O regresso de Peter Murphy a Portugal, com a sua digressão Stripped prometia um mergulho na penumbra do início de carreira, ainda enquanto líder dos Bauhaus. Rosto de um movimento rock gótico, que teve bastantes seguidores em território nacional no início dos anos 80, o músico voltou a reunir os admiradores na Aula Magna, em sala esgotada, esta segunda-feira.
Pelo alinhamento que trouxe, pela pose teatral cuidada e com a voz poderosa que abraçou o ambiente, cedo conseguiu enfeitiçar a sala com os seus encantos. Mas só mesmo pela devoção que todos têm ao artista e ao seu incontestável talento, pois a qualidade do som e a descoordenação dos músicos que o acompanharam acabaram por limitar a atuação.
Hora e meia de concerto, com partida em “Cascade”, do álbum com o mesmo nome de 1995. Os três músicos entraram no palco em total escuridão. Peter Murphy, de fato preto, bracelete brilhante por cima da manga direita, com uma flor vermelha faz-se acompanhar de John Andrews na guitarra e Emilio China no baixo e violino. Mais à frente, junta-se Robbie na bateria.
E é com alguns temas conhecidos da sua carreira a solo que Peter Murphy conquista os presentes. “Indigo Eyes” numa versão desconcertante, seguida de “All Night Long” e depois “Marlene Dietrich’s Favourite Poem” convencem mais pela familiaridade e pela apresentação do que propriamente pela sonoridade do dia. Segue-se uma homenagem a David Bowie, uma das grandes influências do cantor, com a cover de “The Bewlay Brothers”.
“Acho que vão gostar desta” anuncia antes de “Strange Kind of Love”, a balada que marcou uma das fases em que mais se afastou da tom obscuro dos Bauhaus. Ainda assim, é aí que regressa, neste concerto, para grande felicidade dos presentes. Depois de “The Rose” mergulha nos momentos mais negros da noite com “King Vulcano” e “Kingdom’s Coming”. “She’s in parties” é um dos pontos altos do concerto, em que se consegue recuperar uma linha melódica mais próxima da sonoridade original e é de pé que todos aplaudem o mestre. Sedutor na forma como olha nos olhos cada pessoa na plateia, projeta a voz e conquista mais uma fila. No entanto, o concerto tem alguns momentos de experiência sensorial, em que a luz é reduzida a um ou outro foco, e o cantor, ao se aproximar do público mergulha também nas trevas.
Sai ao fim de uma hora de espetáculo e regressa para tocar “Lion”, do mais recente trabalho, editado em 2014. Volta ao passado e em tom irónico revela que “nos tempos mais escuros, também criaram temas bonitos, que não eram lixo” e avança com o melódico “The Three Shadows”, que continua para “Hollow Hills”. Despede-se novamente, mas o público continua reticente em por um ponto final na noite.
Um regresso sozinho, à capela, para “Cool Cool Breeze” e aqui percebe-se claramente a sua voz, sem o incómodo da distorção dos instrumentos que o foram maltratando durante toda a noite. “I’ll Fall With Your Knife” é mesmo o adeus que ninguém quer ver chegar. Quase como se o que se tivesse assistido fosse o ensaio, e agora podiam começar tudo de novo, mas em condições.
No Porto foi bem pior!! Depois de tantos concertos vistos, de Peter Murphy e Bahaus, este é para esquecer: um público patético, sentado, quase silencioso, não puxou pela “banda” e esta fez o mesmo. Ficou-se por um encore, quebrado a meio pelo desaparecimento (prematuro?) de Peter do palco. Aí sim, o público manifestou-se, foi o “normal”, mas já era tarde!
Uma verdadeira desilusão, que não apaga as memórias de mais de uma dezena de concertos, mas deixa uma sensação de tristeza… Foi o último!