Casa cheia, na passada sexta-feira, para assistir à primeira estreia do ano da Companhia de Teatro de Almada. Tartufo, de Molière, a peça que chegou a ter as apresentações públicas proibidas é hoje em dia recebido com fortes gargalhadas. Texto rico, representado de acordo com a sua construção original, exige alguma concentração para acompanhar a linguagem arcaica. Mas entrando na cadência, revela-se bastante divertida na forma como ironiza fragilidades humanas, como os falsos devotos ou a ascensão social com recurso à hipocrisia. Algumas reflexões sobre as relações de (in)fidelidade entre marido e mulher provocam a reação do público que se mostra, nos dias que correm, bastante recetivo a duas horas de comédia do século XVII.
Tartufo é acolhido na casa de Orgon, onde se instala como rei e senhor. Aparenta uma devoção extrema, tornando-se guia espiritual das almas da família. A sua crença, porém, não é sincera: constitui apenas um expediente para satisfazer as suas pretensões de poder, riqueza e volúpia. Há quem se iluda com tamanho virtuosismo, mas os mais atentos apercebem-se das suas reais intenções e, quando Marianne, filha de Orgon, lhe é prometida em casamento, a necessidade de desmascarar o impostor impõe-se.
É a terceira vez que Rogério de Carvalho dirige Tartufo, uma das obras mais importantes do dramaturgo francês. A peça estreou em Paris em 1664. Embora tenha agradado ao público e ao rei, a oposição da Igreja Católica e da Companhia do Santo Sacramento foi imediata e contundente: o arcebispo de Paris chegou a ameaçar com a excomunhão todos aqueles que vissem, representassem ou lessem o texto. Só voltou a ser apresentada publicamente em 1669, em resultado do apreço de Luís XIV pela peça. Tartufo continua a ser representado por todo o mundo, em sinal inequívoco da sua atualidade.
Integram o elenco Alexandre Pieroni Calado, Ana Cris, André Gomes, Catarina Reis, Celestino Silva, João Farraia, Maria Frade, Marques D’Arede, Miguel Eloy, Pedro Walter, Teresa Gafeira e Teresa Mónica.
Tartufo pode ser visto na sala principal do Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada, até ao dia 30 de março. Há sessões de quarta-feira a sábado às 21h30 e domingo às 16h00. Os bilhetes custam 13 euros.
Imagens de Rui Carlos Mateus, cedidas pela Companhia de Teatro de Almada