A vigésima edição do Super Bock Super Rock arrancou ontem. Com uma mão cheia de boas atuações por parte de bandas como Metronomy, Tame Impala e Massive Attack, quinta-feira contou com 29 mil pessoas, número distante de algumas enchentes em anos anteriores.
Faltam dez minutos para as vinte horas quando Erlend Øye sobe ao palco EDP. Do distante palco principal ouvem-se ainda ecos dos norte-americanos Vintage Trouble, donos de um rock em tons de soul-funk, direto e sem truques de maior, que satisfaz com mérito um grupo diminuto de festivaleiros de fim de tarde. Já Erlend Øye apresenta-se com atitude descontraída, mais dedicada ao divertimento do público do que à performance musical em si. Ao longo do concerto, o músico (quase sempre acompanhado de guitarrista e flautista) apresenta alguns dos temas do seu percurso a solo, que misturam sonoridades folk reminiscentes do duo Kings of Convenience com tonalidades mais coloridas decorrentes da sua nova “identidade” italiana (de acordo com o próprio, Erlend mudou-se há dois anos para a Sicília). Pelo meio há tempo para conselhos inconsequentes sobre como compreender mulheres ou que cerveja escolher no festival. A atuação termina num registo pouco sentido do belo tema “La Prima State”, “cartão-de-visita” da carreira do artista a solo.
Rumo ao palco principal, as batidas por minuto aumentam consideravelmente com Metronomy, cujo aparato só por si é convincente: nuvens cor-de-rosa a lembrar vagamente a capa do mais recente álbum (“Love Letters”), indumentárias brancas e teclados a condizer. A sonoridade de Metronomy convida a momentos de diversão e aos saltos dos espectadores (fica na memória a execução de “The Look”, do aclamado álbum “The English Riviera”), entrecortados com temas mais lentos mas igualmente bem conseguidos, tais como “The Upsetter” e “Month on Sundays”.
Massive Attack, conduzidos pelos já veteranos Robert Del Naja e Daddy G, contam com a ajuda preciosa dos habituais convidados da banda: Horace Andy, Martina Topley-Bird, Deborah Miller. Juntos interpretam, para satisfação notória da plateia, temas da praxe como “Unfinished Sympathy”, “Teardrop”, “Angel” e “Safe From Harm” e tantas outras faixas que, em conjunto com os elementos visuais, tornam todo o concerto numa experiência hipnótica e gratificante. No painel eletrónico que serve de fundo à banda, o público é presenteado com uma sequência avassaladora de animações que deixam alertas sobre os efeitos do capitalismo, da guerra e da partilha de informação online. De resto, os elementos visuais traduzidos para realidade nacional mostram um trabalho de casa capaz de captar o público para as mensagens transmitidas: frases em português, cabeçalhos de notícias regionais (“Sanitas e bidés dão música em Leiria”; “Garota de Ipanema afinal era do Alentejo”), logotipos de marcas nacionais.
A noite continua ainda com Panda Bear, um ícone do indie experimental norte-americano bem habituado às andanças nacionais (vive há uns anos em Lisboa). Perante escassas dezenas de seguidores fiéis e outros tantos passageiros curiosos, Panda Bear usa o palco EDP como laboratório para temas novos (ou para um único tema contínuo ao longo de toda a actuação?). O músico joga com elementos electrónicos e espaciais, acompanhados por voz (tão consistente que parece playback) e animações que conjugam padrões psicadélicos como animações femininas