O Teatro Nacional D. Maria II apresenta, em estreia absoluta, Onde Estavas Quando Criei o Mundo? um monodrama sobre o polémico tema do filicídio, da autoria de Artur Ribeiro, com encenação de João Mota e Manuela Couto como actriz. Uma produção do TNDM II estará em cena de 12 de abril a 13 de maio.
Uma mulher defende-se em tribunal, após ter despedido o seu advogado oficial, iniciando as suas alegações finais com o propósito de explicar o seu crime. Embora não seja claro de início as circunstâncias do crime pelo qual a mulher responde, ato mais hediondo não parece haver: a ré é acusada de filicídio. O que leva uma mãe a este ato extremo? E como explicá-lo? “Eu nunca quis ter filhos. Eu sei que isto é chocante vindo de uma mulher – a senhora juíza é mulher, provavelmente tem filhos, ou se não tem, gostaria de ter – e eu sei que pode não parecer grande ideia começar as minhas alegações com esta afirmação (…)”. Com a progressão da peça, que se divide entre as últimas declarações da mãe/arguida para o tribunal e, em jeito de flashback, os momentos que antecederam o ato pelo qual está a responder, percebemos que a morte do filho poderá ter sido um ato de piedade devido ao sofrimento deste numa circunstância em que a eutanásia não é legal ou aceitável. O público será colocado no papel tanto de juiz como de confessor, ao seguir o texto que pretende abordar as racionalizações por detrás de actos extremos e as suas apologias – desde o livro de Jó e a historia de Isaac na Bíblia, aos factores sociais e familiares que são comuns universalmente – numa montanha russa de emoções misturadas com questões pertinentes sobre religião, matrimónio, maternidade, morte, desenvolvidas no tom ligeiramente esquizofrénico da personagem principal, entre o erudito e o popular.
Onde Estavas Quando Criei o Mundo? na Sala Estúdio Estúdio, de quarta a sábado, às 21h15 e domingos às 16h15.
Texto de Clara Inácio Foto gentilmente cedida pela produção