Desde antes do nascimento do primeiro dentinho do bebé, saudado com alegria pelos pais e família, que deverão ser tomados cuidados de saúde oral infantil. O ideal é que o aconselhamento pré-natal prepare os futuros pais para a importância de manter uma boa saúde oral incluindo os cuidados a ter mesmo antes da erupção (nascimento) do primeiro dente.
As gengivas devem ser limpas com uma compressa de gaze humedecida com água pelo menos uma vez por dia (preferencialmente à noite) devendo evitar-se o máximo possível as refeições nocturnas após o nascimento do primeiro dente. A habituação da criança à higienização tornará mais fácil e natural a sua implementação depois do aparecimento dos primeiros dentes.
Normalmente os primeiros “dentes de leite” erupcionam entre os 6-8 meses de idade e até aos 2,5-3 anos de idade, 20 dentes temporários devem aparecer na boca da criança, embora se possa considerar completamente normal que existam variações individuais. Só deverá ser motivo de preocupação se a erupção não se iniciar antes dos 2 anos de idade. É natural que este processo gere desconforto no bebé e nos pais, existindo algumas medidas que o podem minimizar, a utilização de mordedeiras refrigeradas ou mesmo bocadinhos de pão ou outros alimentos mais duros que vão aliviar o prurido (“raivaço”) nas gengivas do bebé.
Os dentes decíduos (temporários ou de leite) têm funções importantes no desenvolvimento da criança tais como a mastigação, manutenção de espaço para os dentes definitivos, fonética (fala), normal crescimento dos maxilares, respiração… Embora os primeiros dentes decíduos esfoliem (caiam) por volta dos 6 anos de idade, é importante saber que os últimos a serem substituídos só o serão por volta dos 11-12 anos de idade e é muito importante que estejam funcionais até esta idade.
Daí que perante a questão que muitas vezes é colocada quanto à necessidade de prevenir as lesões de cárie e tratar os dentes de leite se necessário, a resposta é sim. Estes dentes podem ser afectados por cárie tal como os definitivos, e por vezes em idades muito precoces. Além disso, dadas as características destes dentes, a progressão da cárie é normalmente muito mais rápida do que nos definitivos, afectando o tecido nervoso do dente e causando dor e até infecção.
Esta dor por sua vez além de causar sofrimento à criança, irá dificultar o seu processo de alimentação e qualidade de vida. Evitar a dor é em si uma razão importante para tratar estes dentes, coadjuvada pela importância de evitar os focos infecciosos na boca que poderão afectar os dentes definitivos bem como a saúde geral. As lesões iniciais de cárie são facilmente tratáveis sem os meios mecânicos convencionais e irão melhorar a saúde oral do bebé. Além disso, a importância da prevenção em casa é enorme.
A partir do momento em que existam dentes, deverá ser utilizada uma escova e a partir de 1 ano de idade deverá ser utilizada uma pasta fluoretada (1000 ppm de flúor). Até aos 3 anos deverá ser colocada uma quantidade mínima – bago de arroz, dos 3-6 anos a quantidade equivalente a uma ervilha, 2 vezes opor dia, durante 2 minutos. Pode ser seguido o protocolo disponível em vídeo em https://www.nhs.uk/conditions/pregnancy-and-baby/looking-after-your-infants-teeth/.
A partir dos 2 anos deverá ser também ser utilizado o fio dentário, sobretudo entre os dentes mais posteriores, se necessário utilizando um suporte de fio dentário (“easyflosser”). Lembra-se também que ainda que a criança possa iniciar a escovagem, esta deve ser complementada pelos pais.
Por fim, quando agendar a primeira consulta de medicina dentária do bebé? A Academia Europeia e Americana de Odontopediatria recomendam a primeira visita ao dentista até ao primeiro ano de idade. Idealmente estas visitas servem para uma observação do estado de saúde oral da criança e informar os pais sobre atitudes preventivas, detectar hábitos nocivos (utilização inadequada de biberão, chupeta) e estabelecer um programa adequado ao grau de risco do bebé. Nesta 1ª consulta a Mãe/Pai vão aprender e tirar eventuais dúvidas relativas à rotina de higiene oral, Postura, rotinas, dieta/alimentação, hábitos (chucha) e o que deve esperar do seu bebé. Além disso, são ensinadas as técnicas de escovagem a fazer pelos pais.
O Médico Dentista irá avaliar a saúde oral do bebé (gengiva, freios, alimentação e hábitos). Todas as dúvidas serão resolvidas e quando se iniciarem as evoluções na boca do bebé, a Mãe sentir-se-á mais segura e qualquer alteração é identificada mais precocemente.
Mantendo as visitas regulares à Clínica a criança não irá estranhar ou questionar quando e se for necessária uma abordagem mais invasiva, por ser um ambiente conhecido. Esta consulta, normalmente de “conversa”, irá prevenir o aparecimento de lesões de cárie, má posição dentária e promover o crescimento equilibrado dos ossos da face.
Joana Faria Marques é Médica Dentista
DDS, MSc., PhD.
Licenciada em Medica Dentária, Mestrado integrado em Medicina Dentária, Doutorada em Biologia Oral,
Professora Auxiliar Faculdade de Medicina Dentária Universidade de Lisboa (assistente das disciplinas de Imunologia, Biologia Oral e Nutrição e Saúde Oral)