Está marcada para dia 20 de setembro de 2024 a tão esperada reabertura do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, com várias exposições e um programa de artes performativas.
Após quatro anos de profundas remodelações, o edifício surge agora transformado à luz do projeto do arquiteto japonês Kengo Kuma, enquadrado pelo “magnífico” jardim aberto à cidade, redesenhado pelo paisagista Vladimir Djurovic.
Destinado a albergar a coleção da Gulbenkian de arte moderna e contemporânea portuguesa, além de obras de artistas internacionais (quase 12 mil obras de arte no total), o novo edifício surge inspirado na arquitetura tradicional japonesa, mais especificamente no conceito de Engawa, “espaço de interação entre interior e exterior.”
O Engawa e a forma como se traduz no edifício, com as suas linhas orgânicas e o envolvimento da natureza, inspiraram o ateliê de design A Practice for Everyday Life a desenvolver a nova identidade visual do CAM.
Na sequência da aquisição de dois hectares de terreno para alargar o espaço da Fundação Calouste Gulbenkian para sul, o projeto de renovação cria uma nova zona de entrada na Fundação, alterando o acesso ao edifício do CAM, que passa a fazer-se através de um novo jardim e de uma entrada pela Rua Marquês de Fronteira.
Kengo Kuma reimaginou completamente o anterior edifício de betão, da autoria do arquiteto britânico Leslie Martin (aberto em 1983), aumentando a sua transparência para sul e acrescentando-lhe uma pala de 100 metros de comprimento inspirada no conceito Engawa, com uma cobertura de grandes telhas de cerâmica brancas. O átrio transparente liga visualmente o novo jardim ao resto do espaço da Fundação. Uma nova galeria de 1000 m2 acolherá exposições da coleção do CAM, estando ladeada por uma Sala de Desenho dedicada à apresentação da sua extensa coleção de obras sobre papel.
Sobre a sua visão para o CAM, Kengo Kuma afirma “Criámos uma fusão perfeita, onde a arquitetura e o jardim dialogam em harmonia. Inspirados pela essência do Engawa, abrimos uma nova relação com o exterior, convidando os visitantes a abrandar e a fazer deste espaço o seu próprio espaço. A ideia de suavidade e transição estende-se ao interior do CAM, onde desenhámos novos espaços, replicando a ligação do edifício ao jardim e à luz exterior.”
Kengo Kuma trabalhou em colaboração com Vladimir Djurovic, de modo a integrar arquitetura e natureza. A proposta de Vladimir Djurovic para o Jardim Sul desenvolve a visão dos arquitetos portugueses Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto para o jardim preexistente, no sentido de reflorestar os terrenos com vegetação autóctone.
Os destaques do programa de abertura incluem uma exposição da artista portuguesa radicada em Berlim, Leonor Antunes, em diálogo com obras de artistas mulheres na coleção do CAM, maioritariamente dos anos de 1960 até à atualidade. O programa incluirá ainda uma exposição de Fernando Lemos, que mostrará a relação da sua obra com o Japão, bem como a exposição da coleção do CAM e uma programação de artes performativas com a duração de três dias.
Benjamin Weil, diretor do Centro de Arte Moderna Gulbenkian, adiantou que: “O CAM está de volta! É uma nova instituição, com 40 anos de história e uma extensa coleção: um lugar onde assenta o futuro. Queremos ser um interface entre os projetos artísticos mais ousados e um público diversificado. Sendo os jardins da Fundação Calouste Gulbenkian um local muito procurado, concebemos o CAM como um lugar onde as pessoas podem regressar vezes sem conta e incluir a experiência da arte na sua rotina, como fazem com um passeio no parque. Ofereceremos a todos a oportunidade de fazer uma visita curta ou desfrutar de uma experiência mais prolongada. O essencial é participar. É isto que significa, para nós, estarmos centrados nos artistas e orientados para o público.”
A Galeria Principal do CAM apresentará uma exposição de Leonor Antunes, com uma instalação imersiva que responde à especificidade arquitetónica do edifício. O projeto intitulado da desigualdade constante dos dias de Leonor pretende questionar a invisibilidade das mulheres no cânone da história da arte moderna, como, por exemplo, o trabalho quase desconhecido de Sadie Speight, arquiteta e designer britânica que contribuiu para o primeiro projeto de arquitetura do CAM, concebido na década de 1980. A exposição incluirá também obras de artistas mulheres da coleção do CAM, escolhidas por Leonor Antunes, uma apresentação que dá início a uma nova forma de pensar e expor a coleção, convidando artistas para fazerem a curadoria das obras do seu acervo.
Para a inauguração, o CAM propõe Linha de Maré, que apresentará mais de 90 obras de diferentes tipologias artísticas. O conjunto de obras, a maioria das quais inspiradas pelo 25 de Abril de 1974, chega até aos dias de hoje para refletir sobre outras revoluções, incluindo as que estão relacionadas com o estado do planeta.
A exposição do artista luso-brasileiro Fernando Lemos irá explorar a sua relação com o Japão nos anos 60 do século XX, quando o artista recebeu uma bolsa da Fundação Gulbenkian para estudar caligrafia japonesa e aprender técnicas de fotografia. Os seus desenhos e fotografias serão apresentados a par de peças de outros artistas da coleção do CAM e de gravuras japonesas da Coleção do Museu Gulbenkian.
O Japão será ainda incluído no fim de semana de abertura com um variado programa de eventos que inclui performances de Ryoko Sekiguchi e Samon Takahashi, e exposições de Go Watanabe e Yasuhiro Morinaga.
O novo edifício alberga uma importante coleção em expansão que conta com quase 12 000 obras de arte, entre pinturas, esculturas, instalações, desenhos, gravuras, fotografias e vídeos/filmes de alguns dos artistas mais conceituados do país, como Helena Almeida, Paula Rego e Vieira da Silva. A coleção abarca ainda um conjunto significativo de obras de arte francesa e britânica, incluindo trabalhos de Sonia e Robert Delaunay, David Hockney e Bridget Riley.
A programação completa da inauguração pode ser vista aqui.