Reportagem de António Silva e Raquel Vaz
No segundo dia do Caparica – Primavera Surf Fest ouviu-se reggae nacional, divinamente representado por Orlando Santos e Freddy Locks.
A Orlando Santos coube a tarefa, algo ingrata, de “aquecer” um público bastante jovem e que foi chegando a conta-gotas. Aos primeiros acordes de “Way to Zion”, o público foi abandonando os vários puffs dispersos pela tenda, para se aproximar do palco e ouvir de perto aquele é que um dos mais proeminentes artistas da Soul/Reggae nacional da atualidade.
Orlando Santos aparece vestido de branco, contrastando com os demais membros do grupo. A sua voz é quente e cheia de sentimento. Orlando canta e sente com a alma. Segue-se “African Culture”, onde, pela primeira vez, começa a desafiar o público, tentando que este acordasse da inércia típica de quem tinha acabado de se levantar. A voz de Orlando Santos, bem como o desempenho dos músicos que o acompanham, é irrepreensível. A energia é boa e calorosa. Por momentos quase que nos esquecemos que estamos em Portugal.
Segue-se “Greetings”, onde Orlando dirige palavras ao público, apelando para que cante com ele. O público reage timidamente. Ainda é cedo e, provavelmente, estão ali para ver outros artistas. Com “Only love” é tempo de dueto com Nilza Brown, que habitualmente o acompanha nos coros. Aqui trocam de papéis, cabendo a Orlando apoiar a voz da cantora. Fá-lo de uma forma capaz de ludibriar os mais distraídos, levando-os a pensar que aquela voz aguda que se ouve é a de Nilza. Mas não, é mesmo a de Orlando.
O concerto prossegue com “By the river”, momento mais intimista da noite, com Orlando sentado a tocar com a guitarra no colo. A música pedia mais silêncio, mas o público, talvez devido à faixa etária, continuava algo indisciplinado e um pouco alheio ao concerto. Orlando, profissional, não se inibe e, apesar do ruído de fundo, projeta a voz e leva a cabo a tarefa que o levou ali. Pelo meio, o microfone faz “feed back”, um cabo desliga-se, mas Orlando não desiste e persiste naquela que é a sua missão.
Em “For real” é a vez de Mário Gramaço brilhar, fazendo um solo de saxofone. Orlando interage com o público, com a simpatia e humildade que lhe são características. Apresenta “Wipe your eyes”, durante a qual apresenta a banda que o acompanha, dando oportunidade a cada elemento de brilhar uns segundos, mostrando do que são capazes. O concerto termina com um brevíssimo encore com “Satta by the River”, no qual o público reage de forma mais entusiasta ao solo do guitarrista.
Às 23h15m surge Freddy Locks acompanhado dos Groove Missions. A música e o desempenho de Freddy são mais enérgicos e isso tem reflexos imediatos no público, que agora é em maior número. Freddy desafia: “Tá-se bem aí, ou não? ‘Bora lá, então!”.
A batida é mais forte e o ritmo também. Parece que era disto que o público precisava. Freddy canta “Seek your truth”, “Crazy I”, “So nice”. Pelo meio, o percussionista que o acompanha irrompe de microfone, frenético, num duelo breve com Freddy. O público delira. Com “Get up Stand up” Freddy convida Orlando Santos a juntar-se a ele para cantarem em conjunto. Cada um, no seu estilo, e à vez, interpretam a famosa música de Bob Marley. Freddy remata: “Foi de coração, sem ensaio nenhum. Maravilha.”
Segue-se “Over stand”, uma música nova apresentada pela primeira vez ao vivo neste festival. O público gosta, levando a que Freddy conclua: “Quer dizer que podemos gravar esta, não é?”. O concerto termina com “Iration”, num ritmo contagiante e com o público rendido, já bem enquadrado para receber o DJ que seguiria.
Diego Miranda abre as hostilidades: “Eu quero ouvir barulho! Barulhoooo!!!”. O público acorda. O som está tão alto e a batida é tão forte, que tudo em redor trepida. O DJ ordena “Mãos para cima, Costa!”, “Vocês nunca falham!”, “Barulho para vocês!”, com o público rendido, de braços no ar e aos saltos. Aqui, a tenda onde decorreram os concertos já estava mais composta, levando a crer que era Diego Miranda que o público mais queria ver nesse dia de festival.
E, de facto, a energia com que Diego instiga o público, provocando, gritando, ensaiando coreografias, é de tal modo eficaz que se percebe bem o porquê de ser o único DJ português a constar no Top 100 de DJs mundiais. Diego passa hits em nome próprio e de outros, como o “Sky full of stars” dos Coldplay, apelando constantemente e de forma incansável o público.
O Caparica Primavera Surf Fest vai continuar a animar a Praia do Paraíso, na Costa da Caparica, até ao dia 4 de abril. Campeonatos de surf durante o dia, demonstração de atividades desportivas e de lazer, sessões de cinema temáticas e muito música à noite vão preencher o calendário das férias escolares.
Hoje, a partir das 22h00 sobe ao palco Agir, seguido da atuação de DJ Vibe às 23h00. Os bilhetes encontram-se à venda nos locais habituais e custam 10 euros (dia) ou 30 euros (passe de acesso a todas as atuações na tenda).