Reportagem de Sandra Mesquita (Texto e Fotos)
Mais uma vez o Parque da Cidade do Porto encheu-se para uma verdadeira festa de primavera, o NOS Primavera Sound viveu este fim de semana a sua edição mais concorrida de sempre, segundo a organização, com cerca de 77 mil pessoas, de mais de quarenta nacionalidades diferentes passarem pelo Parque durante os três dias de festival.
A quarta edição portuense do NOS Primavera Sound arrancou na passada quinta-feira, 4 de junho. Num dia ainda a meio gás, com apenas nove concertos, destacaram-se as atuações de Patti Smith, Mac Demarco e FKA Twigs.
Às 17h00, Bruno Pernadas deu as boas vindas aos primeiros festivaleiros a chegar ao Parque da Cidade, com belíssimos arranjos numa viagem pelas sonoridades jazz e folk. How can we be joyful in a world full of knowledge é o mais recente projeto do músico multi-instrumentista e conta com a participação de elementos de diversos grupos, entre eles os You Can’t Win, Charlie Brown que atuaram no Primavera Sound em 2014.
Às 20h00 surgia o primeiro conflito de horários com Mac DeMarco e Patti Smith a atuarem em simultâneo. O palco Pitchfork iria receber Patti Smith para uma interpretação em formato acústico e “spoken word”, naquele que seria o primeiro de dois concertos da norte-americana no festival. Decidimo-nos por Mac DeMarco, o que acabou por revelar-se uma escolha acertada. O canadiano faz jus à fama de “enfant terrible”, com uma atitude de puto provocador em palco. Entre temas como “Salad Days”, “Blue Boy” e “Cooking Up Something Good”, o músico protagonizou vários momentos de folia divertindo o público com a sua atitude e voz singular.
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Às 21h10, FKA Twigs estreava-se em Portugal, naquela que acabou por ser a grande revelação da noite. A britânica brindou o público com uma performance hipnotizante, diferente de tudo o que temos visto até agora. A sua ascendência multicultural (é filha de pai jamaicano e mãe metade egípcia metade espanhola) aliada às danças sensuais que dão corpo a uma voz sussurrante conferem a FKA Tiwgs uma essência única. Não é à toa que “camaleão” e “alienígena” são as palavras usadas para descrever este fenómeno que merecia um palco maior no Primavera Sound.
Em formato best off, os norte-americanos Interpol, aguardados por muitos fãs, ficaram-se por uma atuação razoável, suportada pelo vasto repertório da banda mas marcada pelas falhas vocais de Paul Banks.
A noite encerrou com a eletrónica contagiante dos The Juan Maclean e Caribou, numa grande festa para os que, em pleno dia da semana, ainda não tinham abandonado o recinto.
O segundo dia do festival, sábado, ficou marcado pela maior enchente de sempre no festival. As colinas do Parque da Cidade receberam milhares que aguardavam pelo grande nome do dia: Patti Smith. A cantora e poetisa interpretou o álbum Horses, editado em 1975, com a mesma energia de há quarenta anos atrás.
Patti Smith conseguiu uma ligação única com o público, de várias gerações, para um momento histórico do festival. Durante o concerto, houve ainda um aviso durante a mudança do disco para o lado B. No final do espetáculo, Patti Smith revisitou, como não podia deixar de ser, os temas “Because The Night” e “Power To people”.
Antony Hegarty foi o segundo grande nome a subir ao palco principal do festival apoiado por uma orquestra de quase 50 músicos. De túnica branca e voz melancólica, o músico foi responsável por uma das experiências mais marcantes do Festival, pelo espetáculo em si mas também pelo cenário: um palco ao ar livre iluminado pelo luar numa espécie de ritual. Temas como “I am a bird now”, “You are my sister”, e “Hope there’s someone” foram interpretados com o filme japonês de 1973 “Mr. O’s Book of the Dead”, de Chiaki Nagano, a servir de pano de fundo. Infelizmente, este espetáculo requeria silêncio absoluto por parte do público, o que acabou por não acontecer.
Antes, os escoceses Belle & Sebastian protagonizaram um dos concertos que mais cativou o público. Ao som de temas como “The Party Line” e “Nobody’s Empire” do novo álbum, e alguns mais antigos, a pop juvenil da banda levou os festivaleiros a dançarem como se tivessem novamente 16 anos. Despreocupados com a perfeição, os Belle & Sebastian conseguem comunicar com o público sem dificuldades envolvendo todos os presentes numa grande festa entre amigos. No final, a plateia “invadiu” o palco num espetáculo que não deixou ninguém indiferente. E a noite continuou com Ariel Pink, Jungle, e Run The Jewels.
O terceiro e último dia do festival contou com um convidado especial: o Sol, num dia que pareceu de verão. Os casacos deram lugar aos calções e aos vestidos, e o ambiente do festival estava, finalmente, completo.
Mais tarde, os californianos Foxygen deram um dos concertos mais alucinantes do festival onde não faltou a energia contagiante e uma loucura desmesurada. A dupla indie pop subiu ao palco na companhia de três bailarinas numa interpretação teatral e atitude rock and roll. À semelhança de FKA Twigs, o palco Super Bock Super Rock pareceu pequeno para um espetáculo tão bom.
Ao anoitecer, a guitarra e a voz inconfundível de Damien Rice foram suficientes para ocupar o palco principal do NOS Primavera Sound. A folk intimista e emotiva do irlandês deixou rendidos os vários espetadores que ouviam o concerto sentados na colina do Parque da Cidade. Durante o espetáculo foram ouvidos temas como “Delicate”, “The Box”, “Cannonball” ou “Wild and Free” mas foi “The Blower’s Daughter” o momento alto.
Em 2016, o festival regressa nos dias 9, 10 e 11 de junho.