O Teatro Aberto estreia, esta sexta-feira, O Preço de Arthur Miller. João Lourenço admite fechar as portas no final do ano “se as coisas não mudarem”.
O encenador admite que a falta de apoios e os resultados da aferição da Direção-Geral das Artes, não lhe permitem continuar a apresentar uma programação de qualidade. Ironia amarga que os apanhou durante os ensaios desta peça.
A crise que agora ensombra a sociedade portuguesa era já uma realidade em 1968, ano em que Miller estreou esta peça. João Lourenço escolheu-a pelo caracter de modernidade que nela encontrou e por considerar que é “uma pequena joia” no forte legado do autor. “Nunca percebi porque é que não teve grande sucesso” confessou.
A história desenrola-se em Nova Iorque na ressaca do crash da bolsa. Dois irmãos voltam a encontrar-se, dezasseis anos depois da morte do pai, para desocuparem a casa que deixaram intacta ao longo de todos aqueles anos. Um velho avaliador vem dar-lhes um preço pelos móveis e objetos de que se querem desfazer. No entanto, a transação não é tão simples como imaginaram: todas aquelas coisas fazem parte da história da família, estão repletas de memórias e obrigam-nos a confrontarem-se com o passado e com as escolhas que fizeram na vida.
As emoções em constante turbilhão e as desavenças familiares são temas quentes aqui. Tudo tem um preço mas será que os bens estão desprovidos do valor emocional que carregam? Podem ser convertidos em valores monetários? Qual o preço de uma peça de mobiliário que tantas alegrias viveu? Tem preço?
E qual o preço que estamos dispostos a pagar pelas nossas ambições e pelos nossos desejos?
A memória e as partidas que esta nos prega, a aldrabice que para uns é verdade absoluta, para outros uma questão de sobrevivência, são temas que cruzam nesta peça. Assuntos que podem incomodar, por estarem demasiado próximos dos nossos sentimentos. Todos os patamares que atingimos na nossa vida tiveram o seu custo. “Todos nós caímos dentro destes dois irmãos” remata João Lourenço.
O papel dos irmãos ficou a cargo de António Fonseca e Marco Delgado. São José Correia é a esposa de um dos irmãos e João Perry ficou com Salomão, na opinião do encenador, “um personagem fora de série” e com características únicas no universo de Artur Miller.
O Preço de Artur Miller estreia esta sexta-feira no Teatro Aberto numa versão de João Lourenço e Vera San Payo de Lemos. Há espetáculos de quarta-feira a sábado às 21h30 e domingos às 16h00. Os bilhetes, à venda nos locais habituais, custam 15 euros. Os jovens, até aos 25 anos, pagam 7,50 euros e a partir de 65 anos o valor dos bilhetes é de 12 euros.