Nick Cave Regressou Em Grande Ao Primavera Sound

Reportagem de António Silva e Tânia Fernandes

Nick Cave no NOS Primavera Sound
Foto: NOS Primavera Sound/ Hugo Lima

Há bandas com as quais vamos sendo condescendentes com o passar dos anos. Depois de assistir ao concerto de Nick Cave and the Bad Seeds, na primeira noite de NOS Primavera Sound ficamos com a certeza de que não tem de ser necessariamente assim. A idade e as amarguras que a vida lhe tem trazido, parecem dar-lhe ainda mais força para crescer em palco. Deu um concerto inesquecível, cheio de vitalidade do Parque da Cidade do Porto.

Os Festivais de Verão, estão de regresso, e a adesão ao NOS Primavera Sound, esta quinta feira, foi total. Vários palcos, com músicas para todos os gostos, distribuídos por um recinto muito bem organizado. A proximidade de alguns é um convite à mobilidade. Ouve-se umas músicas daqui, segue-se para o próximo, sempre de copo na mão. As coroas de flores na cabeça, indicam-nos que estamos no Primavera Sound.

Com o sol ainda alto, assistimos à abertura do palco NOS, com Pedro Mafama. Num palco com uma fatia significativa de visitantes estrangeiro, as sonoridades lusitanas são cartão de visita do país. cruza referências urbanas com a música tradicional. Vestido de cor de rosa integral, destacou-se no cenário de panos pretos, sempre com uma atitude de quem se quer fazer notar. “Não Saio” e “Algo para a Dor” foram alguns dos temas que se puderam ouvir. Um convite agradável, neste início de maratona musical.

Seguimos para o outro lado do recinto, onde o espaço e as bancadas já se encontravam preenchidos, à espera da entrada de DIIV. A banda de rock americana é de Brooklyn, Nova York, e foi formada em 2011. Pisaram o palco com vontade de conquistar, com um dos temas mais melódicos e adequados ao ambiente “Under The Sun”. Zachary Cole Smith, Andrew Bailey, Colin Caulfield e Ben Newman conseguiram logo por o público a dançar, antes de entrar com as guitarras em força. Combinam uma fúria de metal e grunge com uma dream pop. Foram uma das boas surpresas do dia.

De volta ao Palco NOS, Stella Donnelly entra com uma frescura arrebatadora. A cantora e compositora de indie rock australiana revela-se muito comunicadora ao longo de todo o concerto e é efusiva, no início, quando admite, que está “num palco maior do que o habitual”. No início de cada tema, fez questão de dar o nome e algumas indicações sobre o que ia cantar. “Mechanical Bull”, “Seasons Greetings”, “Boys Wll Be Boys” ou a nova “Lungs” fizeram parte deste alinhamento. Anda conseguiu por todo o público a dançar ao som de uma cover do conhecido tema australiano “Love is in The Air”, original de John Paul Young de 1977.

No palco Binance, fomos ainda ver o arranque do concerto de Kim Gordon. A cantora que tem intervenções conhecidas noutras áreas como a pintura e a moda, ganhou notoriedade por ter sido baixista e guitarrista dos Sonic Youth, a banda que formou ao lado do ex-marido, Thurston Moore em 1981. Kim Gordon veio apresentar “No Home Record”, editado em 2019.

Um pouco abaixo deste palco, o público juntou-se, esperou, e quase desesperou por Sky Ferreira. A artista de indie pop acabou por ter a sua atuação reduzida a meia dúzia de temas. Trazia grande expectativa, foi muito aplaudida nos (poucos temas) que apresentou, mas o concerto terá sido drasticamente encurtado, por questões de horário. O Rei subia ao palco às 21h20. Apresentou, entre outros, “24 hours” e “Nobody Asked Me” e ainda anuncou a estreia, ao vivo de “Don’t Forget”.

Nick Cave and The Bad Seeds deram duas horas bem preenchidas de concerto. O alinhamento era previsível, mas a forma como o interpretou foi tão natural e espontânea, como se cada cada canção tivesse sido entregue ao público do NOS Primavera Sound como uma experiência única, que não pode ser repetida noutro palco. Muito diferente da atuação de 2018.
O cantor passou grande parte do concerto junto do público. De mãos dadas com quem ali esteve a cantar com ele, olhos nos olhos, emoções ao rubro. Pediu, de forma educada, para baxarem os telemóveis e cantou, no meio da multidão, em comunhão. Em “Tupelo” e voltou a repetir aos tarde, é mesmo o público que lhe segura no microfone para ele, de braços abertos, fazer sair, pela voz, o que lhe vai na alma.
No palco, os Bad Seeds, são outro forma de entretenimento. O carismático músico e compositor Warren Ellis deixa-nos extasiados pela forma como toca o violino. Juntam-se-lhes Jim Sclavunos, Martyn P. Casey e um coro de gospel, composto por três elementos.
Começou com uma energa incrível com “Get Ready For Love”, que se extendeu ao longo do concerto. Excedeu-se em elogios para com o públco “Great collection of Portuguese people” e foi intenso em muitos momentos como “O Children”, “Carnage” ou “I Need You” em que ficou a solo, no piano. “Jubilee Street” começa em modo balada, mas um pontapé enérgico, a meio, muda o ritmo e passamos a estar no mais duro palco de rock.

Houve ainda tempo para um pequeno encore, em que trouxe um dos temas óbvios, em que pediu para ser acompanhado por todos “Sing along!”. E o hino “Into My Arms” foi um dos mas belos momentos da noite”
Nick Cave and The Bad Seeds na sua melhor forma. Um concerto sempre cheio de surpresas e bons momentos.

Depois, já com o cansaço das horas acumuladas, foi o momento de sentir o desconforto de estar num recinto completamente lotado: as filas intermináveis para comer, beber ou ir à casa de banho barravam o caminho a quem procurava outras sonoridades.

Cigarettes After Sex estenderam a dream pop, no melhor dos cenários. Não há tela de fundo ou cor para distrair. É para fechar os olhos e deixar navegar ao sabor de temas como “Apocalypse”, “Sunsetz” ou K.”, guiados pela voz de Greg Gonzalez.

Antes da dispersão, pelos ritmos mais eletrónicos, o público do NOS Primavera Sound voltou-se a concentrar para assistir ao concerto de Tame Impala. A pop psicadélica continua a ganhar força e à música juntou-se a luz e as imagens coloridas e alteradas da banda, projetadas nos grandes ecrãs.

O Nos Primavera Sound continua esta sexta-feira. Pelos palcos, vão passar nomes como Holy Nothing, Montanhas Azuis, Beach Bunny, Rita Vian, Maria Jose Llergo, Rina Sawayama, Shellac, Slowdive, Amaia, King Krule, Beck, Rollng Blacouts Costal Pever, Mvria, 100 Gecs, Arnaldo Antunes, D.Tiffany, Jehnny Beth, Pavement, Aurora Halal Live, Chico da Tina, SpecialRequest e Avalon Emerson.
Os bilhetes para esta noite, 10 de junho, ainda se encontram à venda e custam 74,75€ euros.

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