O Sintra Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo apresenta a exposição Índia – Mito, Sensualidade e Ficção, que resulta na apresentação de três grandes grupos temáticos, com génese a cultura indiana.
O primeiro grupo expositivo corresponde a uma fotobiografia de Mahatma Gandhi intitulada “A minha vida é a minha mensagem”.
A exposição inédita gira em torno da figura do líder indiano, apresentando cerca de 60 fotografias, escolhidas entre 25 mil, que compõem os arquivos mais importantes sobre aquele que é considerado o “pai” da nação indiana. A mostra percorre a sua vida pública e privada do Nobel da Paz, desde os sete anos.
Um segundo grupo expositivo apresenta a modernidade indiana através da história de uma família índiana de artistas, que se distingue pelas suas técnicas, em áreas como a pintura a óleo e a fotografia.
A exposição pode ser visitada até 11 de Abril, de terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00. Com entradas gratuitas aos domingos, das 10h00 às 14h00, nos restantes dias o valor da entrada é de três euros (com 50% desconto para estudantes e maiores de 65 anos). A entrada para escolas e crianças até aos 10 anos também é gratuita.
Por Cristina Alves Imagens gentilmente cedidas por Sintra Museu de Arte Moderna – Colecção Berardo
A ERA DOS MUSEUS
Os museus como diria Walter Benjamim “espaços que suscitam sonhos” e
as atividades museológicas, nos últimos anos, passaram por
transformações conceituais, ganharam importância e complexidade,
entraram no século XXI como a instituição cultural, por excelência, da
cidade contemporânea. Nos grandes centros urbanos do mundo, aquele
lugar ocupado pela igreja, desejado pelo teatro há algum tempo atrás,
é hoje disputado pelo museu. Criou-se uma cultura de consumo do museu,
paralelo ao retorno de um desejo reprimido de ocupar o antigo centro
da cidade, abandonado pela sua incompatibilidade com determinado
modelo de publicidade de consumo do espaço urbano.
O consumo e sua publicidade são veículos de intermediação e
convivência social do mundo moderno com base no sistema de trocas da
economia. Os novos museus fazem uma publicidade positiva da
visibilidade cultural das cidades. São centros culturais onde o
visitante encontra pequenos bens de consumo, livraria, loja de
suvenir, café, bar, área de lazer, uma diversidade de atividades que
ativam e satisfazem o desejo do consumidor familiarizado com o paraíso
dos shoppings.
A criação de espaços museológicos, como instituições que respondem à
necessidade de exibir a produção simbólica que representa o
desenvolvimento econômico e comercial, acompanha os movimentos de
expansão urbana e de concentração do capital. Paris no século XIX foi
a capital da arte, o berço dourado das vanguardas artísticas que
encantaram a modernidade. Após a segunda guerra mundial, Nova Yorque e
o investimento americano em instituições museológicas, mais acessíveis
à guarda da memória, estimuladora de novidades e formação de coleções,
entre outras iniciativas, assumiu a liderança de centro mundial da
arte contemporânea.
Em vários aspectos, os museus vêm contribuindo para a revitalização do
centro da cidade e o desenvolvimento da sociedade, como um espaço de
inclusão social e estimulador do exercício da cidadania. Em centros
urbanos mais desenvolvidos as visitas aos museus são atividades
rotineiras que fazem parte de uma política de educação e
entretenimento, presente até nos roteiros de viagens das companhias de
turismo. Em países do primeiro mundo houve, recentemente, um
crescimento, ou melhor, um surto de criação de museus como um bem
cultural integrado na vida da cidade capaz de contribuir com a
melhoria da imagem e do uso da área onde está inserido.
Na paisagem urbana, os museus se destacam como instituições
facilitadoras do desenvolvimento cultural e educacional, um espaço
privilegiado de produção e reprodução de conhecimento a serviço do
pensamento crítico da sociedade e sua história. Sua localização na
malha urbana é fundamental para permitir a liberdade de acesso do
público consumidor de arte, cultura e lazer.
Pelo menos em teoria, os objetivos dos museus contemplam educação,
entretenimento, informação e inclusão social. Os objetos expostos num
museu permitem ao público apreender e vivenciar experiências não
somente intelectuais como também emocionais. Alocados em prédios
apropriados para as funções que exercem, a arquitetura e as novas
tecnologias disponíveis evoluíram nos últimos trinta anos. Para cada
tipologia de acervo, equipamentos e projetos específicos de
mobiliário, climatização e iluminação determinam a situação física e
ambiental desses empreendimentos museográficos. Condições técnicas que
satisfazem às demandas de guarda e exibição de objetos que integram um
acervo foram desenvolvidas, pressionados pela nova ciência
museológica.
Decorrentes de todas essas transformações do conceito de museu e
consequentemente sua visibilidade, suas atividades culturais exercem
importante papel na economia e na credibilidade da imagem de uma
cidade. Muito mais do que um lugar de acondicionamento e exposição de
coisas e objetos de valor histórico, artístico, cultural, religioso e
também comercial, é função dessa instituição divulgar ou democratizar
conhecimentos à sociedade.
Além da importância no sistema cultural, os museus estão inseridos com
sua arquitetura imponente na paisagem da cidade e passou a ser um
referencial do entorno. No Brasil, se destacam dois exemplos
internacionais da arquitetura moderna de museus, o edifício do Museu
de Arte de São Paulo, projetado pela arquiteta Lina Bo Bardi e
edifício do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, projeto do
arquiteto Afonso Eduardo Reidy. Além de marcos da arquitetura moderna
brasileira, projetados na década de 1950, eles interagem com o entorno
e a comunidade. A relação com o espaço em que está inserido seu
significado simbólico para a população são questões que ultrapassam o
discurso arquitetônico e mostram a dimensão pública da arquitetura de
museus na contemporaneidade.
Na Bahia, praticamente não se investiu na edificação de museus, estes
estão alocados em edificações adaptadas. Um desafio cada vez mais
difícil de enfrentar, com as recentes exigências da museologia, o de
conciliar a arquitetura histórica com a intervenção interna, mesclar a
preservação do antigo com as exigências contemporâneas indispensáveis
à instalação de um museu. E sem uma política pública que provoque
demandas sociais efetivas de mais acesso aos bens culturais, os museus
baianos, mesmo os que dispõem de instalações razoáveis, padecem da
falta de interesse do público e os recursos indispensáveis para sua
manutenção dependem de tráfego de influências e favores. Aliás, esse é
um problema que faz parte do cotidiano dos grandes museus brasileiros.
Almandrade
(artista plástico, poeta e arquiteto)