O cartaz da noite de dia 24 de julho era muito promissor, mas o balanço ainda superou. Numa noite de verão escondido ao vento frio, o calor da música, essencialmente portuguesa, o Parque dos Poetas encheu-se para ver e ouvir Mariza.
Mariza deu um estrondoso concerto no Estádio Municipal de Oeiras, mostrando, com a apresentação de temas do seu último disco, Best of Mariza, porque é que é embaixadora do Fado Património Cultural Imaterial da Humanidade. Apesar do sucesso, não faz questão de rotular-se como fadista; prefere ser alguém que gosta de cantar e de levar a música portuguesa aos quatro cantos do mundo. Mas não parou de surpreender. Invocou as origens mestiças, a família de todos os dias e a família musical, os poetas preferidos e os quatro heróis. Agradeceu aos músicos e companheiros de andanças – José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Pedro Jóia na guitarra acústica, António Barbosa no violino, Ruben Alves nas teclas e acordeão, Vicky Marques na bateria e percussão e Yami no baixo (e voz).
Em Oeiras, ouviram-se, entre tantos outros, temas como “Já me deixou”, “Chuva”, “Barco Negro”, “Primavera”, Há uma música do povo“, “Primavera”, “É ou não é”, “Rosa Branca”, “Feira de Castro” (…) e parecia não mais parar, num concerto com um alinhamento especialmente preparado para a noite em que Mariza voltou a cantar na zona de Lisboa. “Já tinha saudades!”- confessou logo ao início.
“Boa noite solidão”, de Fernando Maurício cantado no meio da plateia de um estádio – sem microfone – ameaçava ser a despedida de um belíssimo concerto de fado. Mas não foi. Por se tratar de um festival de jazz, Mariza – que acima de tudo gosta de cantar – trouxe também outros temas, de outros estilos: uma homenagem a Omara Portuondo (Buena Vista Social Club) – cabeça de cartaz da primeira noite desta edição do EDP cool jazz – com “El hombre que yo ame”; seguiram-se outras majestosas interpretações: “Fascinação” (Elis Regina), “I can’t help falling in love with you” (Elvis Presley); “Stop” (Lizz Wrigth) para entrar em temas mais pesados como o “Come as You Are” (Nirvana) que levantou os mais jovens das cadeiras.
Fez uma declaração de amor com o “I will always love you” – tema original de Dolly Parton mas imortalizado por Whitney Houston. O seu novíssimo “A Vida não Pára” foi um dos muitos momentos em que os arrepios de emoção superaram os arrepios de frio. A canção, com letra de Miguel Gameiro é absolutamente fascinante e foi um momento muito especial para quem vivenciou a interpretação.
“Muito obrigada a todos. Isto foi um encontro de amigos. Vocês são a Gente da Minha Terra” era o mote para o final de um espetáculo em que Mariza cantou no meio da plateia, bailou, puxou pelo público, saltou e rodopiou, terminando em festa – como gosta – com a “Rosa Branca”.
E se o concerto da Mariza arrasou, a primeira parte do concerto não poderia ter sido melhor. Ricardo Ribeiro e Pedro Jóia deram um espetáculo genial misturando modas alentejanas, fados e outros cantares portugueses com arranjos encostados à raia entre Portugal e Espanha. Houve um momento que contou com uma convidada muito especial … a própria Mariza numa interpretação combinada de dois fados do repertório de ambos, métrica do fado alexandrino e letras de Artur Ribeiro: “Quando Me Sinto Só” e “De mim para ninguém”.
Muitíssimo bom!