Depois de ter esgotado a MEO Arena, em abril, Hans Zimmer encheu a sala lisboeta com uma nova versão de The World of Hans Zimmer. A New Dimension volta a conduzir-nos através dos grandes sucessos que marcaram a carreira do compositor germânico, sendo que Zimmer é o responsável pela curadoria do espetáculo, cabendo ao Maestro Matt Dunkley dirigir uma orquestra composta por cerca de sete dezenas de músicos.
As partituras de Hans Zimmer deram cor a inúmeros sucessos cinematográficos, valendo-lhe dois prémios Óscar, mas é a experiência visual e sonora que criou, repleta de animação e emoção – que tem levado a todo o mundo – que mais tem fascinado o público. E esta noite não foi diferente.
Apesar de ausente, o artista não deixa de estar presente. É ele quem nos dá as boas-vindas, através de uma tela gigante, montada a toda a largura do palco.
A nossa viagem começa em 2013, ao som de “Man of Steel“, o Homem de Ferro, película dirigida por Zack Snyder, mas rapidamente recuamos até 1989, para escutar “Driving Miss Daisy“, seguindo-se “The Rock“, de 1996, tema que ilustra a aventura protagonizada por Sean Connery e Nicolas Cage, na Ilha de Alcatraz.
Ao longo do percurso, e para que a banda possa respirar, Zimmer vai contando algumas histórias de bastidores. Porque escolheu determinada composição para incluir no alinhamento, ou como surgiu o convite para escrever a banda sonora de cada um dos filmes em que participou. Através da tela, escutamos as palavras do músico, mas também os diálogos que promoveu com alguns amigos, como é o caso de Jerry Bruckheimer, produtor de The Rock, mas também da obra que se segue, Pearl Harbor, filme que recorda um dos episódios marcantes da II Guerra Mundial.
Entretanto, regressamos à onda dos super-heróis, com Dark Knight, a história do incontornável Batman, e seguimos na companhia de James Bond, enquanto No Time to Die inunda todos os cantos da MEO Arena. Pelo meio, a bateria de Lucy Landymore e a percussão de Luís Ribeiro oferecem-nos belos solos, devidamente exaltados pela plateia e pelo Maestro Matt Dunkley. Ele que substitui Zimmer, em alguns interlúdios, apresentando os músicos que preenchem o palco e dirigindo-se aos espectadores com um respeitável e muy lusitano “senhoras e senhores”.
“Now, let’s go back to roman times”, avisa-nos o Maestro. Até à época de Maximus Decimus Meridius, personagem representada por Russel Crowe que, depois de liderar o exército romano à vitória contra as tribos germânicas, acaba no Coliseu de Roma, como gladiador. Do início ao fim da música, acompanhamos a jornada do general, do assassinato da sua esposa e filho até às areias da arena onde encontra a paz e a absolvição. Labaredas emanam do palco e as cantoras Gan-ya Ben-gur Akselrod e Carla Chamoun dão brilho ao tema de “Gladiator“, num dos momentos mais aplaudidos da noite. Interstellar encerra a primeira parte do espetáculo.
Depois do intervalo, voltamos a escutar Hans Zimmer, que nos introduz “Wonder Woman“, peça retirada da fita sobre a Mulher Maravilha, de 1984. Nesta música, para além do incrível trabalho de percussão, somos convidados a embarcar nas ondas sonoras provocadas pela guitarra elétrica de Amir John Haddad. “Now, we are going from a Wonder Woman to a Wonder Panda!”, anuncia, Zimmer, de onde quer que estivesse. E ficamos na companhia da melodia que narra as peripécias do Kung Fu Panda, temperada pela flauta de Saulius Petreikis e pela guitarra japonesa tocada por Haddad.
Seguimos com o detetive Sherlock Holmes e Discombobulate, enquanto violino, guitarra, banjo, baixo e violoncelo dançam em torno do Maestro, mas não sem que, antes, ouvíssemos o diálogo entre o nosso anfitrião e o realizador Guy Ritchie. A responsável pelas teclas, Eliane Correa, aos comandos do acordeão, pede palmas e o público responde, juntando as suas mãos à orquestra, no tempo certo. No final, a ovação é apoteótica, incentivada pelo poder da música e pelo entusiasmo de quem ocupa o palco.
Passamos por Dune e The Prince of Egypt, sendo que, sobre este último, Zimmer diz amar o filme, já que era fascinado pelo Antigo Egito, enquanto adolescente, e desaguamos no sul do continente africano, para escutar The Power of One e The Lion King, músicas que contaram com a participação do Nairobi Chambers Chorus, grupo queniano que animou as hostes, não apenas com o seu poder vocal, mas também com as suas danças e fatos coloridos. Durante a performance de O Rei Leão, os cantores Futurelove Sibanda e Lindiwe Mkhize surgiram no meio da plateia, surpreendendo a audiência, mas, sobretudo, fascinando os presentes com o seu timbre e teatralidade.
Estamos perto do epílogo, quando o Maestro Matt Dunkley apresenta cada um dos músicos presentes em palco, incluindo a Odessa Orchestra and Friends, a violinista Berfin Aksu, a percussionista Angela Wai Nok Hui, o baixista Dave Marks e o violoncelista Timothée Berte-Renou. Depois, é Futurelove quem apresenta o próprio Dunkley, o homem da batuta, a quem coube a responsabilidade de dirigir um espetáculo que conquistou todos aqueles que esgotaram a maior sala do país.
Depois dos créditos, ainda há tempo para o encore. Primeiro, ouvimos “Time“, extraído de Inception, película dirigida por Christopher Nolan. Zimmer junta-se à orquestra, à distância, e as notas que exalam do seu piano servem como catalisador para a plateia, que acende as luzes dos seus telemóveis e ajuda a enfeitar o momento. Seguem-se os agradecimentos ao público presente, “do fundo do coração”, e um último diálogo entre Hans Zimmer e o Maestro Matt Dunkley. Meditam sobre que canções ainda não tocaram. A escolha do compositor recai sobre uma das suas personagens favoritas, o Capitão Jack Sparrow e o filme “Pirates of the Caribbean“. A avaliar pela reação do público, também eles ansiavam por embarcar no “Black Pearl”, sob as ordens do pirata protagonizado por Johnny Depp. E foi isso que fizeram, rumo a um território com estranhas, porém belas, marés. O Mundo de Hans Zimmer.
Quem não teve oportunidade de assistir a esta memorável experiência, terá uma nova oportunidade em 2026. Hanz Zimmer Live – The Next Level, agendado para o dia 31 de março de 2026. A nova produção promete levar a grandiosidade da música de Zimmer ainda mais além, com novos arranjos, performances de músicos de classe mundial e a mesma imersão visual e sonora que tem conquistado plateias por todo o mundo. Será, sem dúvida, mais uma celebração imperdível da carreira de um dos maiores compositores da atualidade.