Conhecida de muitos como a professora de canto e coordenadora da escola no concurso televisivo Operação Triunfo (RTP1), Paula Oliveiraconsidera-se, acima de tudo, cantora, apesar de arranjar ainda tempo para dar aulas de voz na Escola de Jazz Luís Vilas Boas no Hot-Clube de Portugal em Lisboa e na Universidade de Évora, fazer um Mestrado e lançar um disco, o álbum Raça, que está nas lojas desde o passado dia 22 de Novembro.
“O meu objectivo é fazer concertos e gravar discos, só assim faz sentido tudo o resto. Não poso ser professora de canto e de performance e não ter actividade artística”, defende paula Oliveira em entrevista ao C&H. Mesmo tendo um contrato que a cinge completamente à Operação Triunfo, a cantora confessa que, apesar disto ser uma coisa temporária que gosta muito de fazer, é à sua actividade de artista que dá prioridade.
A sua carreira discográfica arrancou em 1998 com um álbum homónimo gravado em Nova Iorque, mas foi com Quase Então (2003), em duo com o pianista João Paulo Esteves da Silva, que se revelou. Seguiram-se os aclamados Lisboa que Adormece (2005) e Fado Roubado (2007), ambos com direcção musical de Bernardo Moreira, e onde a poesia assumia um papel de destaque.
Depois de explorar versões de música portuguesa nos registos anteriores, este novo trabalho discográfico, representa para a cantora “uma nova página, muito virada para a música original, composta para mim, para a minha voz e com arranjos específicos para eu cantar”.
No novo álbum Raça, que tem composição de Mário Laginha e de Paula Oliveira, a ênfase é colocada na exploração de um repertório de originais da autoria de vários reconhecidos músicos de jazz hoje em actividade, como Ricardo Dias, que deu a este registo influências da música tradicional; o pianista Léo Tardin, responsável pela presença da música erudita; Alexandre O’Neal, que também está presente através da sua poesia portuguesa; Lars Arens, a quem foi também confiada a direcção musical e a maior sofisticação dos arranjos presentes neste registo.
Cantora defende que “cantar em português é muito mais forte”
As composições originais da própria autora também marcam presença neste trabalho bilingue, que inclui dois temas cantados em inglês, apesar de Paula Oliveira fazer questão de sublinhar que 97 por cento das músicas que gravou até agora são cantadas em português.
“Foi há uns 18 ou 19 anos, quando cantei pela primeira vez “Um Homem na Cidade” em Nova Iorque, que tive o ‘bac’, enquanto performer, que cantar em português é muito mais forte”, recorda a cantora.
Este disco não seria certamente o mesmo sem a presença dos LisBones, um surpreendente quarteto de trombones e eufónios repleto de originalidade, pois não há memória de semelhante formação. Tudo começou com um convite que os LisBones endereçaram a Paula Oliveira há um ano atrás.
A artista achou a proposta de tal forma magnífica que quando estava no processo de compor e de arranjar as composições novas para o novo disco, achou que era muito bom introduzir o LisBones.
A cantora Paula Oliveira conta que “inicialmente, eles iam só participar em metade do disco, mas de repente acho que tudo tomou uma forma única e decidi não incluir alguns temas para não dividir o disco em duas partes. O resultado foi um disco só meu e dos Lisbones, já que a sonoridade deles tomou conta do projecto e decidi que, depois de gravar as primeiras coisas com os Lisbones, não ia gravar mais nada que não fosse com eles”. Para Paula Oliveira, este “feliz casamento” deve-se ao facto de os trombones serem “os instrumentos com sonoridade mais próxima da voz humana”.
Raça tem como primeiro avanço “Cão”, um poema de Alexandre O’Neill que a artista encontrou num livro de poesia que comprou para ler aos seus filhos na hora de dormir. Achou tão bonito que logo lhe despertou a atenção por parecer a descrição da vida de cão que por vezes todos levam.
A composição musical foi encomendada a Mário Laginha – já que segundo a cantora, “era mesmo o tema para o Mário fazer e realmente ele fez ali uma composição muito inspirada” –, e nas vozes Paula Oliveira conta com a participação de convidados muito especiais: os seus filhos, de 9 e 8 anos, levados para estúdio pela mãe que ao ouvi-los cantar em casa se encheu de ternura, como a própria confessa: “Eles ficaram todos contentes, sentadinhos em cima de um banquinho, com os auscultadores maiores do que a cara deles…”.
Para a artista esta ‘parceria’ fica-se a dever aos seus filhos serem “miúdos estimulados naturalmente, já que não há um único dia sem música na minha casa, pois tanto eu como o meu marido estudamos música”. No entanto, a cantora faz questão de garantir que isto “não quer dizer que eles vão ser músicos, bem pelo contrário, vão ser o que quiserem”.
Por tudo isto, Raça é considerado por Paula Oliveira como “mais uma etapa” da sua vida, “por aquilo que ele envolve, pela sua autenticidade e pela sua singularidade este trabalho é um marco, um ponto único da música portuguesa”, defende a artista.
Pela frente ficam muitos projectos e muitas ideias, como cantora Oliveira confessa: “isto abriu-me uma série de portas e lançou-me para um patamar e para um Universo, com o qual estou agora deslumbrada, a ver e a pensar no muito que ainda podia fazer e acrescentar”.
Numa altura em que a Paula Oliveira está ainda “a assimilar toda a energia que este cd está a bombardear”, adianta que está “já a criar novas situações, mas são coisas ainda em estado de brain-storming e em estado de cozedura, pois ainda não há nada definido. São parte integrante do que este projecto me está a provocar emocionalmente, porque gosto muito desta música e amo e acredito piamente no que está aqui”.
A apresentação ao vivo das novas músicas do álbum Raça vai ser no dia 18 de Dezembro, na sala de espectáculos do bar/restaurante Ondajazz, junto ao Campo das Cebolas, em Alfama, e a partir da última semana de Março começa a tournée nacional de Paula Oliveira.
Por Cristina Alves Fotos gentilmente cedidas pela Universal Music