Não é todos os dias que estreia um espetáculo que homenageie um artista vivo, e ainda por cima, com ele em palco, mas hoje é o dia. Simone – O Musical, é o espetáculo produzido pela UAU, que sobe ao palco do Teatro Tivoli, a partir de das 21h30 e que homenageia Simone de Oliveira, e conta com a própria no elenco.
Ícone de uma época e de uma geração, uma referência para a sua classe profissional (e não só) e para as mulheres, Simone de Oliveira, hoje com 79 anos, é como uma rocha, uma força bruta da natureza, a que nada, ou quase nada consegue derrubar.
Para homenagear esta artista exemplar e voz inigualável, Tiago Torres da Silva escreveu e encenou o musical com o seu nome, no qual a própria Simone participa.
Uma homenagem que ainda deixa Simone de Oliveira sem palavras e emocionada, como ela própria confessou ao C&H. “Nem sei o que dizer … Eu penso que aconteceu porque a vida quis que acontecesse, como tudo o que aconteceu na minha vida, foi o destino e eu acredito no destino”, confidenciou-nos a veterana artista, que disse ainda “Eu tenho que me controlar muito durante todo o espetáculo, porque me emociono muito ao reviver aqueles momentos”.
Homenagem que Simone agradece ainda ao público, ao povo português, aos jornalistas e a todos os que a acompanharam e reconheceram o seu trabalho ao longo destes 60 anos de carreira.
Sobre o espetáculo em concreto, Simone revelou que, “Eu não sei se este é o espetáculo que o público vai estar à espera, mas eu gosto de tudo nele, do elenco, das músicas, dos arranjos, de tudo”, acrescentando ainda que, “As minhas canções conseguiram fazer um caminho e chegar até aqui, e pelas vozes deles (do elenco composto por uma geração mais jovem) vão continuar a homenagear a língua portuguesa”.
Com um ar fresco, alegre, divertido, e ao mesmo tempo emotivo, a viagem no tempo, até 1969, conta com a participação de um prestigiado leque de atores, como Maria João Abreu e José Raposo, que dá aqui vida a Varela Silva – o segundo marido de Simone.
Para além de Varela Silva, também o poeta José Carlos Ary dos Santos, autor de vários temas que Simone canta, David Mourão Ferreira e o fadista Carlos do Carmo são aqui representados, este último por FF.
Mas o papel mais exigente de todos é talvez o da protagonista, uma Simone mais jovem, bela e cheia de sonhos e esperanças, tal como dizem os versos da canção:
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera… do futuro
O temas que mais emociona e de que mais gosta Sissi Martins, segundo ela confessou ao C&H. “Cantar a “Desfolhada” é o tema que mais me arrepia cantar, mas o que eu mais gosto e me emociona mais mesmo é “No Teu Poema” que a Simone de Oliveira canta para mim.
Sobre este papel, a jovem confessou ainda ser “um privilégio e uma responsabilidade fazer de Simone, e ainda por cima com a própria em palco”.
Pedro Pernas, Ruben Madureira, e Soraia Tavares, são os outros jovens atores que compõem este talentoso elenco, a direcção musical é de Renato Júnior, que é também autor de alguns temas originais e dos novos arranjos para os temas já conhecidos, como “Sol de Inverno”, “Esta Palavra Saudade” e “Tango Ribeirinho”, entre outros. Dino Alves é o autor dos fatos.
Amada por todos, Simone de Oliveira é sinónimo de força, autenticidade e coragem. Artista completa, na sua carreira abraçou mais de sete ofícios, fazendo sempre frente aos desafios que a vida lhe lançou. Sem temer, ou temendo muito, desbravou caminhos e fez-se ouvir numa sociedade adversa às mulheres com voz.
Foi jornalista, locutora de continuidade, apresentadora de concursos e programas de televisão e rádio quando a voz, possante e enérgica, a fintou. Lutou e sobreviveu; regressou às canções que a notabilizaram, aos poetas controversos a cuja obra cedeu a alma, aos palcos que a amavam como cantora e actriz, ao público que aplaudia a Artista e a Mulher.
Aos 79 anos, Simone de Oliveira ainda tem sonhos por concretizar e muitas memórias para partilhar. A partir de temas icónicos como “Desfolhada”, “Sol de Inverno”, “Esta Palavra Saudade” e “Tango Ribeirinho”, Simone vai desvendar-se e, mais uma vez, entregar-se publicamente pelo que acredita, pelo que sente como destino, pelo que a torna um exemplo acarinhado por todos os portugueses.
Durante cerca de duas horas vamos poder assistir à história e vida pública da artista, o lado íntimo, familiar, aqui não tem lugar e continua preservado, como ela sempre teve o cuidado de o fazer.
Nós já vimos um bocadinho e podemos afirmar que vale mesmo a pena ir assistir, pela qualidade, pelas músicas, pela emoção, pelos atores, por Ela – enfim, por tudo.
Simone O Musical pode ser visto de no Teatro Tivoli em Lisboa a partir de 23 de setembro, de quinta a sábado, às 21h30 e aos domingos às 16h30. No Coliseu do Porto a 10 de novembro, às 21h30 e no dia 11 às 16h30. Segue depois para o CAE da Figueira da Foz, onde vai estar no dia 17 de novembro, às 21h00 e no dia 18 às 16h30 e 21h30.
Os bilhetes, estão à venda no local e online, e custam entre os 12 e os 27,50 euros.
Simone de Oliveira tem 79 anos, e 60 anos de carreira. Estreou-se na então Emissora Nacional, venceu por duas vezes o Festival RTP da Canção, representou Portugal nos festivais da Eurovisão e da Organização Televisiva Ibero-Americana (OTI), foi também jornalista, apresentadora de programas de televisão e atriz.
Desfolhada
Corpo de linho, lábios de mosto
Meu corpo lindo, meu fogo posto.
Eira de milho, luar de Agosto
Quem faz um filho, fá-lo por gosto.É milho-rei, milho vermelho
Cravo de carne, bago de amor.
Filho de um rei, que sendo velho
Volta a nascer, quando há calor.Minha palavra dita à luz do sol nascente
Meu madrigal de madrugada.
Amor, amor, amor, amor, amor presente
Em cada espiga desfolhada.Minha raiz de pinho verde
Meu céu azul tocando a serra.
Ó minha mágoa e minha sede
Ó mar ao sul da minha terra.É trigo loiro, é além Tejo
O meu país neste momento.
O sol o queima, o vento o beija
Seara louca em movimento.Minha palavra dita à luz do sol nascente
Meu madrigal de madrugada.
Amor, amor, amor, amor, amor presente
Em cada espiga desfolhada.Olhos de amêndoa, cisterna escura
Onde se alpendra, a desventura.
Moira escondida, moira encantada
Lenda perdida, lenda encontrada.Ó minha terra, minha aventura
Casca de noz desamparada.
Ó minha terra minha lonjura
Por mim perdida, por mim achada.