Enquanto que na sala principal da Altice Arena se ouviam as músicas de amor e luz do Eros Ramazotti, nas traseiras, na sala Tejo celebrava-se o Death Metal e a escuridão que reside no coração dos homens.
Numa sala quase esgotada tivemos o metalcore dos Melvolence, o Death Metal fundador dos Obituary, os Heaven Shall Burn e os Trivium.
No público era visível um mix de gerações e t-shirts de diferentes fases, o que seria de esperar, já que no cartaz temos uma banda fundadora do movimento Death Metal, os Obituary e outras mais recentes que o tentam expandir.
Corremos uma maratona, desde as 19h00 às 23h15, sempre sem parar. Qualquer um daqueles metaleiros, presentes naquela sala, faz a maratona de Lisboa desde que haja Death Metal a tocar.
Malevolence
A primeira banda já leva 3 discos e 10 anos de existência. Era visível que tinha fãs pela quantidade de t-shirts que se viam na frente do palco, um público mais jovem que parecia ansioso pelo arranque quando se ouviu “Bad Boys”.
Eram 19h00 quando a banda de Sheffield entrou em palco e o circle pit começou. Desde a primeira música, “Malicious Intent” que o moche começou. Um público que fazia questão de expressar a sua alegria pela música que ouvia. Esbracejam como se afastassem um enxame de abelhas, outros circulam a dar murros (que nem sempre acertam só no ar), uns até pontapés no ar dão. É o caos.
Alex Taylor, o vocalista, comunica logo com o público a pedir colaboração e já se via que a iría ter.
Continuam com “Life Sentence”, “Still Waters Run Deep”. Aqui o público parou um bocado o mosh para fazer ondas com os braços a pedido do vocalista.
A cada canção, além das palmas, ladravam em aprovação (sim, faziam o som de “au au” que os cães fazem). Agradeceram às outras bandas e dedicaram “Self Supremacy” ao pit que, não se fez rogado em criar uma Wall of death enorme. O vocalista aproveitou para um stage dive.
Estavam em sintonia, tanto a banda como os fãs.
Para descansar “Higher Place” com os telefones apontados ao palco. Uma balada a lembrar Pantera, aliás na t-shirt do guitarrista Konan Hall está lá a influência.
““Keep Your Distance” e “On Broken Glass” terminaram um concerto que eles dizem ter sido dos melhores. O público certamente gostou e adivinhava-se uma grande noite.”
Obituary
Agora era diferente.
Formados em 1984, os Obituary são considerados uma banda fundadora do movimento Death Metal.
Desde o sound check que se notou a diferença de tom das guitarras, muito mais denso que os anteriores e arriscamos … que os seguintes.
Fomos brindados com o clássico “Children of the Sea” e entraram após “Snortin Whiskey”. “Redneck Stomp” iniciou as hostilidades e o público não se fez rogado em criar um circle pit. “A lesson in vengeance” ainda mais pôs o pessoal a mexer com o riff cativante.
Todas as músicas dos Obituary têm riffs altamente contagiantes, até arriscamos dizer que são os Anthrax do Death Metal.
“Visions in my head” inaugurou o crowd surfing.
Esta tour vinha promover o novo álbum Dying of Everything, um excelente regresso, “Wrong time” foi o primeiro single. John Tardy, o vocalista, continua com boa voz.
E de 2022 saltámos para 1994 e para “World Demise” para ouvir “I Don’t Care”, seguiram “Circle of Tyrants”. Um cover de Celtic Frost que são uma das influências dos Obituary (e de quase todas as outras bandas de música extrema dos anos 90), além dos Possessed. “Dying of everything” com muito moche.
Terminaram com “I’m in Pain” do “The End Complete” que incluiu um mini solo de bateria de Donald Tardy (irmão do vocalista).
Estes irmãos, juntamente com Trevor Peres na guitarra ritmo, são o motor dos Obituary desde 1988.
Uma grande banda que explorou e escreveu o livro do Death Metal, servindo de inspiração a imensas bandas depois, incluindo as do cartaz.
Heaven Shall Burn
Depois do que já tinha decorrido a expectativa era imensa para os Heaven Shall Burn.
A banda alemã, dos primos Eric Bischoff (baixo) e Marcus Bischoff (voz), já nos visitou algumas vezes ao longo dos seus 25 anos de carreira. Contam com 9 discos no seu catálogo e têm evoluído de um som próximo do metalcore para um melodeath nos discos mais recentes.
O disco mais recente Of Truth and Sacrifice entrou directo para número 1 na tabela de vendas alemã.
Arrancaram com “My Heart and the Ocean” para uma recepção, surpreendentemente, mais calma.
Na seguinte, “Bring the War Home”, o público percebeu que não iam aguentar sem se mexerem e nunca mais parou.
“Ubermacht” pôs a Sala Tejo aos saltos, e uma Wall of Death de parede a parede, criou um redemoinho de corpos no chão e no ar. Brutal mesmo.
“Hunters will be Hunted”, “Counterweight”, a intro “March of retribution” levou-nos a “Thoughts and Prayers”, seguida furiosamente de “Behind a Wall of Silence”.
Sempre a pedir para que o pessoal não parasse e ninguém parou em “Profane Believers”. Dedicaram “Black Tears” a todos os fãs e seguiram com “Endzeit”.
Foi a vez do guitarrista Maik Weichert, o outro fundador da banda, falar ao público.
Contou que a primeira que cá estiveram foi há 23 anos e que sempre se mantiveram fiéis às suas convicções por muito que outros os criticassem. São ferozes defensores dos direitos dos animais (“Hunters Will be Hunted”) e vão ser sempre.
“Numbing the Pain” e “Tirpitz” fecharam um concerto que poderia ter melhor voz, mas foi uma banda que deu tudo no palco e recebeu tudo do público também.
Trivium
Eram 22h00 quando os Trivium entraram em palco. Já lá íam 3 horas de corrida, head banging, crowd surfing mas nem na reserva ainda se estava. Venham eles.
Um público mais jovem, com muitas t-shirts alusivas ao Nu Metal, enchia a frente do palco e podia continuar naquilo a noite toda. Baixaram uma cortina para preparar o palco. A atenção cénica é muito maior nos Trivium.
Ladeados de dragões japoneses, painéis nihonga na parede e na plataforma do baterista mais dragões.
Matt Heafy, o vocalista e fundador da banda, é de ascendência japonesa e demonstra o seu orgulho nesta herança. Juntamente com Ihsahn explorou esta vertente no seu projecto de Black Metal “Ibaraki”.
Se fosse necessário acordar o público, “Run to the Hills”, acordava qualquer um com toda a gente a cantar o clássico dos Iron Maiden.
Corey Beaulieu com uma Jackson Flying V e Matt Heafy com a sua Epiphone custom, demonstraram um controlo invejável dos instrumentos quando cantavam e solavam ao mesmo tempo. As músicas têm crescido em complexidade de execução à medida que a própria banda também evoluiu, esta complexidade de execução e a capacidade de frontman que Matt tem não é para todos, aliás, é para muito poucos, o que faz de um concerto dos Trivium algo que deve mesmo ser visto.
Após a intro arrancaram com “Rain”, “Amongst the Shadows & the Stones” com Matt a pedir “Cantem comigo” em português. Gerou-se uma Wall of Death espontânea. Todos estavam para os ver e todos queriam levar um concerto memorável para casa.
Trocou de camisola para revelar uma t-shirt da selecção portuguesa com que fez o resto do concerto. “Strife”, “A Gunshot to the Head of Trepidation” seguiram. Mesmo a solar Matt não pára de puxar pelo público.
A provocação de dizer que a melhor multidão foi a de Paris levou a “Feast of Fire”, no final já tínhamos ultrapassado os franceses.
“Betrayer” seguiu, parada a meio porque um crowd surfer caiu desamparado no pit. Matt parou a canção para perguntar se estava bem e dar uma lição de que não se lançam pessoas para o pit, pousam-se devagar.
Recomeçaram de onde estavam como se aquilo tivesse sido ensaiado, mas sabemos que não foi. Seguiram com “Throes of Perdition” do seu disco de 2008 Shogun.
Matt disse que era uma das maiores multidões que já teve e que adorava Portugal. A música título do álbum novo “In the court of the dragon” seguiu-se.
Nova troca de t-shirt e surgiu com uma t-shirt do Toy, que está em Cuba e não pode repetir a colaboração. Mesmo assim foi tocado o “Toda a noite” e até mosh houve. Grande festa.
Mas o público queria era cantar canções dos Trivium e “Until the World Goes Cold” abriu todas as gargantas em uníssono.
Nova comunicação, era constante a interação, para homenagear as outras bandas e tocaram uns segundos de “Redneck Stomp” em homenagem aos Obituary. Seguiu-se “To The rats” e “The heart fom your Hate”.
Alexander Dietz dos Heaven Shall Burn subiu a palco para tocar “In Waves” que contou com um rowing pit quase de parede a parede.
“Pull Harder on the Strings of Your Martyr” terminou um grande concerto dos Trivium. Matt Heafy nunca se cansou de dizer que sempre que quisermos, eles voltam e que adoram dar concertos cá.
Ficamos à espera!