Quando pensamos num concerto acústico, imaginamos um ambiente intimista, luz fraca, plateia sentada a assistir atenta, sem grande movimentação. O que os Simple Minds demonstraram ontem, no Coliseu dos Recreios, desde o primeiro minuto, é que pode ser tudo isso, mas também uma grande festa.
Os Simple Minds são uma grande banda, que construiu uma sólida carreira. Encheram estádios e hoje, ao celebrar 40 anos de atividade, mantém a simplicidade e humildade de dar ao público toda a atenção e carinho que este espera de um grande artista (e poucas vezes recebe).
Abriram com “New Gold Dream” e nem um minuto depois de pisar o palco, Jim Kerr já estava a dar a mão a um elemento da plateia. Ajoelhou-se, rodou o microfone no ar e percebemos que este iria ser um concerto acústico invulgar. No segundo minuto de atuação, o vocalista saiu pela zona lateral do palco e entrou no recinto pela porta de acesso à plateia. Veio cumprimentar os seus admiradores! Sem nunca parar de cantar, deixou-se abraçar e fotografar por quem o abordou. Veio junto à régie cumprimentar as pessoas que se encontravam no balcão e acenar para os camarotes e só depois voltou para o palco.
O Coliseu estaria longe de estar cheio, ocupado por um público maduro. Antes de chegarem os cabelos brancos aos presentes, os Simple Minds foram a banda sonora de quem viveu nos anos 80. Alguns dos seus grandes êxitos foram hinos de verão, repetidos nas discotecas da moda.
O concerto decorreu em grande euforia, com Jim Kerr a empolgar a plateia a sair das cadeiras e a dançar. “See the Lights”, “Glittering Prize”, “Mandela Day” e “Chelsea Girl” foram os temas que se seguiram. Pelo meio, o vocalista partilhou momentos com o público numa abordagem descontraída e divertida. Começou por gozar com o seu próprio sotaque escocês cerrado, tal como “o verdadeiro James Bond, Sean Connery, estão a ver?”. Brincou com o enorme candelabro pendurado sobre o palco, único elemento decorativo do cenário. Recordou ainda a primeira passagem pelo nosso país, em Cascais, num concerto de abertura de Peter Gabriel. Entre risos, o cantor contou que fizeram a viagem de carro desde Glasgow até cá. Na altura, “era só drogas, agora é mais smothies e sushi-pushi”…diz.
Antes de “Stand by Love” explicou que esta ideia de fazer um formato acústico surgiu há 20 anos. “A ideia demorou…”. O maior receio da banda era que o resultado fosse um concerto aborrecido. Longe disso, e até mais perto do pop rock, continuaram com “Someone Somewhere in Summertime”.
Um momento mais sereno começou com “Waterfront”. Seguiu-se uma homenagem a David Bowie, durante a qual chamou Gordy Goudie à frente, para cantar “Andy Warhol”. Não poupou elogios ao guitarrista. Explicou que, nos momentos mais duros, Gordy sempre esteve lá, pela banda. De seguida entregou o microfone a Sarah Brown, voz do coro, que assegurou uma interessante versão do tema original de Patti Smith “Dancing Barefoot”.
Um dos temas que não podia faltar no alinhamento foi “Don’t You Forget About Me”. Todos acompanharam de pé. Braços no ar, letra mais do que decorada. A festa continuou com “Sanctify Yourself” e deu-se uma breve retirada da banda.
Ao regressar, para o encore, Jim Kerr responde aos insistentes pedidos de “Alive & Kicking”. “Já lá vamos… ainda quero cantar outras antes!”.
Para “Promissed You a Miracle” chama KT Tunstall, a cantora que assegurou a primeira parte do concerto. KT participou também na gravação do álbum Acoustic e Jim conta que, assim que a cantora entrou em estúdio, “foi ela quem ditou as regras”.
Sem grande surpresa, mas com genuína emoção, a noite fechou com “Alive & Kicking”. A tradução de um concerto acústico é, para os Simple Minds, algo que extravasa a ideia de uma sala coberta de luzes de velas. É uma noite a transbordar de energia, em que se percebe que eles gostam mesmo do que fazem e principalmente do contacto com o público. O concerto teve lugar no Coliseu, mas o ambiente que se sentiu era mais próximo da euforia de estádio.