembro de 1755, data em que um sismo devastador, seguido de um maremoto de proporções épicas, destruiu a maior parte da cidade de Lisboa e a vida de dezenas de milhar de pessoas… Este episódio, juntamente com o Poème sur le désastre de Lisbonne, de Voltaire, serviria de inspiração para o álbum, integralmente cantado em português, que a banda da Brandoa lançaria em 2017, o 1755, precisamente. ‘Em Nome do Medo’ é o primeiro tema que se faz ouvir: escrita originalmente para o disco Alpha Noir, de 2012, a música seria recuperada para o 1755.

Seguem-se ‘1755’, canção que dá nome ao referido disco, e ‘In Tremor Dei’, tema que canta uma “Lisboa em chamas” e que termina com uma saudação de Fernando Ribeiro: “Boa noite a todos!”

Depois, ‘Desastre’ e ‘Ruínas’. A sequência natural, quando falamos de uma catástrofe.

“Preparados para uma noite under the spell?”, pergunta Fernando Ribeiro. “Obrigado por terem marcado presença numa ocasião tão importante para nós.”. Fala de um sonho tornado realidade. Atuar na Meo Arena, em nome próprio e na companhia da Orquestra Sinfonietta de Lisboa, a quem agradece, na pessoa do Maestro Vasco Pearce de Azevedo. Ouvem-se marés de aplausos. Grita-se “Moonspell!”…

“Começámos com o 1755 e vamos seguir com o Extinct [registo de 2015].”, informa Fernando. No fundo, continuamos a viver num cenário apocalíptico, potenciado pelo poder da orquestra.

Seguimos ao som de ‘Breathe (Until We Are No More)’, música que, como tantas outras compostas pela banda, transpira sonoridades arábicas: afinal, os Moonspell também cantam a portugalidade e os aromas do Médio Oriente fazem parte da nossa herança cultural. “As mãos pelos Moonspell!”, escuta-se, durante o solo.

“Obrigado, Lisboa! Antes da extinção, tudo pelos Moonspell!”, escutamos. E ouve-se ‘Extinct’: “A taste of your lips, before we go extinct”, é o que se pede, entre rajadas de fogo-preso, que nos aquecem o corpo e a alma.

É hora de embarcar no Memorial, álbum de 2006. As paredes da sala estremecem ao som de ‘Proliferation’, faixa exclusivamente instrumental e que assenta, como uma luva, na Orquestra Sinfonietta de Lisboa. Na sequência, ‘Finisterra’. “A light at the end of the earth…

“Vamos, agora, para o The Antidote.”, anuncia Fernando Ribeiro, referindo-se à obra lançada em 2003, em conjunto com um livro de José Luís PeixotoO Antídoto, inspirado, precisamente, pelas letras das canções que compunham o disco. Ou vice-versa. A verdade é que, na ocasião, as duas formas artísticas se fundiram sob a mesma história e conceito. “Estamos felizes!”, continua Fernando. “Quando me falaram desta possibilidade, a minha cabeça ficou assim, sem saber o que pensar… Damos graças à nossa alcateia…”. Também houve espaço para palavras de agradecimento, em várias línguas, às muitas pessoas que vieram de outros países e a todos os que acompanhavam o concerto em livestream, um pouco por todo o mundo. “Bem-vindos a Lisboa!”, cumprimentou.

Agora, sim, ‘Everything Invaded’. O público acompanha a música com palmas, catalisadas pela bateria de Hugo Ribeiro, mas também se canta e abundam os tradicionais devil horns. “Isto é só para mostrar ao maestro que nunca irá tocar para um público destes!”, graceja Fernando.

“O tema que se segue é melancólico e encarna, na perfeição, esta junção, nada improvável, entre o Metal e a Música Clássica”, reflete Fernando Ribeiro. “É do Night Eternal!”. E ficamos com ‘Scorpion Flower’, “uma canção simples, sobre uma simples rapariga”, como tantas vezes já nos foi explicado.

Há mais devil horns, pelos Moonspell e pela Sinfonietta, e o ambiente muda. Sente-se o frio outonal, à beira-Tejo. Emerge ‘Vampiria’, tema extraído do registo de estreia da banda, o Wolfheart, de 1995, e um dos mais celebrados da noite. Tal como o seguinte, aliás. “O tempo voa e estamos a chegar ao final… Escrevemos esta música entre 1994 e 1995 e, ao longo dos anos, tornou-se o nosso hino: ‘Alma Mater’.”. Canta-se o hino, então, a plenos pulmões, enquanto Fernando Ribeiro passeia pelo palco, com uma bandeira nacional (as palavras “Moonspell” e “Alma Mater” escritas sobre o verde e o vermelho) e incorpora o maestro que vive em si, conduzindo o público, até à última gota de suor… No final, chuva de aplausos.

“Esta vai ser a última…”, anuncia o frontman. Antes do ponto final, porém, fazem-se agradecimentos à equipa técnica, a Filipe Melo, ao Maestro Vasco Pearce de Azevedo e à Orquestra Sinfonietta de Lisboa. Depois, sim, o epílogo.

“As mãos pelos Moonspell, uma última vez! E todos contam.”.

Chega ‘Full Moon Madness’. Outro hino. O quarto continuava minguante, mas, antes da meia-noite, já todos havíamos sucumbido ao Feitiço da Lua Cheia.

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