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Carlos do Carmo Partilhou 50 Anos de Carreira Com Dois Concertos Esgotados no CCB

No primeiro dos dois concertos agendados para o Grande Auditório do Centro Cultural de Belém (CCB), às nove da noite, já a plateia, camarotes e galerias estavam preenchidos por todos aqueles que quiseram homenagear o fadista nos seus 50 anos de carreira.

Por detrás de uma tela negra, com luzes de triângulos azuis projetados, vêem-se entrar os elementos da Orquestra Sinfónica Portuguesa, que vão ocupando os seus lugares. A voz off do CCB deseja um óptimo espetáculo e entra o trio de músicos, a quem Carlos do Carmo viria a chamar de três pérolas, entre os primeiros aplausos. Sobre fortes aplausos, Carlos do Carmo apresenta-se, distribui sorrisos, beijos atirados da mão e abraça-se em agradecimento.

Depois do “Vim para o Fado (e fiquei)” e “Nasceu assim, cresceu assim”, as primeiras palavras:

“Boa noite a todos. Eu normalmente tenho jeito para falar, mas quero dizer-vos o seguinte: Estou tão tolhido, tão tolhido pela emoção que não sei o que vos vou dizer. Nestes 50 anos, as pessoas têm sido tão boas comigo… Tenho que agradecer aos presentes aqui hoje, agradecer aos que esgotaram o concerto de amanhã…. Promete que, enquanto o conseguir com dignidade, irei cantar o fado: Porque é muito bom ser Português e é muito bom cantar o fado. Tenho dito.”

Apresenta as três pérolas: Na guitarra de fado: José Manuel Neto; na viola de fado: Carlos Manuel Proença; no baixo: José Marino Freitas, que o voltam a acompanhar na “Júlia fadista”.

A Orquestra Sinfónica Portuguesa (OSP), dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo, recebe aplausos depois de acompanhar o trio de cordas nas “Duas Gotas de Orvalho”.

Antonio Serrano, músico espanhol especialista em harmónica e colaborador habitual de Paco de Lucía, chega ao palco. Cumprimentam-se com dois beijos. Carlos do Carmo brinca: “Não tenham medo q isto não se pega!”  Além do “Fado de ultramar”, o som único da harmónica voltaria a acompanhá-lo em mais três interpretações.

Quando é colocada uma cadeira em palco, Carlos do Carmo anuncia o seu rei: José Maria Nóbrega. “O senhor que acompanhou [na viola] 45 dos meus 50 anos de carreira, com uma dedicação, um rigor, uma amizade… Tocámos e cantámos juntos durante anos. Nele, eu homenageio e agradeço todos os músicos que me acompanharam nestes 50 anos!”

O “Cacilheiro”, novamente com a OSP, enche a sala de boas energias. Na interpretação do poema açoriano “O Sol” com Carlos Manuel Proença e António Serrano – a única canção não é fado – relembra, com saudade, que gravou este tema com o amigo genial, genial: Bernardo Sasseti.

Recorda também, em homenagem, a mãe, para quem envia um beijo [para o céu], contando que “Olhos marotos” era o fado que ele e o pai gostavam mais.

É surpreendido quando uma delegação da editora vem celebrar dois momentos especiais: o disco de ouro do seu recente “Fado é amor” (em menos de 3 semanas) e o disco comemorativo dos 50 anos de carreira. A sua mulher – Maria Judite  – também é presenteada por lhe fazer companhia em 49 dos 50 de carreira.

O concerto prossegue com a referência ao fado gravado em 1968 que correspondeu ao sonho da vida de gravar um disco com a Philips, numa esplendorosa interpretação com a OSP do “Por morrer uma andorinha”.

Houve também humor: Enquanto limpava a testa com uma toalha, dirigiu uma palavra rápida para o médico vigilante para sinalizar que era apenas uma pequena transpiração. Quase no final, voltou a brincar, mas querendo passar o agradecimento de, graças ao seu médico, estar vivo há 13 anos e meio: “Ai Doutor, se não estivesse aqui, eu estava era a beber um whiskyzinho…”

O “Homem na cidade” foi escrito em 1976 por um amigo que escreveu a maior parte dos fados que canta que saúda sempre: José Carlos Ary dos Santos:  Nele, eu abraço todos os poetas. Foram 8 que podiam ter sido 80 anos. Fizémos 32 fados. É inesquecível.”

Depois do “Fado Penélope”, partilhou os êxitos com o público chamando-os para entoar o refrão do Bairro Alto: “Trovas antigas, saudades loucas/ são as cantigas a andar de boca em boca/ tristes bizarras em comunhão/andam guitarras a gemer de mão em mão”.

Sem surpresas, a Canoa do Tejo foi um momento sublime, entre a doçura do som da Orquestra e das vozes contidas do público que cantava o refrão.

Uma saudação para todos os autores na invocação de Fernando Pinto do Amaral com o “Vou Contigo, coração (bailado)” – o seu primeiro sucesso original: “Nele, eu saúdo todos os autores que contribuem com originais”.

Encerraria com um brilhante “Lisboa menina e moça” em que as últimas estrofes eram cantadas pelo público. Muitas palmas! Grita-se Bravo!, O público de pé. Carlos do Carmo faz vénia, atira beijos e abraça-se.

O primeiro encore susteve a respiração dos presentes, quando com o trio de cordas suave, entoou sem microfone o “Fado Cravo” revelando ainda melhor aquele timbre que é só seu.

Um sem número de “muito obrigado” não demoveu o publico de pé. Palavras sentidas e agradecimentos dirigidos a toda a equipa técnica, à equipa do CCB, à maravilhosa OSP dirigida pelo Maestro Vasco Pearce de Azevedo e por fim:

“Obrigado por serem tão generosos comigo e o que hei-de eu dizer mais? Não digo mais nada: Se uma gaivota vieeeesse……..”.

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