A pronúncia do Norte fez-se ouvir este fim-de-semana na terceira edição do Rock À Moda do Porto. Zen, Blind Zero, Pluto, Marta Ren e Sérgio Godinho foram alguns dos oito artistas que subiram ao palco do Super Bock Arena para celebrar o rock mais a Norte.
O festival deu início na sexta-feira com os Plaza, que celebram 20 anos do álbum Meeting Point. O trio Simão Praça, Paulo Praça e Quico Serrano formaram a banda em 2003 e trouxeram ao festival o som que foi familiar para certos ouvintes.
Com a arena a aquecer, os Plaza conseguiram cativar alguns desinibidos, mas a noite era uma criança e o público estava, ainda, desatento.
A segunda atuação da noite foi de Sérgio Godinho, que subiu ao palco para cantar pela liberdade. A passagem pelo Rock À Moda do Porto fez parte da digressão Liberdade 25, que assinala os 50 Anos da Revolução de Abril.
Para uma arena muito mais composta, o músico sobe ao palco com a banda Os Assessores para um espetáculo que foi um ponto alto do festival. Temas como “Cuidado Com As Imitações”, “Dancemos no Mundo”, “Maré Alta”, “Com um Brilhozinho nos Olhos” e “Liberdade fizeram parte do reportório. Contudo, foi numa versão de “Os vampiros”, de Zeca Afonso, e, para terminar, “O Primeiro Dia” que se fez ouvir, bem, a plateia. De geração em geração, Sérgio Godinho será eterno.
Mais à noite, foi a vez de Pluto – banda de Manel Cruz e Peixe (fundadores de Ornatos Violeta), Ruca e Eduardo Silva – de brilharem. E brilharam: entraram com “Túnel”, tema novo, e rapidamente revisitaram o único álbum da sua discografia, “Bom dia”.
No público, ouviam-se os fãs que fizeram questão de se mostrarem presentes. No palco, Manel é sempre Manel, mas as guitarras de Pluto são mais marcantes, o rock é talvez mais pesado e mais cru, em relação a Ornatos Violeta. Não é uma comparação, mas sim uma forma de dar atenção a ambas as bandas, devido à sua forte distinção, que pode ser pouco visível.
A última atuação esteve a cargo da banda que celebra 30 anos, Blind Zero, e que trouxe ao festival uma viagem pela sua variada discografia. Para uma plateia um pouco contraditória – uns dançavam descontroladamente, enquanto outros decidiam ir embora -, Blind Zero subiram ao palco, decorado com bolas de espelho e vários espelhos horizontais, para encerrar o primeiro dia com canções como “Back to the Fire”, “Shine On”, “War Is Over”, “Recognize”, “Running Back” e “Slow Time Love”. Neste concerto, percebe-se o animal de palco que é Miguel Guedes, e o quão prestigiada esta banda sempre será.
A segunda noite arrancou com Ecos da Cave, que arrastaram dezenas de fãs para uma arena ainda tímida e fria. “Poucos, mas bons”, como diziam o vocalista, Ecos da Cave abriram as hostilidades deste festival com o rock dos anos 80, dando um bom mote para um último dia de excelência.
Foi a vez de TurboJunkie subir ao palco para um público menos vasto. No entanto, o concerto rebentou quando se ouviu o cover de Iggy Pop, “I Wanna Be Your Dog”. Os fãs do rock rapidamente se desinibiram e, a partir daí, o concerto foi sempre a crescer. Houve espaço para mais um cover, “Born To Be Wild”, onde se ouviu as várias vozes do público.
O penúltimo concerto da noite foi da “Not Your Regular Woman” – como foi apresentada pela banda – Marta Ren. Portuense até às pontas do cabelo, a artista trouxe o soul e uma voz indiscritível ao Rock À Moda do Porto. De pé partido e com cuidados acrescidos, a cantora veio “dar tudo”, como referiu várias vexes em palco, num concerto protagonizado por uma banda que não se esconde e pela presença, digna de um palco e um público maior, de Marta Ren.
Num concerto intimista, propício a conversas entre a artista e a plateia, brilharam temas como “Worth It”, “Don’t look”, “Kinds of Men” e “I wanna go back”. Marta Ren pouco quis saber do seu pé partido e dançou, cantou e encantou, uma arena que merecia bem mais gente para ver um dos melhores concertos do festival.
“PORTO!”, foi o berro que se ouviu de Rui Sila mal este entrou em palco. Zen encerraram o festival num concerto onde foi impossível estar parado. Junto à frontline, os fãs mais apaixonados gritavam as letras; no palco, o vocalista vagueava, fumava, bebia e transformava-se em mil uma coisas. Quem já os conhecia, correspondeu, e quem ouviu pela primeira vez, não ficou indiferente.
No fundo, o concerto recuperou o grunge dos anos 90, o crowdsurfing e o headbanging, naquele que foi o concerto mais povoado do último dia do festival, e que provou que Zen foram talvez a melhor forma de encerrar esta edição. O rock é também uma forma de estar, uma vontade de “partir tudo”, algo que esta banda teve, e tem, para dar e vender.