Se fosse vivo, Leonard Cohen faria ontem 83 anos. Apesar de ausente, o poeta-músico não está fora dos corações de quem sempre o ouviu, como referiu ontem Jorge Palma. Em Sintra, no Centro Olga Cadaval, escutaram-se ontem as canções de Cohen, no primeiro de quatro espetáculos agendados. E esgotados. Os interpretes são Mazgani, Miguel Guedes, David Fonseca, Márcia, Samuel Úria e Jorge Palma. Contribuem, também eles, com um bocadinho da sua forma de sentir a música, para este espetáculo tão especial.
A imagem de um grande chapéu suspenso, remete para a figura de quem se presta homenagem esta noite. É sob a sua lembrança que atuam as músicos e todos vão partilhando também como tiveram contacto com a sua música, de que forma foram influenciados e como está a ser feliz esta reunião de amigos.
As luzes baixam a intensidade ouve-se o poema “If It Be Your Will”, declamado pela voz original de Cohen em off. Mazgani é o primeiro a pisar o palco e interpreta-o. Pede desculpa pela “adulteração dos temas” e continua para “Take This Waltz”. Assistimos a reinterpretações de temas conhecidos, em que identificamos os estilos de cada um. Miguel Guedes é o segundo interveniente e traz o rock para “Tower of Song” para depois abrandar em “Suzanne”.
David Fonseca partilha que a sua aproximação a Leonard Cohen foi feita através de outra banda, os Pixies que tinham uma cover de “I Can´t Forget”. Poisou depois a guitarra para continuar com “Hey, That’s no Way…”, não sem antes partilhar que esta reunião tem sido uma autentica festa nos bastidores.
Passamos depois para uma espécie de ambiente de Oeste americano, com Samuel Úria na sua versão tão particular de “Everybody Knows”, seguida de “Lover, Lover, Lover” e “A Thousand Kisses Deep”.
Mazgani regressa ao palco, e com “Avalanche” também uma quantidade maior de chapéus suspensos surgem no ar.
Márcia anuncia-se como a “voz feminina da noite” e contribui com a sua doçura a este alinhamento. Depois de cantar a solo, convida Samuel Úria para com ele fazer o par romântico da noite e espalhar a emoção na sala. Cantam “Who by Fire” e “Dance Me” e dançam pelo palco, com o jeito de quem não tem grande experiência na matéria.
Miguel Guedes volta a entrar e encarna um personagem exageradamente masculino para “I’m Your Man”, libertando a intensidade da noite e dando lugar a alguns risos.
A noite vai longa e volta a um daqueles temas que já muitos interpretaram e todos conhecem. Para David Fonseca, a sua referência é, além de Cohen, Jeff Buckley. “Hallelujah” é acompanhado de sussurros, pois afinal de contas ninguém se quer sobrepor ao trabalho dos artistas em palco.
A entrada de Jorge Palma é recebida de forma efusiva. De todos os artistas da noite, é ele quem mais se aproxima de Leonard Cohen e, de olhos fechados, encontramos ali uma combinação quase mágica de dois grandes cantores. Abre a sua atuação com “Bird on a Wire” sozinho ao piano, e acompanhado só por duas vozes do coro. Passa por “First We Take…”, entre outras e fecha a noite com uma espécie de canção de roda de “So Long Marianne”. A cada refrão, entra um dos convidados da noite.
Mais de duas horas de conforto, em forma de concerto, que apetece voltar a ouvir.
Seguem-se os concertos na Casa da Música no Porto, a 27 de setembro, CAE da Figueira da Foz a 29 de setembro e Cine-Teatro Louletano a 10 de outubro.