A Orquestra Sinfónica Portuguesa, sob a batuta da maestrina Joana Carneiro, esteve ontem no Grande Auditório do CCB, com um repertório que incluiu o compositor português Luís Tinoco, Maurice Ravel e Béla Bartók. A orquestra foi acompanhada pelo pianista português Artur Pizarro.
Joana Carneiro subiu ao palco acompanhada de Luís Tinoco e aproveitou para lhe fazer algumas perguntas, antes do início do concerto, acerca da sua peça Incipit, escrita em 2015, em resposta a uma encomenda do Organismo de Produção Artística (OPART) e da Secretaria de Estado da Cultura, para comemorar o 450º aniversário da fundação da cidade do Rio de Janeiro. A estreia mundial da peça teve lugar em 10 de Junho do ano passado, interpretada pela Orquestra Sinfónica Brasileira na Cidade das Artes e no Theatro Municipal, e teve agora a aguardada estreia em território nacional.
Tinoco começou por agradecer à maestrina e aos músicos da orquestra, assim como ao público que preteriu a última jornada do campeonato de futebol em detrimento “deste duelo entre Ravel-Bartók”. Depois explicou que, para corresponder ao pedido que lhe foi feito, resolveu, em vez se basear na influência da música brasileira actual, tentar recriar a música dos portugueses à época.
Por esta razão, designou a peça de “Incipit”: começa com uma citação de uma obra de Duarte Lobo – compositor português que terá nascido perto da fundação do Rio de Janeiro – intitulada Audivi Vocem De Caelo, e oferece o mote que serve de ponto de partida para o tema de Tinoco. De acordo com o compositor, não se trata de fazer um pastiche dessa música antiga, mas antes transportar a influência aquela sonoridade para o momento actual. Para melhor apreciar o processo criativo, Joana Carneiro e Luís Tinoco acordaram iniciar o concerto com o original de Duarte Lobo e, seguidamente com Incipit.
De seguida, o pianista Artur Pizarro subiu ao palco para acompanhar a orquestra ao piano, no Concerto em Sol Maior de Ravel. Escrito entre 1929 e 1931, este concerto tem inúmeras influências do jazz, música que na altura já tinha ganho uma popularidade assinalável não só nos EUA como também em Paris, e com a qual Ravel teve contacto em 1928, na sequência de uma digressão americana. O compositor apreciava particularmente a riqueza rítmica daquele estilo musical, que considerava uma influência e uma fonte de inspiração importante para os compositores da época.
Para a segunda parte do espectáculo ficou o Concerto para Orquestra de Béla Bartók. A designação de concerto é enganadora já que a peça não obedece à estrutura tradicional deste tipo de forma, em que normalmente existe um instrumento a solo acompanhado por uma orquestra. Bartók terá decidido nomear a peça concerto e não sinfonia porque entendia ter dado um carácter solista e virtuosista – e espaço para brilhar – a cada uma das secções dos diferentes instrumentos.
O Concerto é uma das obras principais do compositor húngaro, escrito em meados dos anos 40, em menos de dois meses. A peça foi encomendada pelo maestro da Orquestra Sinfónica de Boston, Serge Koussevitzky que, ao dirigir a sua estreia em Dezembro de 1944, afirmou ser a melhor peça orquestral dos últimos 25 anos.