Chama-se Cordel, e tem encenação de José Carretas e foi o espectáculo escolhido para abrir a rentrée do TNSJ, que teve início ontem.
Cordel “reinventa a forma de literatura popular conhecida como literatura de cordel, que remonta ao século XVII e deve o seu nome à guita em que, nas feiras e romarias, se expunham folhas volantes de impressão rudimentar, difundindo factos históricos, versos, cenas de teatro, anedotas ou contos tradicionais”.
Com texto da autoria de José Carretas e Amélia Lopes, a peça apresenta “histórias inesperadas, que mostram mulheres que, no seu tempo, excederam a regra, e não cumpriram o seu papel habitual”, narrada pela voz do Corcundinha da Cartola.
A Sábia Donzela Teodora
Donzela Teodora, doutora entre doutores, mulher altiva e cultivada que falava sete línguas, dominava a geometria e a filosofia. Venceu duelos de sabedoria com os maiores sábios do seu tempo, contando com elegância histórias da História.
Antónia Rodrigues, a “Cavaleira portuguesa”
Antónia Rodrigues: “Cavaleira portuguesa”, que aos 15 anos fugiu de Lisboa disfarçada de marinheiro e combateu em Mazagão, praça-forte portuguesa, com tal coragem e denodo e valentia que foi armada cavaleiro, ganhando a alcunha de “terror dos mouros”. Mais tarde foi descoberta a sua verdadeira identidade, para espanto geral de todos e até de Filipe III de Espanha II de Portugal, que a recebeu no paço e lhe concedeu uma tença de dez mil réis anuais e uma fanga de farinha por mês.
Claudiana Natividade, condenada “por ser homem, e não mulher”
Soror Claudiana Natividade, noviça que professou no Convento de Santa Cruz de Vila Viçosa. Até aos 20 anos nunca levantou dúvidas sobre a sua condição de mulher, até ser exposta perante todas, mostrando-se envergonhada com a sua anatomia, pedindo remédio para a alma, e sendo condenada por Frei Jorge Sande, Provincial da Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho, a abandonar em duas horas a casa que fora sua. A sentença acabaria por ser revogada por juízes delegados do Santo Papa que mandaram recolher outra vez a religiosa, a qual se dedicou de alma e coração às práticas místicas em que santamente terminou a vida.
Luísa de Jesus, a última mulher em Portugal a ser executada
Luísa de Jesus foi a última mulher em Portugal a ser executada de morte, garroteada e queimada publicamente, com ambas as mãos cortadas em vida – um facto inédito para as execuções de mulheres. A condenação aconteceu após se descobrir, para choque da população, que Luísa de Jesus recolhia crianças abandonadas na Roda dos Enjeitados em Coimbra, para se apoderar do enxoval e receber os 600 réis atribuídos à ama.
Henriqueta Emília da Conceição, a Luta Contra o Preconceito
Henriqueta Emília da Conceição, mulher que levava uma vida dissoluta de vícios e crimes no Porto oitocentista, chegando a ser capitoa de uma quadrilha de ladrões malfeitores. Apaixonou-se, dizem que à primeira vista, por Teresa Maria de Jesus, que acabaria por falecer vítima de tísica. Henriqueta, durante o processo de transladação, acabou por decapitar o corpo da amada, guardando a sua cabeça numa redoma que tinha junto da cama. O caso tornou-se público e foi levado a tribunal com o juiz a optar pela absolvição por considerar que “não é profanar amar com tal paixão”.
Em palco, a dar vida à sábia Donzela Teodora, à heróica Antónia Rodrigues, à mística Claudiana Natividade, à sanguinária Luísa de Jesus e à apaixonada Henriqueta Emília da Conceição vão estar Beatriz Wellenkamp Carretas, Emílio Gomes, Joana Carvalho, Leonor Wellenkamp Carretas, Margarida Carvalho, Teresa Faria (atores); e ainda Tiago Candal, João Guimarães, Manuel Brásio (músicos).
Cordel vai estar em cena no TNSJ no Porto, até 25 de setembro, e é uma coprodução entre Panmixia e TNSJ, e pode ser visto à quarta-feira, às 19h00, de quinta-feira a sábado, às 21h00, e no domingo, às 16h00. O preço dos bilhetes varia entre os 7,50 e os 16 euros e podem ser adquiridos online e no local.
Para além de Cordel integram a programação até dezembro as peças Os Últimos Dias da Humanidade, de Karl Kraus, numa encenação conjunta de Nuno Carinhas e Nuno M Cardoso, e vai abordar os “fantasmas” da Primeira Guerra Mundial, num período em que assinala o seu centenário, e reúne um elenco de mais de duas dezenas de atores.
Dia 29 de setembro estreia no Teatro Carlos Alberto (TeCA), a nova criação dos Palmilha Dentada, com a apresentação de Bácoro, numa encenação de Ricardo Alves.
No âmbito do Dia Mundial da Música decorre nos dias 30 de setembro e 1 de outubro a primeira apresentação do espetáculo Cinco Formas de Morrer – da autoria da soprano Catarina Molder e cuja direção cénica fica a cargo de Lígia Roque –, que conjuga sonoridades tão diversas como a ópera de Shostakovich e o pop dos Clã.
A 21 de outubro, estreia no TeCA O Bem, o Mal e o Assim-Assim, de Gonçalo M. Tavares, e em novembro, Jacinto Lucas Pires apresenta no TeCA de 9 a 13, Henrique IV, Parte 3. A dança também regressa aoTNSJ a 8 de dezembro, com a estreia de Climas, da companhia Circolando, concebido por André Braga e Cláudia Figueiredo.
Em outubro, o TNSJ mantém a longa parceria com o Festival Internacional de Marionetas do Porto, acolhendo o espetáculo Pulling Strings, da artista plástica, coreógrafa e performer Eva Meyer-Keller, em cena nos dias 15 e 16, e Cabaret Berlinn, um solo do alemão Peter Waschinsky, nos dias 19 e 21. Os espetáculos decorrem no Mosteiro de São Bento da Vitória (MSBV).
Já em novembro, o Teatro da Rainha ocupa o Mosteiro de São Bento da Vitória, com a Maratona de Formas Breves, que decorre de 2 a 18 de novembro. Do programa constam três espetáculos: Morte de um DJ, de Jean-Pierre Sarrazac; Dramatículos 2, de Samuel Beckett; e Pensa, Logo Sangra, que contempla textos de Álvaro Garcia de Zúñiga, Joseph Danan e Gregory Motton. A maratona integra ainda uma oficina de escrita, com Jean-Pierre Sarrazac, Alexandra Moreira da Silva e Joseph Danan, e duas sessões de leitura.
Os bilhetes estão à venda nos locais e online.